sexta-feira, 27 de novembro de 2009

DUBAI:PASSA DE SÍMBOLO DE EXCESSOS A AMEAÇA AO MERCADO

Se é verdadeiro o ditado de que quanto maior o gigante, maior o tombo, os mercados têm razão para se preocupar com a crise financeira em Dubai, o
mais conhecido, e até pouco tempo atrás o mais dinâmico, dos integrantes dos Emirados Árabes Unidos. Ainda não se sabe a extensão do problema comunicado na quarta-feira pela firma Dubai World. Por ora, o que há de oficial é que um bônus de US$ 3,5 bilhões que vence em dezembro terá atraso em sua quitação. Não está certo, porém, se o restante do débito de US$ 60 bilhões será honrado nas datas ou se também será reestruturado. Caso se confirme um default, será o maior desde o da Argentina, em 2001. Mas o potencial de estrago de um eventual default gigante em Dubai pode ser tão ou mais ameaçador do que o argentino. No caso do país sul-americano, uma crise econômica por anos a fio antecedeu a moratória, dando tempo a muitos investidores mais arrojados para se desfazerem dos
papéis ou pelo menos reduzirem posições. No caso agora de Dubai, os acontecimentos parecem ter sido precipitados, embora desde o agravamento da crise global no final de 2008 se soubesse das dificuldades do emirado.
Analistas com nervos mais controlados minimizam os riscos do efeito Dubai. Uma das razões de tranquilidade seria o fato de Dubai estar localizado em uma das regiões mais ricas do mundo. Apesar da opulência dos edifícios de Dubai, o mais sólido entre os Emirados Árabes Unidos, é Abu Dhabi, capital do país, que detém o maior fundo soberano do planeta, com patrimônio estimado antes da crise em mais de US$ 800 bilhões. Além do apoio de Abu Dhabi, Dubai também pode ser socorrido - acreditam os mais esperançosos do mercado - por outros vizinhos ricos em petróleo, como Arábia Saudita, Kuwait, Qatar e Bahrein. Dinheiro não há de faltar. Ainda não se sabe, contudo, até que ponto os problemas enfrentados pela Dubai World, maior firma de Dubai e protagonista do atual problema com passivos, é um fato isolado no emirado. Há outras empresas que conduziram projetos faraônicos não apenas em Dubai, mas em todos os grandes exportadores de petróleo do Oriente Médio. Ainda que o problema não se revele tão catastrófico quanto pensam os mais pessimistas, acredita-se que este espasmo da crise trará um saldo: o de forçar uma revisão do modelo de crescimento de Dubai, que vinha se tornando o maior centro de serviços, finanças, comércio e entretenimento da região do Golfo Pérsico. Com seus hotéis de seis estrelas, shoppings luxuosos e campos de golfe no meio do deserto, o emirado tornou-se recentemente uma espécie de "Disneylândia dos milionários". O problema não estava exatamente no modelo de crescimento de Dubai, que pode até ser considerado moderno e adequado a um emirado com reservas de petróleo bem menores do que seus vizinhos. O problema parecia ser a forma como o modelo era tocado, com projetos faraônicos que pareciam não ter limites e que exigiam financiamentos bilionários. De todos os projetos megalomaníacos de Dubai, o principal símbolo era o Burj Dubai Tower, o mais alto edifício do mundo, que deverá chegar a 800 metros de altura quando concluído. Trata-se de duas vezes mais do que o americano Empire State, que por décadas foi o mais alto do mundo. E mesmo antes da inauguração, o Burj já é ameaçado por um novo projeto de um prédio com mil metros, um quilômetro, de altura. Todos este projetos transformaram Dubai, com dois milhões de habitantes, do porte de Curitiba, no maior polo de construção civil do planeta. Sozinho, Dubai ocupava, segundo algumas estimativas, 30% de todos os guindastes do mundo. Desde o começo desta década, o modelo de Dubai foi impulsionado pelos juros internacionais
baixos e pelos petrodólares que irrigaram as economias do Oriente Médio. A febre imobiliária de Dubai não deixa de ser uma versão da bolha americana, mais concentrada em grandes projetos e anabolizada pelos dólares do petróleo. Foi o símbolo da prosperidade, mas também dos excessos, de uma era de abundância, e agora ameaça trazer de volta alguns dos momentos mais graves de uma crise que parecia superada ou, no mínimo, bastante atenuada.

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