sexta-feira, 26 de março de 2010

Construção embala novo ciclo de crescimento da Gerdau

Após apertar o cinto e reduzir dívida em R$ 8 bi, siderúrgica vê no aumento do crédito a saída para indústria do aço no Brasil.
De sua austera sede na Avenida dos Farrapos, outrora símbolo do vigor industrial porto-alegrense e que hoje dá espaço a um corredor de ônibus, oficinas mecânicas e comércio popular, a Gerdau traça seus planos para o futuro.
Dos escombros da crise do ano passado, que produziram uma queda na receita líquida de 36,5%, para R$ 26,5 bilhões, e redução na venda bruta de aço de 26,8%, a 13,9 milhões de toneladas, a companhia espera retomar o ciclo de crescimento, após um duro aperto no cinto, que ajudou a baixar sua dívida líquida em 45%.
"Nem o meu tio Germano (membro do conselho de administração presidido pelo irmão mais novo, Jorge Gerdau) se recorda de uma crise tão forte como a do ano passado", diz ao Brasil Econômico André Bier Gerdau Johannpeter, presidente da maior fabricante de aços longos das Américas, como costuma ressaltar em suas credenciais.
No momento em que grandes corporações do ramo siderúrgico apostam na diversificação de negócios, em áreas que vão da mineração ao cimento, os planos da Gerdau prometem seguir o mesmo tom sóbrio da reforma, feita pouco antes do início da crise, em seu escritório central, uma antiga fábrica de pregos erguida pela família em 1901. "Nosso foco está totalmente voltado para a cadeia do aço", esclarece André Gerdau.
Na entrevista a seguir, o empresário explica que, além de Copa e Olimpíadas, o que anima mesmo a siderúrgica são as boas perspectivas lançadas pela indústria da construção civil, que passou a dispor de mais crédito no país.
Como foi o processo de ajuste no caixa da empresa durante a crise e qual a sua capacidade atual de investimento?
Em setembro de 2008, a crise estava vindo e não sabíamos o quão profunda ela ia ser, então nossa meta foi gerar caixa e proteger a liquidez da empresa. Baixamos a dívida em R$ 8 bilhões, reduzimos o capital de giro em R$ 5 bilhões e cortamos ainda os custos fixos com processos industriais em R$ 2 bilhões.
A gestão financeira foi chave nesse processo. Revíamos a meta a cada mês, dois meses, pois não sabíamos a profundidade do problema. A partir de maio, quando tivemos uma dimensão melhor, começamos a nos adaptar melhor ao cenário. Com isso, revisamos nossos planos e aumentamos os recursos para R$ 9,5 bilhões durante os próximos cinco anos, sendo que 80% desse dinheiro será destinado ao Brasil.
Siderúrgicas estão falando em investir em mineração e cimento, enquanto cimenteiras querem ganhar mais espaço na produção de aço. Como a Gerdau vê esse movimento?
Nossa posição é muito clara: o foco da empresa está totalmente direcionado à cadeia do aço. Estrategicamente, a Gerdau vai investir para gerar mais valor agregado ao cliente, especialmente no corte e dobra de aços longos para a construção civil.
De todo modo, a companhia vai elevar sua capacidade de produção de minério, não?
Esse investimento é uma forma de melhorar a competitividade, por isso queremos elevar a produção nas nossas duas reservas em Minas Gerais, para abastecer a Açominas. No momento, queremos elevar a autossuficiência em matéria-prima de 50% para 80%. Essa posição pode mudar no futuro, mas não buscamos novos ativos em mineração.
Quais são os planos para fazer com que a Açominas aproveite oportunidades nos mercados automotivo, naval e a cadeia do pré-sal?
O que temos em Minas é uma linha de fio-máquinas (utilizados para a fabricação de arames e pregos, entre outros), que pode acabar na produção automotiva, e de perfis estruturais (usados na sustentação de edifícios), um mercado que está se desenvolvendo no Brasil.
Nosso grande plano está na produção de chapas grossas, que podem ser utilizadas na indústria naval, de equipamentos pesados e na construção. Ainda não fabricamos, mas vamos agregar uma laminação que a partir de 2012 irá fornecer o produto para esses clientes. Não temos contratos ainda, mas estamos monitorando o mercado e vendo oportunidades.
De que forma Copa e Olimpíada mexem nos planos da Gerdau?
Estamos acompanhando atentamente as novas oportunidades do mercado, a partir das obras do PAC, Copa, Olimpíadas e do Minha Casa, Minha Vida. Os eventos combinados deverão gerar uma demanda, segundo o Instituto Brasileiro do Aço, de 8 bilhões de toneladas. É um número significativo, se considerarmos que a produção deste ano deverá ficar em 32 bilhões de toneladas. Dentro do contexto do país como um todo, esse volume ajuda, mas não é o determinante.
Estamos atentos às oportunidades com toda a infraestrutura que virá a reboque do crescimento da indústria da construção civil, movido principalmente pelo maior acesso ao crédito, que também está puxando a compra de automóveis e eletrodomésticos.
Há previsão de aumento de capacidade?
Hoje a nossa capacidade atende à demanda e as expansões previstas já contemplam essa expectativa. Estimamos um aumento na produção de aço de 22% para este ano (no ano passado, a queda foi próxima a 30%). É ainda uma recuperação.
Como a Gerdau vê o esforço de empresários brasileiros que estão se unindo para comprar aço mais barato no exterior, principalmente da China?
Entendemos que as empresas têm todo o direito de importar aço. Para nós, o importante é garantir o atendimento à demanda e para isso é estratégico manter uma relação estreita com os clientes. Com uma cadeia forte, a indústria brasileira é competitiva.
Estima-se que o preço do minério de ferro poderá mais que dobrar este ano. Qual será o impacto no valor do aço?
Alguns analistas falam nesse aumento, mas isso não está confirmado. Vai haver uma pressão de custos, mas não vamos mexer nos preços.

Nenhum comentário:

Postar um comentário