terça-feira, 4 de janeiro de 2011

CONJUNTURA MACRO JANEIRO 2011

Dilma Rousseff assumiu a Presidência. O BC elevou os depósitos compulsórios e os requerimentos de capital. Ao apontar maior risco de inflação, o BC também sinalizou que a Selic pode começar a subir em janeiro. A demanda segue robusta. No entanto, a expansão da indústria segue modesta, em parte por causa das importações. Os números fiscais pioraram, impondo maior controle de gastos em 2011; o aumento modesto do salário mínimo foi um primeiro passo nessa direção. A educação está melhor.
FHC, depois Lula, agora Dilma. Pela primeira vez desde o final da Primeira República em 1930, o Brasil vive uma sequência ininterrupta de três presidentes eleitos pelo voto direto. A estabilidade política coincidiu com uma economia mais estável, com mais crescimento e melhor distribuição de renda. Dilma reiterou, no seu discurso de posse, o compromisso com a estabilidade. O novo ministério não causou surpresa. Alguns ministros de Lula permaneceram em seus postos, incluindo Guido Mantega. Por medida provisória, Lula passou o salário mínimo de R$ 510 para R$ 540, como esperado.
Ao todo, R$ 61 bilhões serão recolhidos ao BC sob a forma de compulsórios após as medidas macroprudenciais do início de dezembro. O BC também subiu a exigência de capital para empréstimos pessoais e outras formas de crédito. Nossos exercícios econométricos sugerem que, juntos, os novos compulsórios e as regras de capital equivalem a uma alta de cerca de 1pp na Selic.
Henrique Meirelles foi o presidente mais longevo do Banco Central: oito anos. Ele foi substituído por Alexandre Tombini, diretor da Casa desde 2006. O último Copom sob o comando de Meirelles reconheceu um aumento no risco de inflação, mas deixou a Selic inalterada em 10,75%. Nossa projeção aponta para um IPCA de 5,9% em 2010, seguido de pequeno recuo para 5,6% em 2011. No Relatório de Inflação, o BC sinalizou que os juros devem subir em janeiro. Por causa das novas regras prudenciais, reduzimos nossa estimativa de alta em 2011 de 200 para 150 pontos-base.
A demanda continua promissora. Um índice de vendas no varejo calculado pela Serasa-Experian na semana anterior ao Natal mostrou alta de 15,5% na comparação com um ano antes, o melhor resultado em seis anos. O tráfego de passageiros nos aeroportos aumentou 22% no ano até outubro. A taxa de desemprego com ajuste sazonal caiu para 6% em novembro, o menor nível da série. Já o PIB cresceu a uma modesta taxa não-anualizada de 0,5% no terceiro trimestre, o que era esperado após dois trimestres fortes. Os dados até agora mostram que o desempenho em novembro foi ligeiramente mais fraco, e que o mês de dezembro foi um pouco melhor. Esperamos crescimento trimestral do PIB de 1,4% no quarto trimestre.
A produção industrial avançou 0,4% em outubro, o segundo ganho consecutivo após uma breve retração na metade do ano. No entanto, o aumento da produção segue atrás do da demanda, em parte devido ao aumento das importações. Essa situação deve ser temporária. O forte crescimento da demanda, tanto no consumo quanto no investimento, deve embalar o setor manufatureiro em 2011.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou um conjunto de regras para tornar o financiamento de longo prazo mais atraente para o setor privado, reduzindo a dependência dos financiamentos do BNDES. Entre outras medidas, o pacote cria incentivos fiscais para debêntures vinculadas a projetos de infraestrutura, facilita a emissão e negociação de títulos e permite aos bancos usar créditos securitizados para atender exigências mínimas de empréstimo imobiliário.
O resultado primário fiscal de novembro foi fraco: R$ 4,2 bilhões. O gasto público se desacelerou, mas continua forte, com alta real ao redor de 9% neste ano. A arrecadação se enfraqueceu um pouco. Esperamos um superávit primário equivalente a 2,7% do PIB este ano (cerca de 1,7% após a dedução de receitas extraordinárias, sobretudo a venda das reservas do pré-sal para a Petrobras). Chegar à meta de 3,1% do PIB em 2011 exigiria enorme esforço. Esperamos 2,5% ou pouco menos.
Um resultado surpreendentemente forte levou o superávit comercial em 2010 para US$ 20,3 bilhões. As exportações cresceram 31,4% este ano, enquanto as importações dispararam 41,6%. O déficit em conta corrente provavelmente ficou em 2,5% do PIB. Os fluxos de capital seguem robustos, e o investimento estrangeiro direto chegou a US$ 38 bilhões nos 12 meses até novembro. Foi um ano movimentado nos mercados de câmbio, e as incertezas sobre as principais moedas permanecem. Mas o real terminou o ano em 1,66 por dólar, uma valorização de 4,3% no ano. As reservas internacionais agora estão em US$ 288 bilhões.
A atividade de fusões e aquisições se manteve forte durante o ano. Em dezembro, a Hypermarcas comprou a farmacêutica Mantecorp por US$ 1,5 bilhão. As aberturas de capital aumentaram cerca de 10% em 2010, um ano marcado pela operação multibilionária da Petrobras. Pelo menos 10 operações, com valor total de aproximadamente US$ 3 bilhões, devem vir a mercado no primeiro trimestre de 2011. O Índice Bovespa avançou 2,4% em dezembro e 1,0% em 2010. Os contratos de proteção contra inadimplência (conhecidos pela sigla CDS) pelo governo brasileiro encerraram o ano em 111 pontos-base.
O Brasil faz parte da pesquisa PISA de avanço escolar, da OCDE, desde 2000, mas a de 2010 foi a primeira a mostrar progresso de verdade. O Brasil colhe os frutos do esforço iniciado na década de 1990. É preciso muito mais: o Brasil ocupa a posição de número 53 num grupo de 65 países.
O Comitê de Política Monetária se reúne pela primeira vez sob o comando de Tombini nos dias 18 e 19 de janeiro. A perspectiva fiscal do ano é menos desanimadora após a fixação do salário mínimo em R$ 540, mas o quadro só ficará mais claro após o primeiro decreto de contingenciamento, provavelmente em fevereiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário