Pelo menos por enquanto, o mercado doméstico de câmbio está reagindo de maneira tranquila à autorização para que o Banco Central atue no mercado de derivativos em nome do Fundo Soberano do Brasil (FSB). A novidade consta de resolução publicada hoje no Diário Oficial e surpreendeu os players que, até então, consideravam somente a possibilidade de intervenções no mercado à vista por parte do FSB. E estavam relevando a
possibilidade do BC realizar leilões de swaps cambiais reversos já que, desde meados do ano passado, houve várias discussões em torno da legalidade que teriam essas operações.
O dólar à vista encerrou a manhã cotado a R$ 1,695, com alta de 0,65% no balcão. Na BM&F, o aumento era de 0,41% com a cotação em R$ 1,6935. Às 13h36, o dólar para fevereiro valia R$ 1,7025, com elevação de 0,62%.
A valorização é considerada moderada até porque não pode ser atribuída integralmente à novidade de Brasília. Lá fora, o dólar sobe diante da maioria das moedas emergentes, segundo operadores. A exceção hoje é o euro que se recupera em reação a uma nova declaração da China sinalizando a intenção de diversificar as reservas, à alta da produção industrial francesa, de 2,3%, acima do esperado (1%) e à compra de títulos de países
fragilizados (Portugal, Grécia e Irlanda) por parte do Banco Central Europeu, segundo operadores.
Há pouco, a moeda única valia US$ 1,2939, ante US$ 1,2905, no final da tarde de sexta-feira, em Nova York.
Ao contrário do que é habitual, enquanto os investidores mostram reação ponderada nas cotações do dólar, os analistas ouvidos pela Agência Estado são mais incisivos. A percepção é de que a medida, indiscutivelmente, tem por objetivo conter a apreciação maior do real por meio do aumento da insegurança sobre intervenções do governo no câmbio. Afinal, ao atuar
para o FSB, o BC registraria as operações em nome do Tesouro e isso eliminaria os questionamentos jurídicos da operação. Além disso, se para atuar no mercado à vista o FSB é limitado por seu patrimônio, o mesmo não ocorre com derivativos, que permitem alavancagem.
A avaliação consensual também é que a medida de hoje vem no rastro da prática adotada desde o final do ano passado, quando foi elevada a alíquota do IOF sobre aplicações de estrangeiros em renda fixa. E tem sido alimentada desde então por novas alterações ou atuações verbais dos membros da equipe econômica, principalmente do ministro Guido
Mantega. "Tudo tem resultado pontual e efêmero; não inverte tendência, mas ajuda amenizar a trajetória do câmbio; e o maior objetivo é aumentar a incerteza do mercado de câmbio", não se cansam de repetir em uníssono os especialistas.
As discordâncias se dão quando o assunto é medir o efeito dessa estratégia. Alguns acreditam que a equipe econômica não consegue inverter a tendência, mas está impedindo que o dólar dê um tombo bem maior. Outros acham que a diferença na taxa de câmbio, com ou sem as intervenções do governo, estaria pouco mais ou menos acima ou abaixo do nível atual.
Alguns analistas fazem também uma observação no que se refere à forma como as intervenções estão ocorrendo desde a posse do novo governo. Eles identificam uma diferença, pois estão vislumbrando uma maior sintonia entre os integrantes da equipe econômica e mais agilidade entre as atuações verbais e a efetividade das medidas.
Eles lembram que, na semana passada, o ministro Mantega deu entrevista coletiva dizendo que as possibilidades de atuação no câmbio eram infinitas e, menos de dois dias depois, o BC anunciou a criação do depósito compulsório de 60% sobre posições vendidas em dólar superiores a US$ 3 bilhões ou ao Patrimônio de Referência das instituições. Desta vez, o
ministro falou ontem, em entrevista exclusiva ao Financial Times, que o mercado poderia esperar mais medidas direcionadas ao mercado futuro. Hoje, a esperada resolução sobre as ação do BC para o FSB saiu e, surpreendentemente, incluiu os derivativos no rol de ações possíveis.
Uma das possibilidades a explicar a cautela demonstrada pelos investidores nas cotações do pregão desta segunda-feira é a ideia que se formou de que o governo tem um piso para agir.
E ele seria algo ao redor de R$ 1,65. Nesse sentido, não haveria leilão de swap cambial reverso com o dólar perto de R$ 1,70, como está agora. Além disso, operadores consideram a possibilidade de que o mercado não esteja alavancado na venda e, portanto, a necessidade de ajuste perante a iminência de ação nos derivativos seja pequena.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário