A crise da dívida europeia tomou um rumo mais funesto, na terça-feira, trazendo a Itália para mais perto do turbilhão que engoliu a Grécia e a Irlanda, e está ameaçando envolver Portugal e Espanha. Os rendimentos dos títulos do governo italiano com maturação em 10 anos estão se aproximando de 5%. Pela primeira vez desde o lançamento do euro, em 1999, o ágio de juros que os investidores exigem para manter em suas carteiras esses títulos, em vez de dívida alemã similar, subiu para acima de 2 pontos percentuais. Tendo em vista que a Itália deve resgatar quase € 300 bilhões em dívida pública no próximo ano, estes movimentos de mercado trazem muito perigo para o futuro da união monetária europeia.
Com boas razões, as autoridades governamentais em Roma reclamam que os mercados estão ignorando os pontos fortes da Itália. A dívida pública italiana é muito alta - baterá nos 118,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano -, mas é financiada principalmente pelo mercado interno, e tem sido habilidosamente mantida sob controle por muitos anos gestores de endividamento no Ministério das Finanças. Além disso, a dívida do setor privado italiano é baixa e seus bancos sobreviveram à crise financeira praticamente ileso graças a políticas prudentes de concessão de empréstimos.
Acima de tudo, Giulio Tremonti, experiente ministro italiano das Finanças, demonstrou maestria num jogo difícil, desde que retornou ao cargo após a eleição nacional em abril de 2008. Agora, desfrutando seu quarto mandato no posto, Tremonti compreendeu imediatamente, num momento de agudas tensões nos mercados, que a condição das finanças públicas seria o calcanhar de Aquiles da Itália. Ele, portanto, assumiu como sua prioridade manter o déficit orçamentário da Itália entre limites razoáveis. Apesar disso ter custado uma severa recessão em 2009, a economia está novamente crescendo modestamente.
A personalidade e as políticas de Tremonti são fatores vitais de estabilização em meio a tensões políticas que culminarão em 14 de dezembro na decisão em torno de dois votos de confiança parlamentar que poderão derrubar o governo de Silvio Berlusconi. Pois perca ou não seu emprego o primeiro-mistro atormentado por escândalos, parece certo que Tremonti permaneça no controle das finanças italianas - seja em seu posto atual ou, o que é uma possibilidade, como sucessor de Berlusconi.
Mas a dura realidade é que a sorte italiana parece cada vez mais vinculada à da Espanha. Porque se a Espanha, como a Grécia e a Irlanda, necessitar um socorro emergencial da zona do euro, a parcela da Itália nessa conta colocará suas finanças sob grande tensão. Os italianos, por mais que bem comportados, poderiam se ver em risco. Para bem da zona do euro como um todo, a defesa da Itália deve começar com a defesa da Espanha.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
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