terça-feira, 28 de setembro de 2010

Trabalhadores aplicam R$ 423,7 milhões do FGTS na oferta da Petrobras

Um balanço divulgado na noite de ontem pela Caixa Econômica Federal apontou que os cerca de 25 mil trabalhadores que usaram o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para comprar ações da Petrobras injetaram R$ 423,7 milhões na petrolífera.
De acordo com o banco, que administra os recursos do FGTS, o investimento somou R$ 423.757.321 pertencente a 25.544 trabalhadores. Como cada empregado pode ter mais de uma conta no FGTS, o total de contas que participaram da capitalização da Petrobras foi de 31.273.
A operação, ressaltou a Caixa, envolveu a participação de 25 administradoras e 46 fundos mútuos de privatização. No momento, os valores aplicados estão retidos. Somente na quinta-feira (29), data da liquidação da oferta, o dinheiro será repassado à Bolsa de Valores de São Paulo.
Só puderam participar da capitalização da Petrobras os trabalhadores cotistas do Fundo Mútuo de Participação (FMP) que haviam comprado ações da empresa em 2.000. Eles tiveram preferência na oferta pública para aumento do capital social da petrolífera, mas só puderam investir até 30% do saldo do FGTS ou a proporção necessária para manter o nível de participação na companhia, prevalecendo o menor valor.
Por causa desses limitadores, informou a Caixa, foram pedidos R$ 563,3 milhões, mas liberados R$ 423,7 milhões, 75% do que os trabalhadores estavam dispostos a investir na Petrobras. O dinheiro terá de ficar pelo menos um ano aplicado nas ações da estatal. Somente depois dessa carência, o trabalhador poderá retirar o investimento e retorná-lo à conta do FGTS.

USIMINAS: Desdobramento de Acoes

USINAS SIDERURGICAS DE MINAS GERAIS S.A. - USIMINAS CNPJ/MF 60.894.730/0001-05 NIRE 313.000.1360-0 AVISO AOS ACIONISTAS Usinas Siderurgicas de Minas Gerais S.A. - USIMINAS ("USIMINAS" ou "Companhia") vem informar que, em Assembleia Geral Extraordinaria realizada nesta data (27/09/2010), foi aprovado o desdobramento de acoes de emissao da Companhia na proporcao de 1 (uma) nova acao para cada acao existente. Assim, cada acao do capital social passara a ser representada por 2 (duas) acoes. As acoes advindas do desdobramento serao da mesma especie e classe, conferindo aos seus titulares os mesmos direitos das acoes previamente existentes. Conforme anteriormente informado pela Companhia, os acionistas que adquiriram ou mantiveram posicao acionaria ate esta data (27/09/2010) terao direito ao recebimento das acoes decorrentes do desdobramento. A partir de 28/09/2010, as acoes de emissao da Companhia passarao a ser negociadas sem direito as acoes advindas do desdobramento. Para efetivacao do desdobramento de acoes no Brasil, a instituicao depositaria, Banco Bradesco S.A., tomara as providencias necessarias de modo a efetuar o credito, ate o dia 1 de outubro de 2010, das novas acoes na conta dos acionistas da Companhia que fizerem jus ao seu recebimento. Com relacao aos titulos em circulacao no mercado Norte-Americano, sera mantida a razao acao/American Depositary Receipt ("ADR") em 1/1, ou seja, cada ADR continuara sendo representado por uma acao apos o desdobramento ora aprovado, cabendo ao agente depositario a emissao dos novos titulos e sua distribuicao aos respectivos titulares. Belo Horizonte, 27 de setembro de 2010."
Norma: a partir de 28/09/2010 acoes escriturais ex-desdobramento.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Mobius diz que operação é 'abominável' e prevê bolha

O investidor Mark Mobius disse que a capitalização da Petrobras foi uma operação "abominável", que tratou minoritários injustamente e que pode sinalizar a formação de uma "bolha" de ofertas iniciais.
"Todo o processo da Petrobras é abominável e uma violação terrível dos direitos de acionistas", disse Mobius, que administra US$ 34 bilhões como presidente da Templeton Asset Management, em entrevista por telefone do Cazaquistão. "Podemos estar entrando numa bolha. Isso significa que as pessoas não estão mais olhando para os valores e comprando essas coisas irracionalmente."
"A ideia de o governo não entrar com dinheiro e definir um preço no mínimo questionável para as reservas é injusta", disse.
A assessoria de imprensa da Petrobras disse que a empresa não comenta opiniões de investidores.
"Eles dizem que foi grande a participação de investidores brasileiros, mas, na realidade, para garantir que desse certo, o governo está dando um jeito para que suas agências" invistam no negócio, disse Mobius. "A questão é: quem são os compradores?"
Mobius disse que outra política que pode reduzir as perspectivas de lucro da estatal é a exigência de conteúdo local, que dá um tratamento preferencial a empresas brasileiras que fornecem produtos e serviços ao setor de petróleo.
"Se esse dinheiro fosse gasto em serviços e produtos competitivos internacionalmente, tudo bem", disse. "Mas eles estão limitados às compras locais, o que significa que vão pagar mais do que deveriam para explorar o petróleo."
Will Landers, da BlackRock, disse que o fato de a Petrobras ter sido capaz de realizar a oferta dez dias antes de uma eleição presidencial mostra que o mercado evoluiu. "Continuo muito positivo quanto ao mercado brasileiro de ações."

Governo não consegue 50% da Petrobras

Ações da empresa estreiam com instabilidade e caem até 2,19% na Bolsa de Nova York em dia de revisão do otimismo
Adesão dos demais acionistas surpreende e impede governo de aumentar ainda mais participação na estatal
O governo Lula deve sair da capitalização da Petrobras, a mais ambiciosa parceria feita com as finanças globais, sem atingir a meta de alcançar 50% do capital da companhia, como ocorria até o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
A União só chegou, até agora, a 48% do capital da estatal, segundo o ministro Guido Mantega (Fazenda). Em tese, pode ainda elevar essa participação se comprar ações nos lotes extras ainda disponíveis. Mas é improvável que consiga isso à frente dos demais interessados.
A Petrobras captou até R$ 120,4 bilhões na maior oferta de ações já feita no mundo. Apesar do sucesso da operação, as novas ações estrearam ontem na Bolsa de Nova York com uma dose de ceticismo dos investidores.
Após forte instabilidade, terminaram o dia com baixa de 2,19% para os ADRs (recebido de ações nos EUA) ON e de 1,88% para os PN.
Os investidores tiveram ontem uma atitude mais comedida em relação à megaoferta. Isso porque os coordenadores não colocaram à venda todo o lote extra.
Os novos papéis também saíram com desconto alto em relação à Bolsa, estimulando a venda com preço superior ao comprado na oferta.
PRÊMIO DE CONSOLAÇÃO
Em plena festa na BM&FBovespa, o ministro Mantega se adiantou para dizer que o governo tinha aumentado sua participação na estatal de 40% para 48%.
A informação sobre quem compra os papéis é uma das mais confidenciais de toda a operação e pode ser revelada só em 29 de outubro, data do balanço de encerramento. Será quando o mercado saberá se fundos soberanos da Ásia e do Oriente Médio aderiram à oferta.
A fatia do governo "vazada" pelo ministro inclui também as ações compradas pelo BNDESPar, pela Caixa Econômica Federal e pelo próprio Fundo Soberano.
"É a maior capitalização já feita na história do capitalismo. Acontece no momento mais difícil da recuperação do mundo, quando ainda há muitos problemas financeiros, e a dez dias da eleição no Brasil. Diria que é um feito importante", disse Mantega.
No caso, o governo foi vítima do próprio sucesso da Petrobras com seus acionistas, que tiveram prioridade para comprar os novos papéis para não serem diluídos.
A expectativa inicial era que boa parte desses acionistas ficasse fora, possibilitando ao governo comprar grande parte das "sobras". Isso não aconteceu, como adiantou a Folha.
Na capitalização, o governo reservou R$ 74,8 bilhões para comprar ações. Diferentemente dos minoritários que entram com dinheiro, o governo cede títulos que mais tarde "viram" os 5 bilhões de barris de petróleo.
É provável que o governo não tenha conseguido emplacar todos os R$ 74,8 bilhões na compra de ações. Se não levar tudo em ações, ganhará dinheiro vivo dos investidores como "prêmio de consolação". O dinheiro vai para o Tesouro equilibrar as contas públicas.
Isso porque a oferta estabelece que, em qualquer cenário, o governo vende R$ 74,8 bilhões em barris para a Petrobras, mesmo que nem todo esse volume seja convertido em novas ações.

Como fica o dólar sem o evento Petrobras?

Nesta semana o evento oferta de ações da Petrobras chega ao fim. Pelo menos em termos financeiros, já que na quarta-feira, dia 29, acontece a liquidação financeira da oferta.
Então, todos os dólares que tinham de entrar no país em função dessa operação devem estar internados até o dia 27 em função do prazo de liquidação de dois dias.
Passado o evento, apontado como principal fonte de pressão sobre a cotação do dólar, a pergunta que se faz é: e agora, para que lado vai a taxa de câmbio?
Estrangeiro está vendido em US$ 8,14 bilhões na BM&F
O economista-chefe do Banco Safra de Investimento, Cristiano Oliveira, encara todo esse processo envolvendo a Petrobras como um catalisador, ou seja, um agente que acelerou um processo que já estava em andamento, que era a apreciação do real.
Findo o efeito desse catalisador, continuam prevalecendo os fundamentos macroeconômicos globais e locais que balizam essa valorização da moeda brasileira. Em outras palavras, nada muda.
Pelo campo externo, diz Oliveira, o viés do dólar continua sendo de baixa. O mercado está certo em elevar o preço do euro para US$ 1,33/US$ 1,34. "Antes, se pensava em alta de juros na economia americana no final de 2010. Agora, se discute a adoção de novas medidas de estímulo nos Estados Unidos", diz o especialista, lembrando que, até mesmo quando a economia americana começar a crescer com algum vigor, o dólar continuará perdendo valor em função da inflação que acompanhará esse processo.
Pelo lado local, a história também continua a mesma. O Brasil é um dos poucos países que oferece as duas coisas que os investidores ao redor do mundo estão procurando: retorno e crescimento.
Temos juros nominais de 10,75% e crescimento do PIB estimado em 7,5% em 2010, e 4,5% em 2011.
Além de reunir os dois atributos mais procurados no momento, o Brasil ainda oferece um seguro de mais de US$ 270 bilhões em reservas e uma probabilidade de default soberano inferior a muitos países agraciados com rating "A". Todas as qualidades são reconhecidas, mas parte do mercado também acredita que a onda de valorização do real, se não chegou ao fim, perde bastante força.
Entre as justificativas, a piora das contas externas. O déficit em conta corrente é crescente e o próprio Banco Central (BC) revisou para baixo suas estimativas de ingresso via Investimento Estrangeiro Direto (IED) para este ano.
Outro nó a ser desatado está no mercado futuro. Até o dia 23, último dado disponível, a posição vendida (aquela que ganha com a valorização do real) dos estrangeiros em dólar futuro somava US$ 8,14 bilhões. O investidor institucional nacional também estava vendido em outros US$ 4,26 bilhões.
No lado oposto estão os bancos, com posição comprada (aquela que ganha com a valorização do dólar) de US$ 7,25 bilhões, e o grupo outras pessoas jurídicas financeiras, comprado em US$ 4,08 bilhões.
Há quem enxergue nessa posição comprada dos bancos o sinal de que a próxima movimentação do dólar é para cima. O raciocínio aqui é o seguinte: a posição vendida no mercado à vista vem sendo reduzida com uso dos dólares que vieram para a oferta de ações da Petrobras.
Essa redução de posição à vista aliada à compra de contratos futuros está reduzindo substancialmente a exposição líquida dos bancos, que caiu de mais de US$ 10 bilhões, no começo do mês, para cerca de US$ 4 bilhões.

A azia do dólar

É um debate menor só discutir fluxos e câmbio, já que insuficiente para um problema estrutural


A tendência de forte valorização do real incomoda, preocupa e não há o que fazer, além de “comprar, comprar”, como diria o ministro Guido Mantega, todo o fluxo líquido de dólares que chega ao país.

Se os dólares “ociosos” não fossem enxugados, o câmbio já estaria no nível de R$ 1,50, segundo algumas projeções. É o que aconteceu antes da grande crise de 2008, puxada, como hoje, pela retomada do investimento e do consumo doméstico, cortando produção exportável — absorvida pelo mercado interno — e inflando as importações.

E assim será a cada ciclo de crescimento — e só acabará quando a oferta, função do investimento, se equilibrar à demanda, e deixar excedentes para exportação em volume compatível com as remessas de lucros e juros derivados dos capitais internados no país.

Por coisas assim é que a Índia veda o giro de sua dívida pública pelo capital externo de curto prazo e desestimula os investimentos de empresas estrangeiras em setores que não gerem exportações.

No Brasil, essa discussão nem existe. Só se discutem os fluxos de dólares e a taxa de câmbio. É um debate menor, já que insuficiente para um problema cuja solução contempla o aumento do investimento, com foco na transformação estrutural da economia, e a renda futura do pré-sal. O tratamento apropriado demanda concepções de política industrial, e não só financeiras, com pitadas de indução fiscal.

O investimento para aumentar a oferta é o antídoto contra o para-anda da economia, acionado toda vez que a inflação e o deficit em conta corrente ameaçam desgarrar. Como se para? Com o aumento dos juros pelo Banco Central e corte de gastos públicos pela Fazenda.

Na sequência, o investimento empresarial desacelera, o desemprego reaparece, o deficit e inflação desinflam, mas não necessariamente implicam mudança da taxa cambial, e a economia em um a dois anos está pronta para voltar a crescer, ou seja, andar depois de parar.

Não se chegou a tanto, mas se pode estar nessa rota. Os deficits externos, segundo análise do Bradesco, apontam para US$ 51 bilhões este ano (2,6% do PIB), contra US$ 23,4 bilhões (1,6% do PIB) em 2009, e devem atingir US$ 69 bilhões (3,1% do PIB) em 2011.

Tais deficits são perfeitamente financiáveis — à luz dos cenários da economia global em 2011 —, mas vão formando uma bola de neve, já que cumulativos, exigindo cada vez mais superavit comercial e capitais externos para fechar a conta. A economia tende a perder autonomia, tornando-se dependente do humor dos mercados globais.

Influências políticas
A discussão nos bastidores de um provável governo Dilma Rousseff — antecipada por Mantega com seus alertas sobre os malefícios da apreciação do real — tem tal enfoque: reaver a competitividade das exportações e livrar a produção interna de importações favorecidas pelo câmbio forte, preservando, além disso, a aceleração da taxa de investimentos e o ritmo do consumo, sem maior aperto fiscal.

Essas condicionantes não são compatíveis e revelam influência de áreas políticas sobre as diretrizes da macroeconomia. Alguma dose de aperto haverá. Talvez não baste apenas redirecionar o projetado aumento de arrecadação para o investimento e superavit primário, a receita da equipe de Mantega para fazer omelete sem quebrar ovos.

O rodo que não seca
Não é que não haja alternativas às compras de divisas pelo Banco Central e incorporadas às reservas do país, que só têm crescido, já estando em US$ 273 bilhões. Ou pelo Tesouro, restrito ao serviço da dívida pública externa. Ou pelo Fundo Soberano do Brasil (FSB), conforme desejo de Mantega. O FSB poderá aplicar seus dólares, por exemplo, em linhas de crédito do BNDES ao importador de bens brasileiros.

Como modelo operacional para o FSB, faz sentido e é necessário. O duvidoso é que ajude a minguar o real, se a experiência do BC, que intervém no câmbio sem limite, argumento de Mantega para por o FSB na roda, revela a pouca eficácia dessa ação para rebaixar o real. Na prática, o valoriza, como adverte o especialista Sidney Nehme.

E virá mais dos EUA
O que vai ficando claro é o esgotamento de algumas linhas de ação da política econômica, enquanto há sinal de que o dólar terá outra onda de desvalorização, passada a eleição legislativa nos EUA em 2 de novembro. Foi o que insinuou, semana passada, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke. Os capitais ociosos sairão em busca de opções rentáveis, imbatíveis no Brasil com Selic de 10,75% e a inflação ao redor de 5%, e de baixo risco, pelo menos por mais um ano. Se isso for para já, as providências também terão de ser.

A guerra é dos outros
Consumo encolhendo, desemprego aumentando, juros no ponto zero da régua, cidadãos enfurecidos e risco de o governo perder a maioria na Câmara e talvez no Senado levam os EUA para o corner. Mas como têm o monopólio do dólar, as demais economias é que viram a bola da vez, com o governo Barack Obama segurando o taco para enfiar na caçapa quem estiver desprevenido. Com os juros recordes no mundo e o consumo aquecido, o Brasil é candidato a sentir as dores dos EUA pelas inconsistências da economia — do câmbio flutuante, sem haver poupança fiscal que o influencie, aos desalinhamentos acertados, já nem importa as razões, com juro de dois dígitos. Ou são criadas barreiras, mesmo temporárias, que protejam a economia das disputas cambiais pelo mundo ou vai-se acabar lutando a guerra dos outros.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Nova Ptax vai dificultar manipulação no câmbio e casado

A Ptax, taxa do BC para o dólar à vista, é usada como referência na liquidação dos contratos futuros
A decisão do Banco Central de alterar o cálculo da Ptax vai dar maior transparência na formação de preços e ajudará a coibir a manipulação no câmbio, disse Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora.
"A medida pode ter algum efeito marginal antecipado, mas seu principal objetivo é melhorar a transparência do mercado e dificultar manipulações", disse Nehme, que trabalha com empresas exportadoras e importadoras brasileiras.
Segundo o executivo, entre as manipulações que podem ser evitadas estão o fechamento de operações com registro em horários diferentes e as chamadas operações "Zé-com-Zé", pelos quais bancos realizariam compras com valores combinados para aumentar ou diminuir os preços.
As mudanças com maior potencial de diminuir as manipulações são a limitação do horário para apuração da Ptax para entre 9h50 e 12h50 e o expurgo das maiores e menores cotações. "O BC provavelmente quis concentrar as apurações nos horários de maior movimento porque é quando o risco de manipulação é menor".
Para Nehme, a mudança poderá afetar as operações conhecidas como dólar casado, nas quais os investidores combinam compras e vendas nos mercados à vista e de futuros. A Ptax, taxa do BC para o dólar à vista, é usada como referência na liquidação dos contratos futuros.
Casado
"Nas operações casadas, os bancos giram bastante o dólar à vista, influenciam a Ptax e isso repercute nos futuros", disse.
De acordo com ele, o efeito da medida nas cotações será limitado. "O dólar cai não apenas pela pressão dos futuros, tanto é que o efeito de um swap cambial também seria um engodo".
Para Nehme, a única alternativa mais efetiva para segurar o real seria diminuir o limite de exposição dos bancos ao risco cambial por meio das posições vendidas.
"Os bancos podem captar com suas linhas dólar a 3% ou 4% ao ano, usando os reais obtidos na conversão como funding ou para operar cupom no mercado interno", disse.
O diretor da NGO acredita que o dólar deve subir naturalmente após o fluxo de Petrobras passar, com as remessas de fim de ano.
Nehme considera que a situação atual é conveniente para o BC, pois o real apreciado ajuda a baratear as importações, favorecendo o cumprimento da meta de inflação.
"As exportações são prejudicadas, mas as empresas sobrevivem vendendo ao mercado externo", disse.
"O dólar vai subir mais à frente pelo próprio desempenho da economia, porque o déficit em conta corrente está aumentando e os investimentos de maior qualidade estão diminuindo com o real forte".

Ouro supera pela primeira vez na história US$ 1.300

O ouro estabeleceu nesta sexta-feira (24) um novo recorde histórico ao superar pela primeira vez os US$ 1.300, depois de um novo ataque de fragilidade do dólar.
O preço do metal de refúgio dos investidores atingiu os US$ 1.300,07 às 13H18 GMT no London Bullion Market, o mercado a varejo da capital britânica que serve de referência.

bm&fbovespa torna-se a segunda maior bolsa do mundo , diz edemir pinto

E o câmbio continua matando!

Temos chamado a atenção, insistentemente, para o processo de desindustrialização e desnacionalização que vem ocorrendo no Brasil. Nos últimos 20 anos passamos de 5.º maior produtor mundial de máquinas e equipamentos a um modesto 14.º lugar.
A verdade, comprovada em números, é que a indústria do Brasil está sem condições de competir em igualdade. O mais duro é que a perda de competitividade não ocorre do portão para dentro das empresas. Há décadas a indústria vem dando demonstração de força, com melhoria da produtividade, desenvolvimento e inovação tecnológica, numa luta pela sobrevivência, compreendida somente por quem realmente está envolvido com o processo produtivo.
Os desafios são enormes: custo Brasil, que torna as máquinas brasileiras cerca de 43% mais caras; as mais altas taxas de juros do mundo; carga tributária, que representa cerca de 35% dos custos; taxa de câmbio, que faz com que a indústria fique menos competitiva nas exportações e, por outro lado, abre o mercado brasileiro para os produtos importados.
Apesar das oportunidades existentes, a indústria vive um momento de incertezas, diante de um paradoxo que merece explicação do governo. Se, por um lado, a indústria de máquinas busca a sua sobrevivência, convivendo com a perda de competitividade sistêmica, por outro lado, o setor financeiro vem sistematicamente batendo recordes de lucratividade. No último trimestre o setor foi o mais lucrativo de todos, com lucro líquido de R$ 10,1 bilhões. Será que o sistema financeiro é altamente competente e nós, um bando de incompetentes? Será que não há nada de errado na política econômica?
A resposta é simples: falta uma política industrial que privilegie o investimento produtivo em vez do não produtivo, da mesma forma que fizeram os países hoje desenvolvidos, que compreenderam que a industrialização é o caminho para o desenvolvimento. É sempre bom lembrar que, para tornar as suas indústrias fortes, esses países adotaram a seguinte política: desoneração total dos investimentos, câmbio e financiamentos competitivos, incentivo às exportações de bens de alto valor agregado, desenvolvimento e inovação tecnológica.
Mas, enquanto não houver política industrial e competitividade sistêmica, o fato é que não podemos continuar reféns de um câmbio que, de forma acelerada, vem sendo o grande vilão do processo de desindustrialização e desnacionalização. Para ter uma ideia, no caso do setor de máquinas e equipamentos, o déficit acumulado da balança, de 2004 a 2010, já é superior a US$ 43 bilhões. As exportações vêm caindo de forma vertiginosa, enquanto as importações crescem assustadoramente. Somente as importações vindas da China aumentaram cerca de 57% no primeiro semestre de 2010, comparado ao mesmo período de 2009.
Diante desse cenário, não nos restou outra alternativa senão pedir, em caráter emergencial, o aumento da alíquota do Imposto de Importação. Após estudos, chegamos à conclusão de que essa é a única medida capaz, neste momento, de minimizar a perda de competitividade da indústria de máquinas ante os concorrentes internacionais.
Alguns vão dizer que tal medida se configura como "protecionismo" ou "reserva de mercado". Em nossa opinião, esse argumento não se sustenta, pois só se poderia falar em proteção se a indústria nacional estivesse concorrendo em condições isonômicas.
Também vale ressaltar que outros setores da economia contam com uma alíquota de 35%, a nosso ver uma proteção justa, porque sem ela esses setores já estariam extintos.
O momento é de atenção e o aumento da alíquota se faz necessário para dar sobrevida às nossas indústrias, pelo menos enquanto tivermos de conviver com um câmbio que inviabiliza o processo produtivo. O governo precisa ter a sensibilidade de que esse aumento da alíquota é o remédio imediato ou continuaremos a assistir ao câmbio matar as nossas indústrias.

Inconsistências no câmbio

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, dedicou um bom pedaço do seu tempo nesta semana para esclarecer pontos nebulosos sobre a futura atuação do Fundo Soberano do Brasil (FSB) no mercado de câmbio.
Respondeu a boa parte das dúvidas levantadas aqui na coluna de terça-feira (E no câmbio, quem manda?), mas deixou no ar alguns buracos negros e umas tantas contradições.
Em síntese, Mantega avisou que o FSB não atuará por conta própria, mas delegará as compras de moeda estrangeira ao Banco Central (BC) "para evitar conflitos". Nem o BC nem o FSB terão limites para adquirir dólares. Dessa maneira, dobra a capacidade de compra de moeda estrangeira pelo governo brasileiro. O Ministério da Fazenda não tem piso para a cotação do câmbio. "Não é gogó; eu falo e faço; basta lembrar o IOF", disse Mantega. E arrematou: "Agimos para coibir a excessiva valorização do real."
Esse punhado de palavras envolve umas tantas contradições. Se for evitado o conflito com o BC, então o FSB não poderá atuar para coibir a valorização do real. O BC compra dólares apenas para evitar a volatilidade e desmente veementemente que pretenda definir o que seja excesso de valorização do real.
O ministro está dizendo que não tem piso para o câmbio, mas, ao mesmo tempo, avisa que o FSB atuará para reverter a forte valorização da moeda brasileira. Ou haverá, sim, uma cotação abaixo da qual fique caracterizada a valorização excessiva a ser revertida ou a palavra do ministro fica incompreensível.
Afora isso, quando o FSB passar a comprar dólares no mercado, interferirá também na eventual volatilidade do câmbio. Ora, sem volatilidade a evitar, o BC não se sentirá na necessidade de atuar. Assim, operará em nome do FSB e poderá deixar de fazer leilões para cumprir a finalidade de sua política.
Além disso, é perfeitamente compreensível que o BC mantenha sua política, continue comprando dólares e, em seguida, entregue esses dólares para o FSB em vez de estocá-los nas reservas internacionais, como vem fazendo. Por outro lado, se, na condição de operador, cumprisse outros objetivos do FSB, o BC estaria mudando sua política.
Também não faz sentido afirmar que nem o BC nem o FSB terão limites para adquirir dólares e que, por isso, dobra a capacidade de compra do governo. O BC tem, sim, um teto determinado pela existência ou não da tal volatilidade. E, se o BC já atua sem limites na compra de dólares, não seria necessário mais um ilimitado agente, o FSB, para dar conta da tarefa de empurrar a cotação do dólar para onde o governo deseja. E, afinal, se o critério para a atuação do BC permanecer o mesmo, tanto faz o tamanho das disponibilidades de munição para suas operações.
Finalmente, se o ministro da Fazenda vai além do seu gogó, como garante, então a política de câmbio terá de passar a ser determinada por ele (ou também por ele) e não apenas pelo BC, como está definido.
O FSB está sendo engolfado por conflitos de interesses. Seus criadores não sabem se o usam como uma ferramenta anticíclica, se o transformam em instrumento de apoio para a empresa brasileira no exterior ou se o acionam para segurar a cotação do dólar. São finalidades só em parte compatíveis entre si. E só em parte compatíveis com a política de câmbio do Brasil comandada pelo BC. (Veja ainda o Confira.)
CONFIRA
Fator surpresa
Alguns técnicos do Ministério da Fazenda se queixam de que o Banco Central (BC) executa uma política de compra de moeda estrangeira tão previsível que acaba fazendo o jogo dos vendedores de dólares. Por isso, pedem mais fator surpresa.
Faz sentido?
Mas só faz sentido operar de maneira imprevisível se o objetivo for defender determinado piso para a cotação do real. Enquanto a política for apenas evitar o excesso de volatilidade, a previsibilidade é desejável.
Exemplo do Japão
A questão de fundo é se a atual política está ou não correta e se não será preciso trabalhar para reverter o excesso de valorização do real. Se a resposta for sim, então será preciso reformular a política e montar mecanismos adequados para executá-la, como acaba de fazer o governo do Japão, que passou a atuar com forte dose de imprevisibilidade. Não se sabe nem quando o governo de Tóquio passará a comprar dólares nem qual a cotação desejada.

VALE APROVA REMUNERAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DE US$ 1 BI PARA ACIONISTAS

Capitalização "destrava" Bolsa e câmbio

Após a operação da Petrobras, mercado acionário deverá ganhar impulso e será mais fácil conter a alta do real
Capitalização trouxe cerca de US$ 20 bi em recursos do exterior, provocando excesso de dólares no país
DE SÃO PAULO
Passada a capitalização da Petrobras, a BM&FBovespa terá condições de ganhar impulso ainda em 2010. Também será mais fácil segurar a trajetória de apreciação do real, que sobe desde julho devido à operação.
A capitalização da Petrobras praticamente secou o apetite do mercado de capitais para novas ofertas de ações e mexeu com o rumo da taxa de câmbio. Desde julho, quando a oferta ganhou corpo, o real já subiu 4,75%.
Segundo os bancos de investimento, a operação movimentará perto de US$ 20 bilhões em recursos de estrangeiros, provocando excesso de dólares no país.
A expectativa inicial era que a Petrobras trouxesse US$ 35 bilhões ao país.
A liquidação financeira da capitalização da estatal ocorrerá no dia 29, mas os recursos não entram necessariamente nesse dia.
Parte, inclusive, já teria chegado nos últimos dias, derrubando as cotações da moeda americana de R$ 1,77 para R$ 1,72 (queda de 2,9%) desde o dia 13.
Se não fosse o ministro Guido Mantega ameaçar intervir com o Fundo Soberano do Brasil, que deve começar a comprar dólares, a moeda poderia ficar abaixo de R$ 1,70 ainda neste mês.

CAPTAÇÕES
Com a conclusão da operação da Petrobras, empresas de consumo, agronegócio e infraestrutura devem "desengavetar" antigos projetos para captar recursos.
Desde abril praticamente não ocorrem mais vendas de ações no país -só saíram as ofertas da Renova (de R$ 150 milhões) e do Banco do Brasil (R$ 9,76 bilhões).
Na esteira da Petrobras, porém, outras empresas de petróleo e gás pretendem obter recursos do mercado.
Na CVM, estão em análise os IPOs (oferta inicial de ações) da espanhola Repsol e da australiana Karoon, ao mesmo tempo concorrentes e parceiras da Petrobras.
Há também a da HTR Participações, empresa formada por engenheiros que trabalharam na Petrobras e decidiram formar uma empresa própria para explorar petróleo e gás. (TONI SCIARRETTA)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

BM&FBOVESPA LANÇA BDRS DE DEZ EMPRESAS EM 5 DE OUTUBRO

São Paulo, 23 - A BM&FBovespa passará a oferecer, em 5 de outubro, recibos de ações estrangeiras, os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) Nível I Não Patrocinados. Esse primeiro lote envolve BDRs de dez empresas: Apple, Google, Bank of America Corporation, Arcelor Mittal, Goldman Sachs Group, Avon, Wal Mart, Exxon Mobil Corporation, McDonald's e Pfizer,todas listadas em bolsas norte-americanas. O Deutsche Bank é a instituição financeira responsável pela emissão desses recibos.
O BDR Nível I Não Patrocinado é um certificado representativo de valores mobiliários de emissão de companhia aberta ou assemelhada, com sede no exterior. Desta forma, é considerado investimento no exterior. Sua emissão e seu registro são de responsabilidade de uma instituição depositária no Brasil, sem qualquer participação das companhias.
O novo produto poderá ser negociado por instituições financeiras, fundos de investimento, além de administradores de carteira e consultores de valores mobiliários autorizados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) - estes dois últimos somente utilizando recursos próprios. Os investidores pessoas físicas poderão participar da nova modalidade de
investimento apenas por meio de fundos. A negociação será no mercado de balcão organizado do segmento Bovespa.

Petrobras define preço da ação depois do fechamento do mercado

Afrouxar ou não afrouxar

A necessidade de despejar mais recursos públicos nos Estados Unidos para reativar a economia não está sendo encarada apenas como providência que, em última análise, vai melhorar o desempenho do setor produtivo global. Começa a ser avaliada como ameaça à estabilidade cambial no resto do mundo.
No momento, a ficha da economia americana é um tanto desoladora. O PIB deste ano não deve crescer mais do que 2,5%; o desemprego é recorde, 9,6% da força de trabalho; os juros básicos rastejam quase nada acima de zero por cento ao ano e tão cedo não subirão; o rombo orçamentário será de US$ 1,5 trilhão no exercício fiscal que termina dia 30; a dívida líquida passa de US$ 8,9 trilhões e deverá saltar para US$ 11,1 trilhões em 2011.
As críticas à administração econômica do presidente Obama se multiplicam. Em apenas três meses, dois dos mais importantes assessores econômicos da Casa Branca, Christina Romero e Larry Summers, saíram do governo. O último comunicado do Fed (banco central) foi lancinante. Reconheceu que o setor produtivo não reage, que o risco de deflação aumenta e que os efeitos ruins sobre o emprego são preocupantes.
Para enfrentar esse quadro, o Fed avisou que pode aprovar novo plano de afrouxamento quantitativo. Trata-se de emitir moeda para recomprar títulos do Tesouro dos Estados Unidos, com o objetivo de criar condições para a retomada do crédito e do consumo.
Há meses essa proposta passeia pela mesa do presidente do Fed, Ben Bernanke. E uma das poucas razões que o levam a contar até 100 antes de tomar essa decisão são as dúvidas sobre sua eficácia. Até agora, o Fed enfiou para dentro de seu balanço US$ 1,7 trilhão em títulos privados e outros US$ 300 bilhões com recompra de títulos do Tesouro americano. O Congresso aprovou também US$ 150 bilhões em cortes de impostos mais os US$ 700 bilhões do Programa de Alívio para Ativos Problemáticos (Tarp). A título de resultados, vê-se que o pânico foi debelado, mas foi só. Não há sinal de retomada de contratações de pessoal.
A mais provável razão desse insucesso é a de que o despejo desses recursos não teve como objetivo investimentos em infraestrutura, como recomendava Keynes. Foi dinheiro usado no socorro aos bancos, na recompra de títulos de crédito desacreditados do setor privado e, em alguma medida, na criação de mercado para títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Embora alguns analistas insistam em que será preciso aumentar as despesas públicas para garantir a retomada, o Congresso tenderá a rejeitar essa ideia, dado o tamanho do rombo fiscal americano.
Assim, resta a máquina monetária. Os mercados reagiram com ceticismo à manifestação do Fed porque não se trata de botar em marcha projetos de investimento em infraestrutura, mas de novas rodadas do chamado afrouxamento quantitativo, cujo principal efeito será a desvalorização do dólar não só diante das outras moedas, como também de outros ativos (ouro, commodities, imóveis). Em dois dias, o simples anúncio do Fed provocou alta de 2,3% no euro e de 0,9% no ouro.
O que se pergunta agora é se providências dessa natureza não acionarão políticas de defesa cambial ao redor do mundo, que, na prática, neutralizarão os efeitos desejados pelo Fed.
CONFIRA
Esticada
Em 12 meses, até agosto, as operações de crédito no Brasil aumentaram 19,2%. Só o segmento do crédito habitacional avançou, no mesmo período, 51,0%. No gráfico acima, você tem uma ideia de como o crédito cresce em relação ao PIB.
Salto do consumo
A expansão do crédito e o forte aumento das despesas públicas são os dois mais importantes fatores que explicam o avanço de cerca de 7% no consumo no País. E são, também, a principal razão por que as importações se expandem mais de 45,0%.

Após reunião do FED, dólar pode ficar abaixo de R$ 1,70, diz consultoria

O dólar deve ser cotado entre R$1,69 e R$1,76 no curto e médio prazo, podendo chegar a R$1,65. Isso pois o preço corrente está sendo negociado abaixo das concentrações dos investidores profissionais, avaliam os executivos da consultoria Wagner Investimentos, Milton Wagner e José Raymundo de Faria Jr.
Eles acreditam que as declarações do FED (Banco Central dos EUA) e a valorização da moeda chinesa, associadas ao cenário brasileiro de juros altos, reserva cambial e PIB em expansão são as maiores evidências para esta estimativa.
Ontem, o FED comentou que a economia norte-americana continua frágil e que, por isto, novas medidas de desaperto monetário deverão ser necessárias, deixando transparecer um temor de deflação com alta taxa de desemprego.
“O FED irá anunciar em breve um novo programa de compra de ativos (“Quantitative Easing”), fato que coloca o dólar sob forte pressão, além de sinalizar que os juros básicos da economia norte-americana ficarão estáveis, talvez, até 2012”, projetam os consultores.
Por conta da recente apreciação da moeda chinesa, que voltou a ser negociada no maior patamar contra o dólar desde 1993, as commodities, cotadas em dólares, também continuarão se valorizando, consideram Milton Wagner e Faria..
“O Brasil continua com um diferencial de juros muito elevado em relação ao G-3; possui $270 bilhões em reserva cambial, a sétima maior do mundo (com 3,3% do total de todas as reservas globais); e PIB em forte expansão, fato que estimula as empresas a venderem títulos no mercado externo para financiamento de capital de longo prazo.”

Câmbio errado

A taxa de câmbio está errada no Brasil, o real está supervalorizado. Quem diz isso é o economista José Alfredo Lamy, da Cenário Investimentos. Reverter a situação é muito difícil. O dólar está caindo em relação à maioria das moedas do mundo. Um dos motivos é o anúncio do Federal Reserve, que vai despejar mais dólares na economia para tentar tirá-la da estagnação.
Lamy acha que o câmbio está errado e prescreve um caminho difícil: — É preciso cortar gasto público, trazer os juros para baixo e, assim, derrubar naturalmente o excesso de valorização da moeda brasileira.
Não tem outro caminho — diz o economista.
Hoje, o Brasil está neste desconforto: a moeda se valorizando, e isso reduz competitividade das exportações, aumenta as importações e o déficit em transações correntes é cada vez maior. O desconforto vem da dificuldade de se saber como evitar a valorização sem medidas que interfiram no sistema de câmbio flutuante.
O Ministério da Fazenda tem falado que tomará “medidas”, o Banco Central acha que o aumento do déficit externo vai naturalmente provocar a desvalorização da moeda brasileira, porque ele é um sistema que se corrige automaticamente.
Mas hoje, há vários fatores agindo na mesma direção: a da queda do dólar, aqui, e no resto do mundo.
Países exportadores de commodities estão com uma pressão adicional, porque as compras da China estão elevando os preços desses produtos e ajudam a valorizar as moedas desses países. Segundo a Ativa Corretora, em 23 de março de 2009, a relação do dólar australiano com o dólar americano estava 1,42 para 1; agora, está em 1,05. O gráfico abaixo, feito pela Tendências, mostra a valorização de algumas moedas em 12 meses. No Brasil, há ainda a pressão da entrada de dólares pela capitalização da Petrobras, mas Lamy acha que isso é temporário e não é o mais relevante. Para ele, o importante é o que se passa na economia internacional.
— Neste momento, o mundo vive a expectativa da expansão monetária adicional nos Estados Unidos, que vai acontecer em novembro.
O FED deu um recado claro de que a inflação (1,30%) está abaixo do que é o mandato (meta), ou seja, eles querem inflacionar a economia. Para isso, vão comprar títulos do Tesouro para aumentar o afrouxamento monetário. Em momentos assim, há busca por ativos de risco e o Brasil ainda é emergente, é ativo de risco — diz Lamy.
Ele acha que, enquanto o Brasil for bem visto como é agora, enquanto continuar a busca por ativos de risco, o país conseguirá financiar tranquilamente seu déficit em conta corrente, mas alerta que o desequilíbrio é crescente.
Para Lamy, o Brasil vive hoje a situação inversa da de 2002.
— Naquela época, o país tinha arrumado o lado fiscal, feito uma série de reformas, estava com a política monetária correta e câmbio flutuante, tinha tudo para ser bem avaliado, mas pelas incertezas políticas, a moeda ficou superdesvalorizada. Hoje, está muito bem avaliado, mas há uma série de sinais de que a situação fiscal está se deteriorando e a política monetária não é mais tão autônoma quanto já foi. Em economia, as coisas demoram a fazer efeito. Essas distorções podem acabar complicando a situação, quando o quadro internacional mudar.
O economista alerta que há uma enorme incerteza no mundo com o rescaldo da crise. Europa ainda não resolveu seu problema fiscal, a expansão monetária adicional dos Estados Unidos não levará à retomada da economia.
— O mundo está muito ruim, os parâmetros pioraram e, por isso, o Brasil tem sido considerado bom, relativamente aos outros, na área fiscal, mas não é bom para o Brasil a situação difícil do mundo — disse.
Por tudo isso, o economista não acredita que as compras de dólar do Fundo Soberano vão resolver o problema.
— Não vejo muito sentido nessas compras do Fundo Soberano, já que o Banco Central tem comprado naturalmente dólares. Se o Ministério da Fazenda quisesse ajudar, deveria cortar gastos e diminuir a absorção doméstica, permitindo a queda dos juros. Porque é uma contradição: o país está muito bem, mas tem uma taxa de juros de quase 11% — conclui.

O início de uma bolha

O segmento imobiliário é um dos principais exemplos de setor superaquecido com o crédito acessível
O sistema financeiro é um monstro que se autoalimenta”
Antonio de Julio, consultor em finanças pessoais da Moneyfit
Se as pessoas lessem sobre dinheiro como leem sobre futebol, o Brasil seria a maior potência do universo. Com essa frase, Antonio de Julio, consultor em finanças pessoais da Moneyfit, inicia sempre suas palestras, para alertar que o volume atual de débito entre os brasileiros indica o início de uma “bolha de crédito”, causada pelo acúmulo de dívidas anteriores. O sinal de alerta já foi ligado. A maioria da população esquece que o país tem uma das piores taxas básicas de juros do planeta, de 10,75% ao ano. Quando acrescida dos ganhos dos bancos e dos tributos sobre a intermediação financeira, os encargos sobem muito, chegando a 14% no cartão de crédito, por exemplo.
Empolgadas com as supostas “facilidades” de crédito dos últimos anos, as pessoas estão perdendo a noção do valor do dinheiro e passaram a comprar bens sem calcular juros e custos com manutenção, impostos e seguros. Segundo Julio, o estouro costuma ocorrer em janeiro, quando o consumidor que não calculou seus gastos toma pé da realidade e descobre que não terá como arcar com presentes de Natal, tributos, fantasia do carnaval, matrícula, uniforme e livros escolares e ainda manter o carro zero, recentemente adquirido com desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
A falta de percepção é refletida na alta dos preços e na demanda desenfreada por bens que não valem a metade do valor de face, assinalou o consultor. Em São Paulo, uma cobertura chega a R$ 25 milhões. “Com esse dinheiro, compro um castelo na França e ainda ganho uma vinícola. Nenhum imóvel aqui poderia custar mais que outros muito melhores em países desenvolvidos”, ironizou. O mercado imobiliário é um dos principais exemplos da bolha em formação.
Na avaliação do consultor, os bancos incitam a inadimplência ao oferecerem ganhos de apenas 0,5% nos investimentos de baixo risco e, ao mesmo tempo, cobrarem mais de 10% mensais no cheque especial. “O sistema financeiro é um monstro que se autoalimenta. Quando as pessoas não conseguem pagar, o nível de inadimplência sobe e aí as instituições financeiras tentam provar que, por isso, não poderão reduzir os juros”, salientou. Ele cita exemplos de pessoas que ganham até R$ 15 mil e vivem situações de aperto porque gastam além do que recebem.

Vale supera Petrobras em valor de mercado na Bolsa

SÃO PAULO - A Vale superou hoje a Petrobras em valor de mercado. Após as ações da mineradora registrarem valorização de mais de 1% no pregão de hoje na Bolsa de Valores de São Paulo, a companhia passou a valer R$ 247,884 bilhões. Já a petrolífera brasileira, cujos papéis seguiram pressionados às vésperas da definição do preço da oferta de ações, passaram a ter valor de mercado de R$ 246,721 bilhões, conforme dados da Economática.
A mudança nas primeiras posições na lista das maiores empresas brasileiras ocorreu nesta quarta-feira após a alta de 1,57% nas ações PNA da Vale e de 1,80% nas ON. Os papéis PN da Petrobras recuaram 1,40%, enquanto os ON cederam 0,40%. Investidores tentaram derrubar o preço do papel da estatal de petróleo no mercado à vista como estratégia para pressionar por um valor mais baixo da ação na oferta, pois o valor da ação da Petrobras na operação será determinado com base nas cotações de fechamento dos papéis na Bolsa amanhã, dia 23, e nos pedidos feitos durante o processo de coleta de intenções de investimento.
No mês passado, chegou-se a noticiar que a Vale teria superado a Petrobras em valor de mercado, mas a conta levava em consideração o total de ações de emissão de cada empresa. A Economática, no entanto, utiliza em seu cálculo a definição de valor de mercado mais aceita internacionalmente, que inclui apenas a quantidade de ações "outstanding", ou seja a quantidade total menos a quantidade de ações em tesouraria.
Mesmo que a tendência dos papéis de ambas as companhias se mantenha, a liderança da Vale não deve passar de sexta-feira, uma vez que a partir da próxima segunda-feira passarão a circular no mercado as novas ações da Petrobras. Com base nas cotações de hoje, a oferta pode totalizar R$ 132 bilhões, caso sejam subscritas todas as ações ofertadas, incluindo lotes adicional e suplementar.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Juros reais poderão cair para 2% em 2014, afirma secretário da Fazenda

São Paulo, 22/09 (Enfoque) - Se não houver maiores surpresas na economia, a taxa de juros real do Brasil - taxa Selic descontada a inflação - poderá cair para 2% em 2014. A afirmação foi feita hoje (22) pelo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Henrique Barbosa Filho, durante o 10º Encontro Nacional de Estudos Estratégicos (10º Enee).
A projeção do governo para a taxa de juros real é que feche 2010 em 5,8%. A tendência de queda, disse o secretário, deve continuar pelos próximos anos. "Taxas de juros mais baixas são uma tendência mundial e o Brasil não pode fazer um caminho diferente. Por isso, acredito que teremos condições de baixar os juros reais para 2% em 2014", afirmou o secretário.

Brasil manterá regras para entrada de capital estrangeiro

Mantega afirmou que o governo não está "fazendo gastos" com suas intervenções no mercado cambial, e sim trocando reais por dólares
As regras para se trazer recursos estrangeiros para o Brasil serão mantidas, afirmou hoje (22) o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, a oferta da Petrobras tende a atrair capital estrangeiro.
O ministro afirmou que o governo vai absorver o excesso de dólares que entrar no país, e o real vai se normalizar após a oferta da Petrobras.
Mantega disse ainda que as companhias brasileiras têm se beneficiado dos juros baixos para trazer mais dólares para o país com a venda de dívidas no exterior.
O Ministro da Fazenda falou que a atuação do governo no câmbio não é apenas uma promessa. Para ele, o país não será precipitado em suas intervenções no mercado cambial.
Mantega afirmou que o governo não está "fazendo gastos" com suas intervenções no mercado cambial e sim trocando reais por dólares.
O ministro declarou que o Banco Central (BC) não tem limite para comprar dólares, e que o Fundo Soberano dobra o poder de compra de dólar do governo.
De acordo com Mantega, o Tesouro Nacional "alimentará" o Fundo Soberano na compra de dólares e pode vender títulos para comprar mais dólares.

O Fundo Soberano e o dólar

O governo decidiu usar o Fundo Soberano do Brasil (FSB) para comprar dólares e conter a valorização do real. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, as autoridades estão preparadas para neutralizar o excesso de moeda estrangeira no mercado. Está previsto o ingresso de um grande volume de dólares para a capitalização da Petrobrás. "Se entrar, nós vamos comprar tudo", prometeu o ministro, em seu costumeiro tom de bravata. A intervenção do Fundo reforçará, segundo o plano anunciado, a ação do Banco Central (BC) no mercado de câmbio. De acordo com nota do Ministério da Fazenda, as novas operações não terão impacto no orçamento, por não se tratar de despesa pública, mas de gestão de recursos do Tesouro. Essa explicação é mais uma tentativa canhestra de esconder a realidade.
As compras adicionais de moeda estrangeira afetarão, sim, as contas públicas, porque uma de suas consequências será o aumento da dívida federal. Está prevista a emissão de títulos governamentais para as operações no mercado cambial.
Não haverá limites para as compras de dólares, de acordo com o Ministério da Fazenda. Mas o Fundo Fiscal de Investimento e Estabilização (FFIE), onde está aplicado o dinheiro do Fundo Soberano, só dispõe de cerca de R$ 18 bilhões. Esse valor se esgotará em uma semana, se as compras chegarem a US$ 1,5 bilhão por dia. Além do mais, o FSB é uma instituição única em seu gênero, diferente de todos os outros fundos do mesmo tipo, e essa distinção, como certas singularidades brasileiras, está longe de ser positiva.
Fundos soberanos são normalmente constituídos em países com superávits fiscais e com reservas cambiais consideráveis. Na América do Sul, o Chile se distinguiu pela formação de um fundo desse tipo, com grande capacidade de investimento no país e no exterior. Para isso o governo chileno seguiu um caminho previsível e seguro. Arrumou as contas públicas, por meio de um ajuste de longo prazo. Adotou políticas contracíclicas, poupando nos anos de fartura fiscal e gastando com um pouco mais de folga nas fases de retração econômica. Por esse processo bem calculado, foi constituído o fundo, destinado tanto a produzir ganhos para o Estado quanto a servir como colchão de segurança para os tempos difíceis.
Mas o Brasil não tem superávit fiscal real há muito tempo. O governo tem conseguido, ano após ano, apenas pôr de lado algum dinheiro para pagar uma parte de sua dívida mobiliária, formada por papéis do Tesouro. Superávit primário não é superávit fiscal, a não ser quando é mais que suficiente para cobrir o serviço da dívida. Dessa perspectiva, o Fundo Soberano do Brasil é uma aberração, se não for apenas uma ficção.
Se em alguns anos o superávit primário foi maior que o programado, o governo poderia tê-lo usado mais sabiamente pagando maior parcela dos compromissos e reduzindo o endividamento. Seria uma forma de abrir espaço para a diminuição dos juros básicos. Isso reduziria um dos fatores de atração do capital especulativo e atenuaria o risco de valorização do real - além de favorecer, naturalmente, a expansão dos negócios do setor privado.
A primeira concepção do Fundo Soberano do Brasil já foi errada. O ministro da Fazenda propôs inicialmente formá-lo com reservas internacionais. Seria usada uma parte do estoque de moeda estrangeira, quando o total estivesse próximo de uns US$ 200 bilhões. Quando apresentou a ideia, o ministro desconhecia, aparentemente, um importante detalhe: seria preciso mexer na lei para mudar a aplicação dos dólares administrados pelo BC. Anunciado o plano do ministro, o presidente do BC teve de entrar em cena para mostrar o equívoco.
O episódio evidencia, além do espírito de improvisação, um detalhe importante para avaliação de toda a história: a ideia de criação de um fundo soberano surgiu bem antes de se ter uma noção de como formá-lo. Havia apenas a intenção política de criar um instrumento financeiro para apoiar, entre outras iniciativas, investimentos de empresas brasileiras no exterior. Aparentemente, ninguém se deu ao trabalho de examinar a bem-sucedida experiência do Chile nem de entender por que o governo chileno criou seu fundo.

E no câmbio, quem manda?

Então, ficamos assim, cada um na sua.
O Banco Central, presidido por Henrique Meirelles, continuará a comprar moeda estrangeira “para evitar volatilidade nas cotações”, mas avisa que não tem nem meta cambial nem piso para a cotação do dólar.
Enquanto isso, o Ministério da Fazenda, comandado por Guido Mantega, informa que tem, sim, um piso para a cotação do dólar. É aquele abaixo do qual ficará caracterizada a “excessiva valorização do real”, seja lá o que isso signifique. E, mais, o Ministério da Fazenda prefere não explicar por que o Fundo Soberano do Brasil (FSB), por meio do Banco do Brasil, está agora autorizado a comprar moeda estrangeira sem precisar indicar previamente como e quando atuará e sob que limites.
Como a decisão de dar a partida para que o FSB comece a operar no câmbio foi tomada pelo seu Conselho Deliberativo, do qual fazem parte o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central, pressupõe-se que as instituições estejam sintonizadas ao menos sobre esse assunto.
Sabe-se, ainda, que o FSB já conta com munição de R$ 17 bilhões e que terá mais o que vier a necessitar, graças a transferências diretas do Tesouro, que, por sua vez, está autorizado a aumentar a dívida pública por meio de emissão de títulos.
Mas as dúvidas são enormes. A primeira delas consiste em saber qual é, afinal, a política cambial do Brasil e qual é a instituição que vai executá-la.
A segunda é se o FSB e o Banco Central atuarão no câmbio coordenadamente ou se também aí prevalecerá o cada um por si. Do ponto de vista imediato, a grande preocupação é a forte entrada de moeda estrangeira destinada ao reforço de capital da Petrobrás. O ministro Mantega avisou que o governo comprará tudo o que entrar no País de maneira a evitar novo mergulho do dólar. Para dar conta do excesso de dólares, falta saber se haverá divisão de tarefas e o que caberá a cada instituição.
Terceira dúvida é o impacto real sobre o câmbio no curto e no longo prazo. Neste momento, o FSB não vai fazer nada de especialmente diferente do que já fazia o Banco Central. Vai comprar dólares, tarefa que o Banco Central poderia executar, com maior ou menor intensidade. Só não vai alocar os recursos comprados na conta das reservas do País.
O FSB tratará de manter os dólares no exterior e fará as transferências que julgar necessárias. Pode repassá-los para o Banco do Brasil ou para o BNDES, que os usarão também lá fora, ou para apoiar a atividade externa das empresas brasileiras ou para financiar as exportações.
Um dos efeitos práticos desse jogo é o de que os ativos do FSB não poderão ser usados para estancar eventual corrida ao dólar, porque os recursos não estarão disponíveis; terão sido emprestados e só voltarão de acordo com o que estiver nos contratos. Ou seja, ainda que passe a ter prerrogativas de executor da política cambial, o FSB não poderá atuar com a mesma desenvoltura do Banco Central se o objetivo da hora for vender dólares.
Finalmente, sabemos que a dívida bruta do Brasil ultrapassou os 60% do PIB e que o País estará sujeito a ondas de desconfiança sempre que novas emissões de títulos puxarem esse nível muito para cima. Isso sugere que tanto o Banco Central (que precisa emitir títulos para esterilizar os efeitos das compras de dólares) como o FSB passarão a operar próximos do limite técnico do endividamento público.
CONFIRA
Ainda está dando
Por enquanto, o rombo em Contas Correntes está sendo coberto com folga com entrada de capitais. Mas os números estão inchando e é inevitável perguntar até onde será possível contar com esse financiamento.
Socorro verde-amarelo
Apenas o déficit com remessa de lucros e dividendos atingiu US$ 17,8 bilhões nos primeiros oito meses do ano, quase o dobro do que no mesmo período de 2009. É um indicador de que, ao longo da crise, as filiais brasileiras estão socorrendo suas matrizes em apuros no exterior.

O samba de uma nota de dólar só

QUANDO O dólar chegou à casa de R$ 1,71, o governo abriu a caixinha de ferramentas das intervenções no câmbio. Primeiro, passou a falar em público sobre intervenções. Segundo, abriu a porteira do Tesouro Nacional, agora liberado para comprar dólares à vontade. Terceiro, disse que pode vir mais.
Quando o dólar baixou a R$ 1,71, em outubro de 2009, o governo decretou o imposto (IOF) de 2% sobre investimentos, de não residentes, em ações e títulos de renda fixa.
Mas continuou a entrar dinheiro para aplicações em renda fixa e em ações de empresas brasileiras. Aliás, o fluxo aumentou, em termos absolutos e em relação ao PIB. No acumulado de 12 meses até agosto, investimentos em Bolsa e em títulos do governo continuaram a crescer, indicam os dados divulgados ontem pelo Banco Central.
Além do mais, juros e "spreads" de financiamentos externos vêm caindo. Isto é, parece que o custo do dinheiro não aumentou por causa do IOF, como diziam os críticos. O investimento estrangeiro direto ("na produção"), que não leva IOF na testa, é que passou a entrar mais devagarinho desde o ano passado.
Pode-se dizer que, sem IOF, teria entrado mais dinheiro, a custo menor. Pode ser. O futuro do passado é tão difícil de prever quanto o futuro do presente. De resto, o mercado de divisas não funciona como uma feira de bananas.

PISO?
Não faz muito sentido dizer que R$ 1,71 é um piso, nem que o dólar está onde mais ou menos esteve desde outubro do ano passado. Na prática, em termos reais, houve valorização do real. A fim de manter o "piso real", seria preciso que o dólar estivesse hoje pelo menos a R$ 1,77. Em relação à cesta de moedas de países com os quais o Brasil mais comercia, seria preciso que o real tivesse se desvalorizado uns 10%.
A conversa que mais se ouve nos corredores mais "ortodoxos" do governo é, óbvio, que não há piso nenhum, que se procura apenas reduzir a volatilidade do câmbio, dar atenção a fluxos excepcionais de dinheiro etc., a história de sempre.
O caso excepcional de agora seria a brutal entrada de dólares que comprarão ações da Petrobras, afora a alegria primaveril das empresas brasileiras, que aproveitam juros baixos e o redespertar dos mercados do Norte para captar bilhões.
As alas "menos ortodoxas" do governo estão falando pouco, um tanto assoberbadas pela política eleitoral. Mas começaram a falar mais grosso quando viram o dólar na casa suspeita do "171" e suspeitaram de um "movimento amplo" de desvalorizações competitivas pelo mundo (desvalorizar a moeda para exportar mais), o que não parece estar acontecendo, por ora.
Em suma, nem apocalípticos nem integrados parecem ter muita razão sobre os efeitos daninhos ou positivos da intervenção no câmbio. Os efeitos do IOF foram cinzentos. Mas tentar lidar com o câmbio apenas abrindo a porteira da compra de dólares pode ser outra história.
O custo da dívida feita para comprar os dólares em excesso está em torno de 1% do PIB, por ano. Isso num contexto de juros básicos mais altos e superavit fiscais primários menores -isto é, de risco de deficit público maior. Essa intervenção de uma nota só pode custar muito caro para pouco efeito.

Câmbio e seus fundamentos

A QUESTÃO cambial volta a ganhar destaque no debate público, e não apenas no Brasil -vide a intervenção recente das autoridades japonesas para enfraquecer o iene.
Uma característica do debate sobre taxa de câmbio é que este se presta a avaliações quantitativas tão precisas quanto errôneas.
As avaliações sobre o nível de equilíbrio da taxa de câmbio têm longo histórico. A metodologia tradicional utilizada com esse fim é a teoria da paridade de poder de compra (PPC), segundo a qual as taxas de câmbio devem igualar os preços de cestas de mercadorias equivalentes em diferentes países.
Um exemplo de aplicação da teoria PPC é o índice Big Mac, compilado pela "The Economist", no qual o conhecido sanduíche serve como cesta de consumo representativa.
Por esse índice, o real estaria sobrevalorizado em 31% ante o dólar norte-americano. Como a própria revista reconhece, esse é um indicador simplista, já que nem o Brasil só comercia com os Estados Unidos, nem todo mundo pode viver todo o tempo à base de Big Mac (afinal, as pessoas precisam se vestir, morar em algum lugar, estudar etc.).
Mas análises derivadas da teoria da PPC volta e meia são apresentadas sem as qualificações da revista britânica. Escolhe-se uma base de comparação, ajusta-se a taxa de câmbio nominal do período-base pela diferença entre a inflação acumulada no Brasil e em seus parceiros comerciais e logo chega-se a uma estimativa do que seria a taxa de câmbio nominal de "equilíbrio".
Se a taxa de câmbio do dia está apreciada, com o dólar, por exemplo, mais barato do que essa taxa de equilíbrio, então fala-se em defasagem cambial ou sobrevalorização.
A chave da questão é a escolha da base de comparação, que deve buscar períodos típicos, e não extraordinários. Por exemplo, é pouco razoável tomar como base o final de 2002, e decretar que, como o real se apreciou consideravelmente desde então (mais de 50%, descontada a inflação doméstica e dos parceiros comerciais, segundo séries na página do Banco Central) estaria "mega", "hiper" valorizado.
Ocorre que, no final de 2002, como se sabe, o Brasil estava apenas começando a sair de uma severa crise de confiança, e todos os ativos brasileiros estavam a preço de liquidação. Tomar dezembro de 2002 como base para a avaliação da evolução posterior da taxa de câmbio é, portanto, bastante inadequado, e leva a conclusões enganosas.
Mas a análise no espírito PPC tem os seus méritos, se aplicada com a devida cautela. Em vez de utilizar um período específico como base, parece mais razoável considerar a média da taxa de câmbio real por um período suficientemente longo, que inclua tanto momentos de bonança externa como de crise. Tomando por exemplo a taxa média para os últimos 22 anos como base, a taxa de câmbio estaria atualmente apreciada em cerca de 20%.
Note-se que nem chegamos ao final do artigo e já consideramos três números diferentes para o grau de valorização da moeda nacional.
Essa é talvez a maior limitação da teoria PPC -pode-se chegar com certa facilidade a avaliações quantitativas precisas, mas bem distintas entre si.
Outra teoria considera a interação entre a dinâmica da economia e do balanço de pagamentos para avaliar o nível das taxas de câmbio.
Simplificando bastante a análise, se a economia combina atividade econômica fraca com resultados em conta-corrente piores do que a média histórica, então trata-se de um caso de sobrevalorização cambial (Brasil 1998, por exemplo).
Se, por outro lado, temos crescimento acima da média com saldo em conta-corrente melhor do que o normal, configura-se um caso de subvalorização (Brasil 2004?).
Só que há uma ampla área cinzenta: períodos de crescimento fraco e resultado em conta-corrente melhores do que a média e momentos que combinam crescimento extraordinário com resultados em conta-corrente piores do que o normal, na qual julgar sobre ou subvalorização é bem mais complexo. Em resumo, há que se avaliar com muita cautela e certo ceticismo analítico estudos que ofereçam medidas muito precisas de sub ou sobrevalorização cambial.

Mantega prometeu impedir a apreciação do real - e agora há o risco de o mercado peitar a aposta

Foi o ministro Guido Mantega declarar que o governo vai “comprar, comprar” todos os dólares que chegam ao país para turvar o clima no mercado financeiro sobre a estratégica e mal resolvida questão cambial. O temor do governo é que o real passe por outra onda de valorização. O risco é o mercado peitar a aposta.
No mercado cambial, mais que nos demais, como o de ações, normal é o governo fazer antes o que cogita e só explicar depois por que fez. Mercado com forte concentração de operações especulativas em escala global, além de muito influenciado pelos contratos de venda ou compra de divisas a futuro, qualquer ruído soa como estrondo.
E mais aqui que em outras praças, já que as regras regulatórias reprimem o mercado à vista, em que há troca física de reais por dólares e outras moedas, e deixam solto o mercado futuro, surgindo daí distorções mal compreendidas até pelos economistas.
As análises sobre o que vai ao câmbio do par real-dólar têm sido, em regra, pueris. Há duas correntes irreconciliáveis.
Uma exalta as virtudes da economia em relação aos países ricos em crise. Ela advoga que o real forte reflete a descoberta do Brasil pelos investidores estrangeiros. Além disso, a desvalorização do dólar é um problema global, que atinge as moedas de países em que o câmbio é flutuante, como aqui - e não fixo, como na Rússia, ou flutuante no papel e, na verdade, colado ao dólar, como na China.
Conclui-se por aí que não há o que fazer, exceto atacar problemas estruturais de custos que oneram as exportações brasileiras, como impostos e logística deficiente. A superação dessas dificuldades equivale à depreciação do real, e sem impacto inflacionário.
A outra corrente, com a qual o ministro Mantega parece concordar, resiste a seguir o conselho da então ministra do Turismo, Marta Suplicy, durante o caos aéreo: relaxar e gozar. A questão é o que fazer além do que já fazem o Banco Central e Tesouro Nacional com as compras maciças de dólares no mercado sem provocar inversão de tendência de sua cotação no mercado brasileiro.
Juízo certo e parcial
Ambos os juízos estão corretos. O Brasil está no radar do capital estrangeiro, o de raiz, das multinacionais, que entram para ficar, e o financeiro, mais volátil, sobretudo o aplicado nos títulos da dívida pública e em ações. Entre todas as modalidades dos dólares que chegam, este é o mais pernicioso. Ao menor sinal de risco, cai fora, podendo detonar o tal “efeito manada” do capital.
Mas é com o hot money que o país tem zerado nos últimos meses os déficits em conta corrente, já que a fatia do investimento direto estrangeiro das multinacionais evolui, até pelo marasmo global, abaixo das necessidades de financiamento externo. Que vão crescer quanto mais o consumo interno e o ciclo de investimentos demandem importações, encolhendo o superávit da balança comercial.
Nada parece funcionar
Em princípio, os déficits externos, que explicitam a necessidade de financiamentos para fechar o balanço de pagamentos do país, não deveriam ser um resultado negativo, se implicassem desvalorização do real. É o que se espera do câmbio flutuante: depreciação, se um país começa a depender de funding externo para fechar suas contas.
Mas o Brasil tem reservas de US$ 268 bilhões com as quais passou sem grande aperto pelo pior da crise global. Como seguro contra os movimentos de aversão ao risco, elas atenuam a queda do real.
Então o real não se deprecia, mesmo diante dos déficits externos e das intervenções do BC enxugando as divisas resultantes do fluxo liquido de capitais. Ao contrário, tal movimento freia sua queda.
O que valoriza o real
Se no Brasil os juros dos papéis do Tesouro, sem risco e líquidos como dinheiro na mão, são bem maiores que nos EUA, na zona do euro e no Japão, onde a liquidez aflora como água na torneira, e a taxa de câmbio se expõe à influência do mercado futuro, muito maior que o à vista, tudo vira um negócio rentável.
Bancos e fundos usam seu crédito externo para entrar com dólares, vendê-los ao BC, aplicar os reais a juros e saborear a valorização entre os intervalos de entrega das divisas e liquidação da operação lá fora.
Sem trancar este canal ou reduzir a assimetria dos juros, não há o que fazer.
Volta de idéias tabus
O problema do real apreciado numa economia em que o resultado das intervenções cambiais conduzidas pelo governo é sistematicamente negado pela prática leva a que se cogitem soluções radicais. Para o especialista Sidnei Nehme, da corretora NGO, está “evidente que o Brasil precisa ter um sistema cambial híbrido e não flutuante”.
Nehme levanta um tema tabu: o câmbio fixo ou quase isso, como em várias economias emergentes e no Brasil do primeiro mandato de FH. A sistemática de inchar reservas, como diz, já está consumada, não mais se justificando aumentá-las como proteção ao país.
O custo é enorme para a política fiscal - cerca de US$ 20 bilhões ao ano, nas simulações do professor Marcio Garcia, da PUC-Rio.
Ao mesmo tempo, o bom momento do Brasil reduz os riscos para quem vem de fora aplicar em ativos nacionais, o que atrai toda espécie de capital, inclusive, segundo Nehme, o de “má qualidade”. E isso numa situação em que falta ao governo poupança interna, o que leva o Tesouro a se endividar, e condições para operar juros menores.

O real está condenado à valorização

“Não haverá crises financeiras no Brasil nos próximos anos”
Para economista da FGV, compra de dólares é apenas medida de emergência, e representa gastar recursos de forma deficiente.
A elevada liquidez no mercado financeiro internacional e a atração que representa o pré-sal são dois fatores que fazem com que a tendência seja de valorização da moeda brasileira daqui para a frente, analisa Ernesto Lozardo, professor da Fundação Getúlio Vargas.
Faz sentido colocar o fundo soberano para comprar dólares e reduzir o dólar?
É uma medida de emergência, não é estrutural. O real está condenado à valorização e isso vai continuar, porque há muita liquidez no mercado mundial e o porque o Brasil é uma das opções mais interessantes por conta de projetos como o pré-sal e a capitalização da Petrobras.
É um país no qual não dá para imaginar uma crise fiscal ou cambial. Não haverá crises financeiras no Brasil nos próximos anos.
Então usar o fundo soberano é insuficiente?
É. Aliás, o Brasil, mesmo quando teve um período de taxa de câmbio valorizada, em 97 e 98, suportou muito, e o volume de exportação continuou a crescer.
Mais do que o câmbio, o que afeta as exportações é a recessão na economia mundial.
Isso e os problemas estruturais do Brasil, como a alta carga tributária, a fraca infraestrutura, a mão de obra pouco qualificada. Não é o câmbio que vai mudar isso.
Trata-se de um desperdício inútil de recursos ou faz sentido para antecipar a operação de capitalização da Petrobras?
Com o real tão alto, fica muito barato comprar ações da Petrobras na operação desta semana. Essa é uma forma de as encarecer. Mas claro que é gastar recursos de forma deficiente.
Não vai resolver nada, a não ser uma menor valorização durante 2 ou 3 meses.
Vai forçar a inflação, afetar a competitividade interna nos importados e até pode causar desemprego local. Mas é melhor que colocar restrições à entrada de capital no Brasil.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Bolsas da Europa fecham em baixa antes de reunião do Fed

Os mercados da Europa caíram, com investidores cautelosos antes do término da reunião do Fed. Por outro lado, o setor de construção limitou as perdas após dados fortes do setor imobiliário dos EUA.
O índice FTSEurofirst 300 caiu 0,32% nesta terça-feira (21), para 1.083 pontos. "O mercado só está voltando um pouco após termos visto alguns números bons nos Estados Unidos", disse Heino Ruland, estrategista da Ruland Research.
O início de construção de moradias nos Estados Unidos cresceu acima do esperado, o que sustentou as ações de construção. A CRH, que tem 46% de suas operações nos Estados Unidos, subiu 1,9%.
"Agora, as pessoas estão ansiosas para ver o que vai sair da reunião do Fed", completou Ruland.
As ações de tecnologia pesaram contra um desempenho melhor do mercado. A Nokia, principal fabricante de celulares do mundo, recuou 4,5% após anunciar que adiará outra vez o lançamento do modelo N8 de smartphone.
Em Londres, o índice Financial Times fechou em baixa de 0,47%, a 5.576 pontos. Em Frankfurt, o índice DAX recuou 0,3%, para 6.275 pontos.
Em Paris, o índice CAC-40 caiu 0,1%, para 3.784 pontos. Em Milão, o índice Ftse/Mib encerrou em leve baixa de 0,06%, a 20.740 pontos.
Em Madri, o índice Ibex-35 registrou ganho de 0,18%, para 10.762 pontos. Em Lisboa, o índice PSI20 teve valorização de 0,67%, a 7.438 pontos.

Double-dip

Probabilidade de double-dip é maior do que o mercado acredita" - Ricardo Amorim, Ricam Consultoria
"De fato [o double-dip] é algo que me preocupa bastante, pois eu acredito que haja uma probabilidade significativamente maior de haver uma nova recessão nos Estados Unidos do que o que os mercados hoje acreditam. Se isso se tornar realidade, os mercados vão ter que reprecificar isso – e aí vai haver novas quedas nas bolsas, inclusive aqui.
Se fosse só pelos fundamentos da economia nacional, eu diria que a bolsa brasileira está até barata. Mas o Brasil não é uma ilha, ele está inserido em um contexto maior. E eu diria que nesse contexto há três pontos que preocupam. Por ordem crescente de importância: primeiro a China, que está desacelerando, o que terá um impacto na demanda por commodities e pode prejudicar a bolsa brasileira, já que há um peso grande de empresas exportadoras de commodities. É um problema preocupante, mas, como eu falei, é o menor dos três.
Segundo, a situação de vários países europeus não está resolvida. O risco de calote em países como Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha e até mesmo Itália não está afastado. Esse é, na minha opinião, o problema mais sério. Mas ele não deve afetar tanto neste ano - é mais provável que ele apareça mais para frente.
O mais sério nesse ano é o mercado de trabalho dos Estados Unidos, que continua ruim. Você vê que os efeitos dos estímulos fiscal e monetário estão parando, o desemprego está aumentando, a população está endividada e sem crédito. Com isso não tem como o consumo aumentar. Então, o resumo da ópera é que a probabilidade de haver uma nova rodada recessiva nos Estados Unidos me parece significativamente alta e isso vai forçar uma reprecificação também no mercado doméstico."

Projeto muda cálculo do IR em transações na Bolsa de Valores

A Câmara analisa o Projeto de Lei 7677/10, do deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT), que muda as regras para cálculo do Imposto de Renda em transações em Bolsas de Valores. O cálculo passará a considerar apenas os ganhos líquidos mensais acima de R$ 20 mil.
A legislação tributária brasileira já isenta do Imposto de Renda as transações que não ultrapassem R$ 20 mil, mas considera para efeitos de cálculo, o valor total da venda e não apenas o ganho líquido (diferença entre o valor da compra e da venda).
A lei atual, segundo Carlos Bezerra, “é insuficiente e, em parte, injusta, pois se o investidor se descuidar e realizar uma transação que supere esse limite em apenas um real, já sofrerá a pesada mordida do leão".
O autor argumenta que a medida vai estimular o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, permitindo que empresas nacionais obtenham financiamento mais fácil e barato.
Tramitação
O projeto, que tramita em caráter conclusivoRito de tramitação pelo qual o projeto não precisa ser votado pelo Plenário, apenas pelas comissões designadas para analisá-lo. O projeto perderá esse caráter em duas situações: - se houver parecer divergente entre as comissões (rejeição por uma, aprovação por outra); - se, depois de aprovado pelas comissões, houver recurso contra esse rito assinado por 51 deputados (10% do total). Nos dois casos, o projeto precisará ser votado pelo Plenário., será examinado pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania

A economia mundial e a manipulação do câmbio

Quando em 1944 foi realizada a Conferência de Bretton Woods, que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI), a grande preocupação era sair da guerra cambial em que os países desvalorizavam suas moedas (na época em relação ao ouro) para exportar mais, agravando a crise de então com um protecionismo que inibia o comércio mundial.
Dois planos foram apresentados: o do secretário do Tesouro dos EUA, Harry D. White, e o do economista mais conceituado da época, Lord Keynes. Este propunha que um banco de emissão administrasse um mecanismo de compensações para evitar que um país com déficit nas contas internacionais fosse obrigado a reduzir suas importações. Infelizmente, foi aprovado o de White, que deu aos EUA uma força excepcional, com o dólar como lastro mundial e cotação fixa em ouro, até 15 de agosto de 1971.
As regras do FMI estabeleciam que seria necessário sua anuência para desvalorizar a moeda nacional acima de 10%, o que, na prática, se tornou pouco respeitado, mas permitiu que em diversos países se chegasse a um sistema de câmbio flutuante ou de câmbio fixo, mas flexível, em relação à moeda norte-americana.
Esse último sistema continua a funcionar no país que se transformou em locomotiva da economia mundial, a China, com uma moeda desvalorizada em relação ao dólar e que afeta a maioria dos países. Por sua vez, o Brasil, com um sistema de câmbio flutuante, tem uma moeda supervalorizada em razão do ingresso de capital estrangeiro atraído pelo dinamismo da sua economia e pela alta remuneração que oferece ao capital externo, o que se traduz por um forte déficit em transações correntes.
A decisão do Japão de intervir no mercado externo para desvalorizar sua moeda colocou álcool na fogueira, aumentando as queixas contra a desvalorização da moeda chinesa.
A economia mundial encontra-se diante de novo surto de medidas protecionistas por manipulação da taxa cambial, que inibem o desenvolvimento do comércio mundial. Este dispõe de regras para reduzir o protecionismo ditado por tarifas aduaneiras e outras restrições, mas encontra-se sem armas para coibir o uso e abuso da manipulação da taxa cambial.
Seria necessário voltar ao sistema preconizado por Keynes, em que os países superavitários compensariam os deficitários. Parece difícil que o FMI, que atravessa uma crise, possa impor tal decisão. No entanto, o problema merece que a Organização Mundial do Comércio examine as possibilidades de se imporem sanções aos abusos da arma cambial.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Acertando no timing de mercado, Gordon Gekko volta no novo filme "Wall Street"

SÃO PAULO – Poucas pessoas conseguem acertar o timing dos mercados – a melhor e a pior hora de realizar um negócio, de entrar e sair numa ação. O diretor de cinema Oliver Stone é, aparentemente, uma delas – não no sentido mais literal, de comprae venda de ativos, mas no momento escolhido para o lançamentode “Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme”.
A continuação de “Wall Street”, de 1987, chega aos cinemas em uma hora em que os Estados Unidos ainda se recuperam da crise dos subprimes, em que os mercados – e os cidadãos de maneira geral - ainda seguem receosos com a recuperação da economia e com o que exatamente é feito nos principais centros financeiros do mundo. No Brasil, a estreia é esperada para a próxima sexta-feira (24).
De insider trader a Dr. Apocalipse
No novo filme, que se passa em 2008, pouco antes da crise do subprime vir à tona, Gordon Gekko – personagem baseado em Ivan Boesky - já não é mais um insider trader. Tampouco emergiu de seus oito anos de prisão um homem reformado. Ele se transformou em uma versão de Nouriel Roubini, o Dr. Apocalipse. "The ultimate bear" (o mais pessimista), diz um personagem.
Agora autor de livros sobre o mercado financeiro voltados ao grande público, ele discursa para universitários sobre o perigo do incentivo desenfreado ao consumo nos EUA, sobre a forte participação de operações financeiras nos resultados corporativos e, principalmente, para o perigo da multiplicação das hipotecas. “Eu dizia que a ganância era boa; e agora ela também é legalizada” e “a especulação é a mãe de todos os males” são algumas das falas da antiga estrela do Wall Street fictício.
Lehman, Fed e os “too big to fail”
O filme traz uma reconstituição do que ocorreu nos mercados antes da quebra do Lehman Brothers – que ganha um paralelo na ficção, com direito à reunião do Federal Reserve que decidiu não resgatar o banco da falência. Na versão de Oliver Stone, a quebra de uma grande empresa de investimentos é baseada não somente nos títulos podres, mas também em uma jogada de outro player do mercado, movida à vingança de uma bolha anterior.
O desenvolvimento da crise – com o recuo dos índices, o início dos defaults nas hipotecas e o resgate do Fed às instituições “too big too fail” (aqui, justificada pelo argumento de que, sem o socorro, “O mundo vai acabar. Como em 1929, mas mais rápido”) – tem seus efeitos nos dramas individuais dos personagens que dão corpo ao filme, especialmente no futuro genro de Gekko, o trader Jacob Moore. Assim como Bud Fox no primeiro filme, Moore aprende que o mundo dos investimentos não é tão sólido e fácil quanto parece. Já à Gekko resta apontar os gráficos do Dow Jones e FTSE100 e dizer “eu avisei” – além de um drama pessoal sem muitas ligações com os mercados.
Para quem acompanha de perto o mercado financeiro, é fácil identificar alguns personagens e situações, ligando-os com suas versões na vida real. Há, inclusive, aparições de personalidades do meio, como Warren Buffett, que aparece falando sobre a crise em um programa de TV. Já para quem não conhece Wall Street, apesar do ritmo acelerado, as explicações sobre subprimes, sobre como a crise se espalhou e se tornou sistêmica, e sobre o próprio funcionamento do mercado são simples.
Bolhas, bolhas, bolhas
Outro ponto abordado é o efeito de rumores, que são começados por um simples e-mail e por mero interesse pessoal. A repercussão de um rumor na mídia e nas casas de investimento ajuda a mostrar que, muitas vezes, não há justificativa palpável para o movimento de uma ação, e que os insider traders – tema do filme original – ainda agem abertamente no mercado.
As bolhas – da internet, do mercado imobiliário e, no futuro, de acordo com o filme, da energia verde – também ganham bastante espaço. Vale dizer que, ao estilo do real Dr. Apocalipse, Gekko diz que a bolha do subprime ainda não é a maior delas.
Ao recriar – ou dramatizar - as situações reais, Oliver Stone oferece ao espectador uma oportunidade de satisfazer sua curiosidade sobre como foi, ou pode ter sido, o colapso dos mercados financeiros, da perspectiva dos próprios responsáveis pela quebra. Com a recuperação da economia em dúvida, o Fed no foco do noticiário e os temores de um double-dip à frente, o timing não poderia ser melhor.

Cuidados com a carteira

Fraude de consultoria financeira ressalta as precauções que os investidores devem tomar para evitar as arapucas dos espertalhões
Por Márcio Kroehn
A proposta era tentadora: 100% de rentabilidade dos Certificados de Depósito Interfinanceiro (CDI) mais prêmios. Pena que não fosse verdade. Foi uma arapuca montada pela Dinero Consultoria, falsa empresa financeira que está sendo investigada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A Dinero parou de funcionar após o feriado de 7 de Setembro. Seus sócios, Wagner de Aguiar Moraes e Wanderley Dias Bertolucci, informaram os investidores que tudo estaria normalizado na terça-feira 14, o que não ocorreu. DINHEIRO procurou entrar em contato com a empresa, mas ninguém atendeu o telefone.
A Dinero é uma das diversas fraudes descobertas nos últimos meses. Seu perfil lembra o da Agente BR, casa de câmbio que criou irregularmente clubes de investimento. Seu proprietário, Túlio Vinícius Vertullo, foi multado em R$ 3 milhões pela CVM. O ambiente está favorável aos amigos do alheio. “Os oportunistas aparecem em momentos de muita liquidez e diversificação da poupança”, diz Marcello Klug Vieira, do Salusse Marangoni Advogados.
Quem quiser evitar perder a carteira tem de tomar alguns cuidados. O principal é desconfiar de rentabilidades milagrosas. Ganho inacreditável significa fraude ou riscos subestimados. “Os espertalhões contam com o desconhecimento e com a ganância de quem investe”, diz José Luis Doles, sócio do Barcellos e Tucunduva Advogados.
Outro cuidado é verificar se os administradores são reconhecidos pelas autoridades. Moraes e Bertolucci são velhos conhecidos da CVM. Eles foram advertidos pela autarquia em abril de 2009 pela venda irregular de cotas de um clube de investimento, o AXT, que foi desativado. A advertência está na página da CVM na internet. Finalmente, nunca tome decisões baseadas nas dicas de amigos.
Um especialista com conhecimento básico de mercado teria feito uma verificação prévia para saber se a Dinero, a AXT ou a Agente BR poderiam oferecer os produtos que estavam vendendo, e alertar o investidor para as irregularidades. Sem esses cuidados, o prejuízo é quase certo. “É difícil recuperar o dinheiro aplicado nesses esquemas, pois os recursos normalmente são desviados para outras finalidades”, afirma Vieira.
PRECAUÇOES PARA NAO SER ROUBADO:
1 - Desconfie de rentanbilidades exageradas
2 - Conheça os riscos de qualquer investimento
3 - Busque informações em fontes confiaveis, como a CVM
4 - Dicas de aplicações devem ser pedidas para especialistas
5 - Pense bastante antes de entregar seu dinheiro a terceiros

Entenda o porquê de o dólar estar derretendo e como isso afeta o País

A adoção pelo governo de um conjunto de medidas para conter a desvalorização do dólar envolve dois movimentos de compra, um no mercado à vista e outro no futuro.
Ao comprar os dólares que estão sobrando no mercado, o governo força uma valorização da moeda estrangeira nos mercados financeiros, porque haverá mais gente comprando dólares do que vendendo. Essa opção pela compra à vista já é feita hoje pelo Banco Central por meio dos leilões de compras semanais, e impacta diretamente nas reservas externas.
Como tem havido muita oferta de dólar no mercado brasileiro, em função dos investimentos de estrangeiros no País, o descompasso entre a quantidade de pessoas que está vendendo dólares e quem está comprando tem interferido diretamente na cotação do dólar.
Esta semana, o dólar atingiu a menor cotação do ano, girando próximo a R$ 1,70 para a venda. Para alguns especialistas, esse valor ainda é alto, visto que o País deve receber nos próximos dias entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões de investidores estrangeiros apenas com a capitalização da Petrobras.
Para que esse dinheiro todo não fique circulando no mercado, fazendo com que o valor do dólar seja menor, em função da oferta maior de moeda, o governo já se manifestou dizendo que vai comprar todo o fluxo que entrar com a capitalização. Para isso, decidiu utilizar os recursos do Fundo Soberano Brasileiro (FSB), espécie de poupança que o governo tem para utilizar em momentos em que o Estado precisa intervir na economia.
Mercado futuro
Há também uma pressão detectada no chamado mercado futuro de câmbio. Temendo que o dólar vá se enfraquecer ainda mais, alguns bancos têm feito contratos de venda de dólar que só serão executados daqui a alguns meses. Esses bancos apostam que é melhor vender o dólar caro que compraram há algum tempo por um preço um pouco menor hoje do que ficar sentado em uma montanha de dólares que começa a perder valor dia a dia.
Para evitar prejuízos ainda maiores, esses bancos vão ao mercado e oferecem contratos de câmbio a valores maios baixos dos praticados hoje. Ainda que pareça um mau negócio agora, a aposta desses bancos é que o dólar vá recuar ainda mais, o que quer dizer que é melhor perder pouco do que perder muito. Os compradores desses contratos são investidores que apostam quem o governo não vai deixar o dólar derreter.
De fato, o governo já disse que vai agir para conter uma desvalorização ainda mais forte do dólar, que, por estar mais barato, encarece o real brasileiro. Como tudo o que o País vende é em reais, quanto mais forte tiver cotada a nossa moeda, mais caro será nosso produto. Com isso, as indústria terão mais dificuldade em colocar seus produtos e, consequentemente, terão de demitir funcionários, gerando desemprego e reduzindo a riqueza do País.

Instabilidade asiática deve afetar commodities brasileiras

Os prováveis ajustes na economia chinesa poderão respingar no Brasil. O principal efeito da desaceleração deverá ser visto nas exportações brasileiras de commodities, segundo avaliação do economista Fabio Silveira, da RC Consultores.
"O grande problema é que ninguém sabe quanto há de crédito podre na economia chinesa. O que se sabe até agora é que existe a estratégia do governo de reduzir a concessão de crédito e criar limitações. Isso começou a ser feito pelo banco central chinês no início do ano, mas em um ritmo bem lento", explica Silveira.
Ainda que não se saiba em que proporção será feita a desaceleração do crédito na China a partir de agora, o fato é que haverá efeitos por aqui. "A correia de transmissão entre o Brasil e a China são as commodities.
Se o índice de inadimplência entre os chineses for de pequena proporção, entre 3% e 4%, podemos esperar uma derrubada de 10% a 20% nos preços internacionais das commodities, porque as encomendas de commodities vão perder o ritmo", adverte.
Além de prováveis problemas para grandes exportadores de minério de ferro e de grãos, a queda na cotação das commodities deverá causar arranhões na balança comercial brasileira.
Segundo cálculo de Silveira, as perdas causadas pela cotação menor podem chegar a até US$ 10 bilhões - ou seja, o saldo da balança comercial brasileira nos próximos 12 meses poderia, neste cenário, encolher de US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões.
"Se isso acontecer será inevitável que o Banco Central brasileiro mexa no câmbio, desvalorizando a moeda brasileira para de alguma forma compensar a queda nas exportações", analisa o economista da RC Consultores

O pesadelo americano

A crise revira os sonhos das famílias nos EUA e provoca mudanças que vieram para ficar
Economia é uma ciência temperamental. Bom, tenho lá minhas dúvidas se é ciência, mas temperamental certamente é. Sem pedir licença, ela invade nossos lares e remexe as nossas vidas das formas mais inusitadas.
No Brasil, ultimamente, temos assistido ao lado caridoso da madame Economia. Nos últimos anos, muitos brasileiros pela primeira vez tiveram acesso à casa própria, ao carro zero-quilômetro, a uma geladeira nova e colorida ou a uma viagem a Porto Seguro.
Nos Estados Unidos, por outro lado, dona Economia tem andado de mau humor e chacoalhado
até a estrutura da família americana.
A recessão dos últimos dois anos, com a destruição de trilhões de dólares em riqueza e mais de oito milhões de empregos, tem forçado americanos a cancelar a saída da casa dos pais e estudar perto de casa, a postergar a troca do carro e até, em alguns casos, fazer as malas e vir trabalhar por aqui em busca de melhores oportunidades.
Para azar das mocinhas casadoiras da terra do Tio Sam, os americanos casaram-se menos no ano passado. Como todo mundo que passou pela experiência sabe, casar custa caro. Com menos empregos e crédito, muitas noivas estão sendo enroladas ou, na melhor das hipóteses, tendo de aceitar apenas juntar os trapos, dispensando papel passado mais festa, vestido e bolo.
Quem acha que casar custa caro, espere até chegarem os filhos, fraldas, escola, aulas disso e daquilo. Temerosos, os americanos pisaram no freio também na procriação. O número de nascimentos despencou no último ano. Ampliar a família – ou não – ficou para depois.
Quer dizer que a crise e a recessão estão reduzindo o número e o tamanho das famílias americanas? Não necessariamente. Com a Economia, nada é tão simples.
Há um fato na vida familiar que pode custar ainda mais caro que o casório, a lua de mel e até os filhos: uma eventual separação. O número de divórcios despencou por lá. Melhor aguentar a jararaca do que acabar quebrado – parecem estar pensando muitos dos gringos.
Muitos acreditam que esta recessão americana não passa de uma crise passageira, como tantas outras, e que tudo logo volta ao normal. Se eles estiverem certos, estas tendências familiares serão revertidas.
Infelizmente, eu não tenho a mesma fé. Durante quase três décadas, famílias, instituições financeiras e o governo americano se endividaram para sustentar um estilo de vida em que o consumo era muito superior à renda. Mais hora, menos hora, chegaria o inverno e o momento de as cigarras terem de apertar os cintos, poupar mais, pagar dívidas e consumir menos. Desconfio que tal momento chegou. Tentativas do governo americano de aumentar os gastos públicos só conseguirão, na melhor das hipóteses, postergar o ajuste, roubando do futuro para tornar o presente menos duro.
Se eu estiver correto, é possível que um período longo de desempenho econômico medíocre cause mudanças permanentes na estrutura familiar americana. Menos casamentos, menos filhos e relações desgastadas mantidas apenas por razões financeiras. Pobre sonho americano.

Quebrados, EUA vão perder poder

Aqueles que culpam os americanos por tudo o que está errado no globo podem comemorar: em pouco tempo, os Estados Unidos deixarão de ser a nação mais influente do mundo. Com a crise financeira iniciada em 2008 e um enorme passivo de aposentadorias e sistema de saúde, o país está quebrado. Não terá mais dinheiro para gastar livremente em política externa e intervir nos cantos mais remotos do planeta. Esse é o prognóstico de Michael Mandelbaum, diretor do Centro de Política Externa Americana na Universidade Johns Hopkins. Mas até os mais aguerridos americanófobos podem acabar se lamentando, alerta Mandelbaum, autor do livro recém-lançado Superpotência Frugal - a liderança global dos Estados Unidos em uma era de vacas magras. Com menos dinheiro, há menos riscos de os EUA cometerem erros como a guerra do Iraque. Ou, como disse em coluna recente Thomas Friedman, de The New York Times, "hoje não temos dinheiro nem para invadir Granada". Mas Mandelbaum adverte que "o mundo vai ficar mais perigoso" com menos influência dos EUA, porque o país pode deixar de ser contraponto para ambições expansionistas de Rússia e China e não será tão eficiente como "garantidor" do petróleo do Oriente Médio.
O mundo ficará melhor com os EUA com um papel reduzido?
Muito provavelmente o mundo será um lugar pior, e não melhor, com o papel reduzido dos EUA. O papel dos EUA é único e muito importante, embora muitas vezes não seja reconhecido. Os EUA funcionam como um governador "de facto" do mundo, oferecendo ao mundo parte dos serviços que os governos nacionais oferecem a seus países. A política externa americana é essencial para a economia global e ajuda na estabilidade da Europa, Leste da Ásia e Oriente Médio. Sem isso, o mundo seria menos pacífico e menos próspero.
O declínio da liderança americana no mundo será aparente no curto prazo?
Os EUA já deixaram de atuar como "consumidor de última instância" no mundo. Países como a China não podem mais contar com os EUA para absorverem grande parte das exportações. E os EUA vão parar de se envolver em projetos de "construção de nação", como fizeram na Somália, Haiti, Bósnia, Kosovo, Afeganistão e Iraque. Os destacamentos americanas na Europa, Leste da Ásia e Oriente Médio para ajudar a manter a paz nessas regiões certamente vão ser reduzidos ou desaparecer. O perigo é radicais no Irã passarem a acreditar que nem os EUA nem nenhum outro país fará nada para contê-los, o que torna o mundo mais perigoso e aumenta os riscos de uma guerra no Oriente Médio
Os EUA já passaram por crises antes e nem por isso perderam a liderança. Por que desta vez é diferente?
Esta é a crise econômica mais séria desde a Grande Depressão de 30. Além disso, o governo americano vai enfrentar passivos financeiros de uma magnitude inédita nos próximos anos, de Previdência Social e assistência médica. Os custos vão subir vertiginosamente na medida em que os 75 milhões dos integrantes do "baby boom" começam a se aposentar.
Se houver uma crise séria - o Irã testar uma arma atômica -, os EUA, nesta era de vacas magras, deixariam de intervir?
Esperamos que todos os países cooperem para confrontar o Irã e impedi-lo de obter armas nucleares. Sem a necessária cooperação internacional, o fardo de garantir os interesses do mundo no Oriente Médio recai sobre os EUA. Mas é difícil prever o que o governo americano faria em tais circunstâncias.
Neste novo cenário geopolítico, qual seria o papel do Brasil? O país pode ser líder?
O Brasil certamente pode e dede contribuir para manter a ordem global. Uma maneira eficiente para o Brasil exercer liderança é juntar-se a outros países e impor sanções drásticas sobre o Irã.

O perigo de uma nova crise continua grande

Instituto Max Planck, de Munique, há o perigo de bolhas em países emergentes, como China e Brasil, porque essas nações seriam alimentadas hoje, em parte, pelo excesso de liquidez dos países industrializados. Autor do livro Schulden ohne Sühne (Dívidas sem expiação, em livre tradução), pela editora C.
H. Beck, Konrad, de 49 anos, afirma que a situação da Europa continua sendo bastante delicada. Em três anos, quando acabar a validade do pacote da União Europeia de ajuda aos países endividados, a insolvência de um deles poderia ser um terremoto capaz de ofuscar a última crise. O perigo continua grande, disse em entrevista ao GLOBO.
Graça Magalhães-Ruether
Correspondente
O GLOBO: É possível uma nova crise, tão grave quanto a que começou em 2008? KAI KONRAD: Se houver uma insolvência em nível europeu, então teríamos um terremoto que ofuscaria a última crise. O perigo continua grande. Trata-se de um desdobramento que não vai ocorrer amanhã, mas pode vir nos próximos dez anos. O risco de uma nova crise nos próximos três anos vejo como pequeno.
Há perigo também nos países emergentes? KONRAD: Uma grande parte do excedente de liquidez dos países ricos, principalmente de EUA e na Europa, foi transferido para os países emergentes, o que pode causar novas bolhas. Se houver um problema na China, os efeitos seriam graves na Europa, que está se recuperando às custas da fome de importação chinesa. Há anos se fala sobre o superaquecimento da China, que pode chegar a um colapso.
O endividamento dos países industrializados pode desencadear uma nova crise? KONRAD: O nível de endividamento dos países industrializados adquiriu uma dimensão nunca vista em tempos de paz. Explosão das dívidas como vimos agora tinha ocorrido antes somente nas guerras mundiais.
Há então o perigo de uma nova crise? KONRAD: Se não forem tomadas medidas, chegaremos a situação de que países europeus que aumentaram as suas dívidas precisarão ser ajudados pelos outros e, com isso, teremos uma comunidade de transferência, o que oculta muitos perigos. Um deles é o de falência de todo o grupo do euro. O segundo é o de que a Europa possa rachar como bloco monetário. Poderemos chegar à situação extrema de que alguns países europeus não queiram mais participar e prefiram deixar o bloco.
A situação de Grécia, Espanha e Portugal melhorou? KONRAD: A calma é apenas temporária. Com o grande pacote de socorro da UE, deixa de existir o perigo de uma insolvência atual desses estados.
Mas a questão importante é saber o que vai acontecer quando o pacote sair de vigor, em três anos, e esses países forem de novo entregues a si mesmos. Como reagirão os mercados? Esses países precisarão estar preparados para o pior, caso em três anos não tenham mais acesso a créditos do mercado. Uma saída seria o prolongamento do pacote. E aí teríamos a constatação da união de transferência, perigo sobre o qual eu falo no meu livro.
A Grécia tem chance de resolver o problema de sua dívida gigantesca em três anos? KONRAD: Eu vejo como irrealista esta possibilidade.
Mesmo um programa de saneamento ambicioso não teria o efeito necessário, porque o problema é grave demais.
Os EUA estão piores do que a Europa? KONRAD: A situação na Europa é mais precária.
Há vantagens e desvantagens. A vantagem é um Banco Central Europeu (BCE) que persegue uma meta principal e é protegido pelos acordos europeus, que só podem mudar com a assinatura de todos os membros. Isso protege mais o BCE de intervenções do que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano). O perigo de o banco central provocar uma desvalorização da moeda é maior nos Estados Unidos do que na Europa. Mas, por outro lado, temos mais problemas de orçamento na Europa do que nos Estados Unidos.