quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Moeda americana já ronda R$ 1,70

A cada pregão, uma nova baixa. Essa é a regra para o preço do dólar nas últimas 10 jornadas no mercado local.
Novamente os vendedores não se abalaram com as duas compras à vista feitas pelo Banco Central (BC) e levaram a divisa americana a fazer nova mínima para o ano.
O dólar comercial fechou o dia valendo R$ 1,708, queda de 0,46%, e menor preço desde 9 de novembro de 2009, quando valia R$ 1,701. Na mínima intradia, a moeda foi negociada a R$ 1,705.
A onda de venda parece não ter limite, mas o que se percebe nas conversas com operadores é um desconforto em operar no atual momento. Afinal, quanto mais vendido o mercado, maior a chance de uma reversão.
O momento não é propício para uso do swap reverso
Para o chefe de estratégia de renda fixa de mercados emergentes do Bank of America Merrill Lynch, Daniel Tenengauzer, a taxa de câmbio se aproxima de uma zona de preço na qual o retorno de se apostar em nova queda não compensa o risco da operação. Ou seja, o real começa a ficar caro, principalmente se o dólar for abaixo de R$ 1,70.
Na visão do estrategista, há muitos eventos positivos embutidos na cotação da moeda brasileira, como captação da Petrobras e outras fontes de fluxo externo, e poucos eventos que poderão se mostrar negativos. Entre eles toda a incerteza embutida na transição de governo.
Na visão de Tenengauzer, essas incertezas pouco precificadas devem fazer preço no mercado logo após a conclusão do processo eleitoral, pois é nesse período, entre outubro e janeiro, que o mercado conhece quem serão os novos componentes da equipe econômica e do colegiado do Banco Central (BC). Outra dúvida citada pelo especialista é qual será a atuação do BNDES no crédito às empresas com crédito subsidiado.
Ainda de acordo com Tenengauzer, dólar abaixo de R$ 1,70 também não é interessante para o governo por uma série de fatores. Entre eles, como a inflação está sob controle, rodando abaixo de 5%, não há necessidade de utilizar a taxa de câmbio valorizada como instrumento de política monetária.
Mas como lidar com o momento atual de queda no qual já se fala em dolar a R$ 1,65? Para Tenengauzer, não seria interessante para o BC entrar de cabeça no mercado contra todo esse fluxo esperado. Para o especialista, o BC deveria esperar esse fluxo se concretizar para atuar de outras formas no mercado.
E dentro desse contexto podemos colocar a discussão sobre o uso do swap cambial reverso, que na prática significa compra de dólares no futuro.
O economista e professor de Administração Financeira da PUC-Rio, André Cabus Klotzle, avalia que lançar mão dessa ferramenta nas circunstâncias atuais de mercado pode configurar certo grau de "risco sistêmico".
Isso ocorre porque o mercado não dispõe dos dólares físicos para a cobertura de posições vendidas montadas na expectativa dos recursos que a oferta da Petrobras e outras captações trarão ao país.
"Ou seja, a eficácia do instrumento, em um instante de elevada alavancagem dos agentes, seria alta demais e traria riscos indesejáveis", explica Klotzle.
Entre os riscos indesejáveis estão prejuízos aos bancos e a possibilidade de um "overshooting" no curto prazo. Os riscos se intensificam ao passo que os "stop loss" (limites de perda) forem atingidos, forçando os agentes a adquirir dólar físico ou futuro num ambiente momentaneamente de liquidez escassa.
Tendo isso em vista, o professor acredita que o momento de se lançar os swaps reversos seria depois que os recursos da Petrobras já tivessem internalizados e a exposição dos bancos no mercado à vista fosse menor, assim como a dos estrangeiros no mercado futuro. Tal postura evitaria a formação de novas posições especulativas ou "bolhas" no câmbio.
A ressalva, segundo Klotzle, é que, nesse caso, o efeito do swap seria temporário e o BC seria obrigado a rolar esses contratos mensalmente. Caso contrário, os investidores vendidos em swap reverso forçariam uma cotação mais baixa para o dólar, para ganhar além da variação dos juros a variação cambial do período.
Eduardo Campos é repórter

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