segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Quebrados, EUA vão perder poder

Aqueles que culpam os americanos por tudo o que está errado no globo podem comemorar: em pouco tempo, os Estados Unidos deixarão de ser a nação mais influente do mundo. Com a crise financeira iniciada em 2008 e um enorme passivo de aposentadorias e sistema de saúde, o país está quebrado. Não terá mais dinheiro para gastar livremente em política externa e intervir nos cantos mais remotos do planeta. Esse é o prognóstico de Michael Mandelbaum, diretor do Centro de Política Externa Americana na Universidade Johns Hopkins. Mas até os mais aguerridos americanófobos podem acabar se lamentando, alerta Mandelbaum, autor do livro recém-lançado Superpotência Frugal - a liderança global dos Estados Unidos em uma era de vacas magras. Com menos dinheiro, há menos riscos de os EUA cometerem erros como a guerra do Iraque. Ou, como disse em coluna recente Thomas Friedman, de The New York Times, "hoje não temos dinheiro nem para invadir Granada". Mas Mandelbaum adverte que "o mundo vai ficar mais perigoso" com menos influência dos EUA, porque o país pode deixar de ser contraponto para ambições expansionistas de Rússia e China e não será tão eficiente como "garantidor" do petróleo do Oriente Médio.
O mundo ficará melhor com os EUA com um papel reduzido?
Muito provavelmente o mundo será um lugar pior, e não melhor, com o papel reduzido dos EUA. O papel dos EUA é único e muito importante, embora muitas vezes não seja reconhecido. Os EUA funcionam como um governador "de facto" do mundo, oferecendo ao mundo parte dos serviços que os governos nacionais oferecem a seus países. A política externa americana é essencial para a economia global e ajuda na estabilidade da Europa, Leste da Ásia e Oriente Médio. Sem isso, o mundo seria menos pacífico e menos próspero.
O declínio da liderança americana no mundo será aparente no curto prazo?
Os EUA já deixaram de atuar como "consumidor de última instância" no mundo. Países como a China não podem mais contar com os EUA para absorverem grande parte das exportações. E os EUA vão parar de se envolver em projetos de "construção de nação", como fizeram na Somália, Haiti, Bósnia, Kosovo, Afeganistão e Iraque. Os destacamentos americanas na Europa, Leste da Ásia e Oriente Médio para ajudar a manter a paz nessas regiões certamente vão ser reduzidos ou desaparecer. O perigo é radicais no Irã passarem a acreditar que nem os EUA nem nenhum outro país fará nada para contê-los, o que torna o mundo mais perigoso e aumenta os riscos de uma guerra no Oriente Médio
Os EUA já passaram por crises antes e nem por isso perderam a liderança. Por que desta vez é diferente?
Esta é a crise econômica mais séria desde a Grande Depressão de 30. Além disso, o governo americano vai enfrentar passivos financeiros de uma magnitude inédita nos próximos anos, de Previdência Social e assistência médica. Os custos vão subir vertiginosamente na medida em que os 75 milhões dos integrantes do "baby boom" começam a se aposentar.
Se houver uma crise séria - o Irã testar uma arma atômica -, os EUA, nesta era de vacas magras, deixariam de intervir?
Esperamos que todos os países cooperem para confrontar o Irã e impedi-lo de obter armas nucleares. Sem a necessária cooperação internacional, o fardo de garantir os interesses do mundo no Oriente Médio recai sobre os EUA. Mas é difícil prever o que o governo americano faria em tais circunstâncias.
Neste novo cenário geopolítico, qual seria o papel do Brasil? O país pode ser líder?
O Brasil certamente pode e dede contribuir para manter a ordem global. Uma maneira eficiente para o Brasil exercer liderança é juntar-se a outros países e impor sanções drásticas sobre o Irã.

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