quinta-feira, 13 de maio de 2010

24 hours a day em BVMF3

Os caras querem transformar o negócio em vício. Primeiro marcam uma teleconferência às 12h30 (não almoçamos mais) e agora vem com essa história de dupla listagem em Hong Kong, plano infalível para aproveitar todos os benefícios de um fuso-horário total (não dormiremos mais). Daqui para frente, é stock market 24h hours a day, já começando pelas
noites de domingo. Nossa impressão? Adoramos! Amamos o negócio e vivemos dele - mas não vá pensando que iremos ceder ao ponto de alguns market junkies que conhecemos por aí. Acredite, o maior beneficiado disso tudo é o sujeito que leva um punhado de BVMF3 na carteira.
Não estamos falando isso somente pela porrada que as ações deram ontem (+7,48%).
Conforme havíamos comentado na véspera, o resultado veio muito bom mesmo, mas o salto das ações envolve outras coisas, além do fato de ter sido precedido por um tombo de mesma magnitude. Gostamos dos números pois ninguém esperava o controle dedicado de custos (depois do 4T09 ter passado a impressão de relativo desleixo nesse sentido), a margem Ebitda beirando os 73% - graças a esse controle de custos - e a redução do capex e
opex para 2010 (ainda não confirmados, mas apostamos na confirmação depois do que foi falado na teleconferência/almoço). Melhor ainda com o corte de 16% nas despesas operacionais.
No entanto, o melhor é olhar para frente. Ontem mesmo encontramos alguns motivos exbalanço daqueles que mexem com a percepção sobre esse papel. BVMF3 é um case curioso, com um valuation muito atrativo perante os poucos peers internacionais e subestimado em alguns trechos específicos, como a capacidade dos derivativos em gerar resultado.
Assim como o Edemir Pinto não vemos motivo para a bolsa brasileira carregar desconto tão grande perante alguns players como a Hong Kong Exchange (24,5x P/L médio de 12 meses, contra 28,7x da HK), uma vez que não deve nada em dividendos, em resultados e no modelo de negócio (BVMF é completamente verticalizada: tem custódia, tem derivativos, tem equity,
tem tudo o que quase nenhuma outra tem).
Ademais, semana que vem o Edemir vai tomar um chá na casa dos chinas, na expectativa de fechar o negócio da dupla listagem. Vai funcionar assim: o cara lista aqui e automaticamente é listado na bolsa asiática (provavelmente só os “Novo Mercado”); e vice-versa. Assim, conseguimos expediente full para ambas e muito mais liquidez sem o impacto de custo
proibitivo às empresas que uma oferta sujeita a todos os procedimentos da regulação local normalmente exigiria. No entanto, é coisa para o segundo semestre do ano que vem.
Por enquanto, nos atentemos a esses sinais além-balanço. Para começar, deem uma olhada no gráfico de evolução do high frequency. Ainda não é nada. Na apresentação dos resultados, foi clara a mensagem que a alta frequência é prioridade, o que fica claro na política de preços
com descontos por volume para os high traders. Para um entendimento a fundo da coisa, recomendo uma volta ao Empiricus 119.
Mesmo com o high frequency ainda engatinhando, note que os volumes estão cada vez mais fortes. Ontem saiu outro estudo Economática sobre o assunto, que apontava maio como recorde histórico de negociações no segmento Bovespa, com média diária de R$ 7,1 bilhões - considerando todos os negócios de mercado à vista e lote padrão.
Lembramos que BVMF3 é um call muito sensível às variações de volume de negociações, o que por um lado é ruim dada a imprevisibilidade da fonte de receitas, mas alimenta perspectivas das mais favoráveis, considerando:
(i) que a situação fiscal dos Pigs melhorando e restaurando a confiança, os gringos devem voltar - ainda estamos com saldo estrangeiro negativo no ano; (ii) a relação cada vez mais estreita com o CME Group limita ainda mais essa história de concorrência, com outra bolsa entrando no país para dividir os volumes. Em nossa opinião, o movimento de consolidação ao extremo dos últimos anos torna tendência para o futuro 4 ou 5 grandes grupos dominando a liquidez nos quatro continentes - as barreiras são enormes (iii) o high frequency emergente e o crescimento na base de pessoa física de 500 mil para 5.000.000 de investidores, que devem justificar as perspectivas de crescimento Olhando por este ângulo, vemos um negócio com margem de 73%, zero de dívida, cash confortável, 80% payout do lucro societário e monopólio em uma das bolsas mais promissoras do mundo - agora, tomando conta do expediente completo do cidadão.
Sabemos que o negócio é atrativo e viciante, mas vá com moderação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário