quinta-feira, 20 de maio de 2010

O pior da crise externa ainda pode estar por vir

O mercado engatou um acentuado movimento de queda nos últimos dias e, com isso, uma parte dos analistas passou a achar que os ativos já caíram muito e que, portanto, é hora de ir às compras. Esse argumento está embasado principalmente na tese de que, com o pujante crescimento econômico, o Brasil passaria ao largo da crise internacional. Nem todos comungam essa mesma ideia. Há quem acredite que o cenário externo ruim deve atingir todos os países e que, portanto, o pior ainda não aconteceu. É difícil de acreditar, considerando os níveis baixíssimos a que a bolsa já chegou. Ontem, o Índice Bovespa fechou em baixa de 1,89%, aos 59.689 pontos, a menor pontuação desde 15 de setembro do ano passado, quando encerrou aos 59.263 pontos. O índice cai a cinco pregões seguidos e nesse período acumula uma queda de 8,48%. Neste mês, tomba 11,61%.
O diretor da agência de classificação de risco SR Ratings e presidente da RC Consultores, Paulo Rabello de Castro, é do grupo dos que acreditam que essa crise é uma continuação da que ocorreu em 2008 e que está longe do fim. "Estamos num momento perigoso, sendo que essa turbulência ainda nem chegou a países mais distantes, como o Brasil", diz Rabello de Castro.
Ele acredita que a diferença entre este momento e o de 2008 é que agora os problemas são muito maiores e estendidos à vários países. "Lá atrás, a crise começou como algo circunscrito ao setor hipotecário americano, enquanto hoje já pega o sistema financeiro de vários países da zona do euro, com sequelas em outras regiões."
A grande pergunta que os investidores brasileiros se fazem hoje é sobre como a crise chegará aqui. Segundo o diretor da SR Ratings, a via de contaminação deve ocorrer pela economia real, especificamente por meio de uma desvalorização das commodities. Esse movimento só não ocorreu ainda graças à liquidez injetada nos bancos, que deram condições para que tais instituições continuassem apostando muitas fichas nessas matérias-primas.
Essa ciranda financeira das commodities não deve ser eterna, até por uma questão de sobrevivência da economia mundial. "Desde a grande depressão, em 1929, o mundo nunca saiu de uma crise com a alta das commodities; pelo contrário, a queda das matérias-primas é que permite um respiro dos setores industriais, que em seguida repassam ao consumidor final", explica Rabello de Castro.
Ele acredita que as consequências dessa segunda "pernada" da crise podem ser ainda piores do que no primeiro movimento, se houver problemas adicionais. Como decisões protecionistas de alguns países ou regiões ou uma brecada não esperada do crescimento da economia da China.
Ontem, o Ibovespa rompeu a barreira psicológica dos 60 mil pontos. Isso é visto por alguns como um empurrão para o indicador ir testar a casa dos 50 mil a 52 mil pontos. Já para o superintendende de renda variável da SulAmérica Investimentos, Ricardo Maeji, a queda acentuada com alto volume de negócios, como tem ocorrido, pode ser um bom sinal de que as vendas estão chegando ao fim. Ele lembra que, com a alta dos lucros das empresas e a queda das ações, os indicadores da Bovespa, como preço sobre lucro (P/L), ficaram baratos, o que pode deflagrar uma recuperação dos preços.
As ações que caíram muito nos últimos dias identificadas como parte das carteiras dos fundos alavancados da GWI tiveram um respiro ontem. As ordinárias (ON, com voto) da B2W subiram 5,33% e as preferenciais (PN, sem voto) da Lojas Americanas, 3,74%. Comenta-se no mercado que os fundos da gestora já reduziram na bolsa boa parte de suas posições alavancadas

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