segunda-feira, 24 de maio de 2010

O retrato do caos

Você se lembra das projeções do Ibovespa a 85 mil pontos? Esqueça. Na semana passada, o principal índice de ações da Bovespa voltou a ficar abaixo de 60 mil pontos. Na quinta-feira 20, fechou em 58.192 pontos, em queda de 19% desde 8 de abril, quando bateu em 71.784 pontos
O desaparecimento de riqueza é brutal: no período, somente o valor de mercado da Petrobras diminuiu R$ 77 bilhões, equivalente a um Banco do Brasil. Foi uma espécie de mini-crash, lento e agonizante. Dia após dia (veja gráfico), prevaleceu a percepção dos investidores e gestores de dinheiro alheio de que dias piores virão.
O foco das preocupações é a União Europeia. Nem mesmo o gigantesco pacote de ajuda de quase US$ 1 trilhão, anunciado em Bruxelas no último dia 10, foi suficiente para acalmar os mercados. No Brasil, o dólar chegou a R$ 1,89, alta de 8% no mês. O que fazer?
Antes de mais nada, é preciso entender os motivos de tanta agitação. No fundo, paira no ar o cheiro de calote. Primeiro, da Grécia. Depois, de outros países como Portugal, Espanha, Itália e Irlanda. Quem tem dinheiro investido em títulos públicos tem medo. “O pacote da União Europeia resolve um problema de liquidez no curto prazo, mas não elimina os problemas fiscais que, em três anos, podem resultar na inadimplência dos governos”, diz o estrategista-chefe do banco Crédit Agricole no Brasil, Vladimir Caramaschi.
Esses países terão de fazer cortes de gastos públicos profundos e aumentos de impostos, segundo a velha receita de ajuste por recessão aplicada pelo Fundo Monetário Internacional. Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Inglaterra já anunciaram a tesoura nas despesas, o que enfureceu sindicalistas e eleitores nesses países. Ou seja: o desemprego vai aumentar e as empresas vão ganhar menos dinheiro, inclusive as brasileiras que exportam para aqueles mercados.
“Há um problema sistêmico na Europa. O crescimento vai ser menor e ponto. Falta um líder, como Gordon Brown, para bancar que ninguém vai quebrar”, diz Antonio Milano, diretor-geral da Fator Corretora.
Para piorar, Angela Merkel, premiê da Alemanha, anunciou na quarta-feira 19 medidas populistas para proibir a especulação financeira, especificamente no caso das vendas a descoberto. A medida, unilateral, foi vista como falta de unidade na coordenação política da União Europeia, um conjunto de 27 países dos quais 16 usam a mesma moeda. Os mais pessimistas enxergam o fim do euro lá na frente. A queda diante do dólar supera 13% no ano. O nervosismo não tem data para acabar.
Nos momentos de alta volatilidade, os especialistas sempre recomendam três coisas: cautela, cautela e cautela. Especialmente no mercado de ações. “O investidor deve ficar longe da bolsa”, afirma o estrategista da Pentágono Asset, Marcelo Ribeiro. Quem é que pode garantir qual é o piso do Ibovespa antes de voltar a subir?
Porém, para ganhar dinheiro com ações é preciso correr riscos e comprar na baixa para vender a alta. A bolsa ainda vai sofrer muito no curtíssimo prazo, mas o País vai crescer 6% em 2010, afirma Odair Abate, estrategista do private bank do Santander. “É uma oportunidade de compra.
A bolsa está relativamente barata para investidores que não pensam no retorno imediato”, afirma. Segundo ele, os setores mais recomendados continuam sendo os voltados para o mercado interno, como varejo, alimentação, financeiro e infraestrutura. Mas lembre-se: é preciso ter estômago de aço

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