Quando uma empresa brasileira fala em listar ADRs (American Depositary Receipts) no mercado norte-americano, a reação é normalmente positiva. Afinal, não dá para ignorar um mercado com um volume mensal de mais de US$ 1 trilhão – de acordo com números da Nyse (New York Stock Exchange). Só em abril, o volume negociado nas ações lá listadas atingiu US$ 1,077 trilhão.
Nos ADRs propriamente ditos, o volume também é alto. Atualmente, há 33 papéis de 29 empresas brasileiras negociados na Bolsa de Nova York, com um volume médio diário que ultrapassa os US$ 3,2 bilhões. Isso significa uma cifra quase tão grande quanto a negociada diariamente em toda a bolsa paulista, com suas centenas de ações – em abril, a média diária de negócios no segmento Bovespa foi de R$ 6,93 bilhões.
E o mercado está longe de saturado, com os volumes dos papéis brasileiros negociados em Nova York estão em plena ascensão. “O apetite por Brasil no mercado norte-americano cresceu muito nos últimos dois anos, principalmente após a crise”, explica Alex Ibrahim, diretor administrativo e chefe regional para América Latina, Bermudas e Caribe do Grupo NYSE Euronext.
Não à toa, a Vale aparece em 23º lugar dentre as ações com maior volume de negociação na Nyse em 2010, com um total de US$ 14,844 bilhões, enquanto a Petrobras ocupa a 26ª posição, somando US$ 14,496 bilhões, conforme dados atualizados até 7 de maio.
Outros tipos de investidores
Além do maior interesse em papéis brasileiros, o mercado norte-americano também está direcionando um tipo diferente de capital aos ADRs listados na Nyse. “É um dinheiro muito mais de longo prazo do que antes da crise, que era um dinheiro que chamamos de fast money”, comenta Ibrahim, informando que “são fundos, que chamamos de tier 3 e tier 4, que nunca olharam Brasil, mas que agora estão começando a olhar”.
Nessa mudança de dinâmica há também o maior interesse e participação de investidores de varejo norte-americanos - pessoas físicas que estão querendo participar do crescimento do Brasil. Voltando ao exemplo da Vale, Alex Ibrahim afirma que, em cada estado norte-americano, a mineradora brasileira tem pelo menos um investidor pessoa física.
Vantagens dos ADRs
É impossível falar das vantagens de listagem de ADRs sem comentar da enorme liquidez presente no mercado norte-americano, no qual os investidores podem entrar e sair do papel com uma facilidade muito maior do que no mercado brasileiro. Porém, essa não é o único benefício.
Para os investidores internacionais, a vantagem são os custos mais baixos e a facilidade de mandar ordens diretas para os Estados Unidos. Além disso, há diversos fundos estrangeiros que não podem investir diretamente no Brasil, ou não podem comprar papéis não registrados no mercado norte-americano. Dessa forma, o mecanismo de ADRs oferece uma boa oportunidade para esses investidores.
Outro ponto importante a ser considerado é abertura de possibilidades de arbitragens nos papéis. “A arbitragem é feita pela distorção do preço que está sendo negociado lá fora e aqui e a diferença em relação ao câmbio”, explica Rafael Ferri, da TBCS Investimentos. “Os robôs operam em cima dessa diferença, vendem lá e compram aqui ou compram aqui e vendem lá, operando essa diferença de centavos que às vezes se abre”.
Para as empresas, os benefícios da listagem de papéis no mercado norte-americano também passam pela liquidez. Mas não ficam apenas aí: a diversificação da base acionária, a maior visibilidade no mercado e a percepção de que ela é uma empresa internacional (especialmente por cumprir com regras norte-americanas) são fatores usualmente positivos.
Canibalismo de liquidez?
Quando pergunta-se sobre as desvantagens da listagem de ADRs, a resposta normalmente é um silêncio, algumas vezes pontuado por tentativas de encontrar pontos a serem ressaltados. Segundo Alex Ibrahim, não há ressalvas. Até mesmo para a bolsa paulista há benefícios – ou seja, não há canibalismo de liquidez.
“Na verdade, depois que as empresas listaram os papéis em Nova York, a negociação do mercado local aumentou. Por quê? A empresa cria muito mais visibilidade no mercado norte-americano, que é o maior do mundo, vários investidores novos entrando no papel, isso acaba refletindo na liquidez do mercado local”, argumenta o diretor.
ADRs nível I, II e III
Vale ressaltar, contudo, que há diferentes níveis de ADRs, com diferentes tipos de requisitos burocráticos e impactos de liquidez. No nível I, a negociação é feita somente no mercado de balcão norte-americano e a empresa não precisa registrar o produto na SEC (Secutirites Exchange Commission).
No nível II, a negociação é feita nas bolsas de valores dos Estados Unidos e é necessário que o produto seja registrado nos órgãos reguladores. No nível III, há as mesmas características do nível II, porém é necessário realizar um IPO (Initial Public Offering) no mercado norte-americano.
“A diferença é grande. No ADR nível I, a empresa não tem que registrar o produto no SEC. Porém, muitos investidores não compram esses produtos. O lançamento pode ser visto como o primeiro passo: a empresa quer ter uma experiência no mercado internacional, essa é uma forma”, explica Ibrahim. “Mas isso não pode ser visto como um evento de liquidez e sim como um evento de visibilidade”, acrescenta.
Futuro das empresas brasileiras
Desde que a Aracruz lançou os seus ADRs, tornando-se a primeira empresa brasileira com papéis listados nas bolsas de valores dos Estados Unidos, não houve uma evolução muito grande no número de empresas com ADRs nível II ou III. A dinâmica, contudo, pode estar próxima de uma mudança.
Sem dar pistas sobre os nomes, Alex Ibrahim afirmou que a Nyse está em conversa com várias empresas brasileiras. “Existe várias empresas em várias fases de capital markets que estão olhando o mercado norte-americano como um destino. Nós acreditamos que até o final do ano vamos ver empresas brasileiras listando aqui”, tanto no nível II quanto no nível III.
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