A proibição da Alemanha das vendas a descoberto de bônus europeus, swaps de defaults de crédito e ações das dez maiores instituições financeiras, contribuiu para as mesmas turbulências de mercado que a medida pretendia evitar.
A certa altura, o euro chegou a ser vendido nos níveis mais baixos em quatro anos. Os spreads de juros do Club Med sobre os bunds alemães aumentaram. As ações alemãs caíram, incluindo as do setor financeiro. O leilão de bunds teve uma recepção apenas morna. Rapidamente, os participantes do mercado avaliaram a medida como mal concebida, descoordenada e provavelmente ineficiente.
O anúncio alemão caiu como um raio sobre o mercado. Veio imediatamente após a reunião dos ministros das Finanças da União Europeia em Bruxelas, mas parece não ter havido uma tentativa de coordenação. A Finlândia, por exemplo, rapidamente sinalizou que nem chegou a contemplar uma proibição das vendas a descoberto de bônus europeus. A França, que proíbe as vendas a descoberto de ações desde 2008, também não teria intenção de proibir as vendas a descoberto de bônus. Além disso, foi apenas há poucas semanas que a Bafin, autoridade reguladora alemã, informou não haver evidências de que a especulação no mercado de swaps de defaults de crédito (CDS na sigla em inglês) seja um fator significativo.
O quê explica a decisão unilateral da Alemanha? Primeiro, as considerações políticas domésticas. O governo alemão pode estar tentando conseguir um apoio maior do parlamento à parcela da Alemanha no pacote de € 750 bilhões para combater a crise financeira na Europa, que os chefes de estado acertaram na semana passada.
Segundo, as considerações políticas europeias. Após ter ficado para trás na decisão de comprar bônus soberanos, a Alemanha está dando o troco. O governo começa a discutir hoje a reforma reguladora do sistema financeiro. Talvez a Alemanha espere entregar aos seus colegas um "fait accompli". Nesse contexto, a decisão da Alemanha pode ser uma artimanha.
Está claro que sem uma coordenação internacional as medidas da Alemanha serão ineficazes. A maior parte da atividade no mercado de swaps de defaults de crédito não ocorre na Europa, e sim em Nova York, e não há sinais de que os Estados Unidos estejam sendo simpáticos à decisão da Alemanha. De todo modo, as restrições alemãs e mesmo europeias poderão entrar no jogo (ou seja, mudar para o mercado offshore).
Além disso, a Deposit Trust & Clearing Corp., uma câmara de compensação e registro de informações sobre o mercado de swaps de defaults de crédito, teria dito que os swaps de defaults de crédito pendentes em dez países europeus que incluem Grécia, Espanha, Portugal e Itália, envolvem menos de US$ 108 bilhões. O mercado inteiro de CDS é estimado em cerca de US$ 11 trilhões. Em outra acepção a medida também parece ter sido mal concebida. A primeira-ministra alemã Angela Merkel sugeriu em 6 de maio que "de algumas maneiras, esta é uma batalha dos políticos contra os mercados. Estou determinada a vencer. Os especuladores são nossos adversários".
Isso provavelmente seja exagerar os acontecimentos e reflete uma compreensão errada sobre a especulação. Os especuladores não atacam os fortes, e sim os fracos e vulneráveis. Talvez a melhor maneira de a Europa minimizar o papel dos especuladores não seja tentar regulá-los, e sim buscar políticas de maior credibilidade.
Os especuladores não são o principal adversário, não mais que o rapaz que afirma que o rei está nú. O verdadeiro adversário não é mais a Grécia. O verdadeiro adversário pode ser a resposta política dos mesmos políticos em nome dos quais Angela Merkel afirma falar. Talvez haja algum benefício em desestabilizar o mercado, como um equivalente financeiro das "táticas do homem louc" de Richard Nixon. Nixon queria que os norte-vietnamitas pensassem que ele era capaz de qualquer coisa, o que os faria sentar mais rapidamente à mesa de negociações.
A proibição das vendas a descoberto pela Alemanha foi seguida de especulações sobre mais medidas reguladoras e até mesmo uma possível intervenção. Isso desencadeou uma cobertura de vendas a descoberto sobre o euro que rompeu um mercado que se movia firme em direção à moeda única.
Mas o declínio do euro não acabou. Ele está próximo das medidas econométricas do valor justo, mas isso não é suficiente. Após passar grande parte da última década acima do valor justo, é de se esperar que agora ele vai passar algum tempo abaixo dele. Com suas perdas mais recentes, ele está de volta à faixa intermediária vista desde o começo do euro em 1999.
A maior parte dos funcionários dos governos europeus não parece preocupada com o nível do euro. Na verdade, funcionários dos governos da França e da Itália parecem estar vendo uma virtude em sua fraqueza recente. Por causa da austeridade fiscal em toda a zona do euro, as perspectivas para a demanda doméstica são fracas. O euro mais fraco poderá ajudar a estimular a demanda externa pelas exportações europeias.
Mas mesmo quando considerados todos os fatos, a experiência europeia ainda está no começo. Ela tem menos de 12 anos. Passados 12 anos depois que treze colônias na América do Norte declararam independência do maior império da época, elas tinham um governo central fraco sem poder de cobrar impostos, que exigia tomadas de decisões unânimes e não tinha uma Constituição. É cedo demais para declarar que a experiência europeia fracassou.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
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