O mês de abril continuou mostrando que a atividade econômica no Brasil está em forte expansão e acreditamos que o aumento da SELIC e a retirada dos estímulos fiscais não desacelerarão a nossa economia a ponto de tirá-la da rota do crescimento. Esse movimento trará impactos no consumo e no investimento, mas mesmo assim os fundamentos macroeconômicos são consistentes, o que sustentará a demanda interna.
No entanto, a maior preocupação do mercado, atualmente, encontra-se no cenário externo como, por exemplo, discussões referentes à situação fiscal de alguns países da Europa e o possível aperto monetário na China.
E foi dada a largada! O COPOM decidiu aumentar a taxa de juros básica da economia em 0,75%, para 9,50% a.a.. De fato, desde a reunião de março, o cenário inflacionário veio apresentando contornos preocupantes, com o aumento das expectativas de inflação, (relatório Focus) que vêm se deteriorando semana após semana, e uma atividade econômica bastante aquecida, o que pode ser percebido no forte desempenho da produção industrial e do comércio varejista. A produção industrial, por exemplo,
demonstrou nos últimos períodos recuperação consistente, crescendo entre mar/10 e mar/09 cerca de 18,1%. Podemos citar três variáveis que alicerçam a tendência positiva do consumo doméstico, são elas: aumento da renda e do emprego e a expansão de crédito. Somado a isso, temos um consumidor mais confiante, o que pode ser verificado no índice de confiança do consumidor (ICC), divulgado pela FGV, que variou 3,5% entre abril e março, saindo de 111,4 para 115,3 pontos. Vale reforçar que o aumento da taxa de
juros se fez necessário, tanto no intuito de equilibrar a relação oferta versus demanda, quanto para coordenar as expectativas de inflação do mercado.
Em março, o IPCA registrou alta de 0,52%, desaceleração relevante frente os 0,78% de fevereiro. Tal resultado deveu-se, por um lado ao arrefecimento dos efeitos sazonais característicos do início do ano, como educação e transportes e por outro lado a queda só não foi maior porque o grupo alimentação ainda se mostrou pressionado (choque de oferta dos alimentos devido a fatores climáticos). Para o mês de abril, esperamos uma
inflação maior, devendo passar de 0,52% para 0,55%, com o grupo “alimentos” ainda influenciando o indicador e com a adição de novos efeitos sazonais advindos dos reajustes de medicamentos e do grupo vestuário. Já o IPCA-15 de abril, prévia oficial de inflação, alcançou 0,48%, ante 0,55% da medição anterior. O indicador mostra uma queda relevante dos combustíveis, mas o grupo “alimentação e bebidas” continuou
apresentando aumento, variando 1,71% em abril, maior que os 1,22% verificados em março. Já o IGP-M de abril, divulgado pela FGV variou 0,77%, queda quando comparado a março (0,94%). O resultado já começa a mostrar os primeiros efeitos do reajuste do minério de ferro, o que pressiona o IPA (variou 0,72% em abril). Já o IPC (que representa
30% do IGP-M) variou 0,73%, ante 0,83% do mês anterior, refletindo a queda do grupo “transportes” e de itens como álcool combustível e gasolina. Por fim, o INCC (índice nacional de custos de construção – 10% do IGP-M) veio mais forte com variação de 1,17% (0,45% em março), demonstrando a forte atividade do setor de construção civil.
Quanto ao mercado creditício, o Banco Central divulgou que o estoque de crédito no SFN no mês de março cresceu 1,1%, frente o mês anterior, atingindo R$ 1,452 trilhão.
A relação crédito/PIB alcançou 45%, ante 41% de março de 2009. O setor creditício continua numa trajetória de crescimento o que reflete o momento positivo que a economia brasileira vive. Destaque para o aumento verificado no crédito habitacional que somou R$ 100,8 bilhões, elevação de 3,9% frente o mês de fevereiro e de 48,6% em doze meses.
Nos EUA, o FOMC decidiu pela manutenção da taxa de juros entre 0 – 025%. O
resultado já era esperado pelo mercado e de acordo com o próprio discurso do presidente do Fed a taxa seguirá “excepcionalmente baixa por período prolongado”. O fato é que o cenário econômico norte-americano ainda apresenta indícios de que o estímulo monetário é necessário, basta olhar para o mercado de trabalho, onde a taxa de desemprego ainda se encontra em patamares perigosos (9,7%). Outro setor bastante debilitado, o creditício, não demonstra sinais claros de recuperação. Em janeiro, após um
longo período de queda o consumo de crédito no país cresceu US$ 10,6 bilhões, porém, no mês seguinte arrefeceu, apresentando queda de US$ 11,5 bilhões, ou seja, ainda é cedo para enxergarmos alguma recuperação clara neste segmento. Além disso, temos um cenário inflacionário benigno nos EUA, com o PCE Core apresentando movimento bastante comportado. Enfim, a idéia é que não tendo o fator inflação como preocupação no momento e a existência de setores importantes em situação delicada, o Banco Central
norte americano se concentrará em reanimar sua economia com uma política monetária expansionista. Por outro lado, temos alguns indicadores positivos que demonstram a recuperação de alguns setores deste país. Os gastos dos consumidores nos EUA, por exemplo, subiram 0,6% em março e a renda cerca de 0,3% no mesmo período. Já o ISMindústria subiu para 60,4 pontos, acima do que o mercado esperava e da medição anterior que marcara 59,6 pontos. Outro destaque foi o aumento de 3,2% na primeira
prévia do PIB norte-americano do 1º trim/10, um pouco abaixo de nossa expectativa (3,5%). A evolução deste indicador reflete o bom desempenho da atividade americana nos primeiros meses de 2010, além dos dados sobre consumo que merecem destaque.
Acreditamos que o mercado em maio terá um viés negativo, pois, existem algumas discussões que dependendo do rumo que tomem podem trazer volatilidade. Há algum tempo temos comentado que o aperto monetário na China é uma notícia que deve ser acompanhada pelo mercado brasileiro, principalmente, porque o país asiático demonstrou ser um consumidor voraz e, desta forma, tem grande importância no jogo do comércio
internacional. Para o Brasil, uma freada no consumo chinês (com aumento da taxa de juros) poderá significar uma corrosão nos preços das commodities e isso impactará diretamente o IBOVESPA (que é fortemente posicionado em commodities). O forte crescimento do país asiático reacende as preocupações em relação à inflação e ainda coloca as autoridades daquele país em alerta quanto à possíveis bolhas no setor imobiliário e de mercado de capitais, ou seja, o aperto se fará necessário, cedo ou tarde!
A Europa e a instabilidade fiscal na região, também são um elemento que deve ser somado a esta conjuntura. Em abril, não só a Grécia, mas também, Portugal e Espanha tiveram suas classificações de risco reduzidas, o que jogou um “balde de água fria” em quem pensava que a situação começava a se amenizar, principalmente, logo após o pacote de ajuda elaborada entre o FMI e a União Européia direcionada a Grécia para livrá-la do sufoco. A situação fiscal na Zona do Euro já era insustentável há algum tempo
e a crise só acelerou o processo de apontar o que já estava errado, ou seja, quando a crise explodiu as contas públicas na Europa já eram ruins. Então é bom ficar atento, pois, o cenário externo poderá trazer grande volatilidade às bolsas mundiais.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
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