A onda de ceticismo quanto às soluções para o problema fiscal na Europa e as preocupações com as consequências, para a recuperação econômica da região, das últimas decisões de ajustes em vários países espalham-se pelos mercados globais, que estão encerrando a semana nervosos. O euro cravou outro recorde de depreciação, a US$ 1,2358, as principais bolsas europeias caíram mais de 3%, enquanto as norte-americanas e a Bovespa desvalorizam-se ao redor de 2%. O pessimismo ganhou reforço hoje: o jornal
espanhol El País disse que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, chegou a ameaçar com a saída da zona do euro (a publicação foi desmentida até agora apenas por uma fonte não oficial do governo francês); a Espanha mostrou deflação de 0,1% no núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI), na primeira vez em que isso ocorre desde 1986; o consultor
econômico da Casa Branca Paul Volcker disse que o euro falhou e questionou a integração da Europa, enquanto o executivo-chefe do Deutsche Bank, Josef Ackermann, também foi cético sobre a capacidade de a Grécia superar seus problemas. Ações dos bancos continuam castigadas pela investigação em curso nos EUA sobre oito instituições. Em dia de balanço da Petrobras e na véspera de vencimento de opções sobre ações, a Bovespa é dragada pelo cenário externo e caía 2,25% às 14h07. O dólar balcão subia 1,63%, a R$
1,8060 no mesmo horário. E a curva longa de juros incorpora prêmios de risco por causa da crise europeia.
MERCADOS INTERNACIONAIS
O euro despencou e atingiu o menor nível desde outubro de 2008, quando teve início a crise financeira global, diante dos persistentes receios com as consequências das medidas de austeridade que alguns países europeus terão de implementar. Agravaram a aversão ao risco - que derrubou as bolsas e as commodities - a queda do núcleo da inflação na Espanha e as declarações pessimistas do executivo-chefe do Deutsche Bank, Josef
Ackermann, e de Paul Volcker, do consultor econômico da Casa Branca.
O tom positivo que predominou entre os investidores na segunda-feira, depois do anúncio do pacote de resgate europeu de 750 bilhões de euros, foi ao longo da semana dando lugar às preocupações com o fato de que os cortes nos gastos que alguns governos europeus terão de implementar poderão dificultar e até mesmo impedir a recuperação econômica da zona
do euro.
Nesse sentido, o presidente do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento (EBRD, na sigla em inglês), Thomas Mirow, afirmou hoje que a crise da Grécia tem potencial para bloquear os esforços de recuperação dos países do Sudeste da Europa, particularmente se as subsidiárias dos bancos gregos que operam na região forem afetadas.
As dúvidas sobre a implementação das medidas de austeridade são outro fator negativo. "A parte realmente difícil será colocar em prática o programa de austeridade, medidas que são, no mínimo, impopulares. Apenas o tempo vai dizer se os formadores de política serão suficientemente decididos para cumprir essas difíceis metas", afirmou Kevin Giddis, Morgan
Keegan.
Ontem, o consultor econômico da Casa Branca Paul Volcker fez duras declarações sobre o euro, ao afirmar que a moeda falhou. Volcker acrescentou que os problemas do euro têm sido visíveis desde o começo porque o bloco europeu tem uma política monetária comum mas não uma política fiscal comum. "Para falar em termos simples, é possível ter uma
política monetária comum e uma moeda comum sem ter um governo comum?", questionou.
Outro golpe para o euro foi a informação, publicada pelo jornal El País hoje, de que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, chegou a ameaçar que seu país poderia deixar a zona do euro, durante negociações recentes no âmbito da União Europeia. No entanto, uma fonte do governo de Paris, próxima da presidência francesa, negou que a informação fosse
verdadeira.
Também pesaram sobre o sentimento dos investidores hoje os comentários feitos ontem pelo executivo-chefe do Deutsche Bank, Josef Ackermann. O executivo disse que não está seguro de que a Grécia poderá superar o grave problema de déficit orçamentário e será capaz de pagar suas dívidas. "Eu considero duvidosa a questão de a Grécia, em tempo, ser capaz de ficar em uma posição de atingir isso", disse Ackermann.
As ações do Deutsche Bank fecharam em baixa de 4,1% na Bolsa de Frankfurt. O setor bancário, aliás, foi o principal motor da queda dos índices acionários nesta sexta-feira. Além dos receios dos investidores com a dívida dos governos europeus, ações dos bancos foram prejudicadas pela investigação que está sendo feita nos EUA para averiguar se oito
instituições financeiras enganaram agências de rating e algumas medidas aprovadas pelo Senado norte-americano com relação à reforma do sistema financeiro do país.
Os indicadores econômicos divulgados hoje nos EUA receberam pouca atenção dos investidores, mas a queda do núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI) da Espanha em abril pela primeira vez desde que o dado começou a ser acompanhado preocupou. Uma deflação poderá tornar ainda mais difícil para a Espanha conseguir crescer e deixar para trás seus problemas de dívida.
O euro caiu abaixo do nível em que esteve no início da crise financeira global e chegou a ser cotado a US$ 1,2358. Às 14h15, o euro caía para US$ 1,2402, de US$ 1,2531 no fim da tarde de ontem, enquanto o dólar recuava para 92,08 ienes, de 92,68 ienes ontem. A queda do euro prejudicou as commodities. O petróleo para junho negociado na Nymex operava
abaixo de US$ 72, a US$ 71,60 por barril, um declínio de 3,76%. Na Comex, o cobre para julho perdia 3,20%, para US$ 3,1280 por libra-peso. Por outro lado, os preços dos Treasuries subiam, com respectiva queda dos juros. No
horário citado, o juro da T-note de 2 anos caía para 0,7739%, o da T-note de 10 anos recuava para 3,4401% e o do T-Bond de 30 anos declinava para 4,3161%.
Mas a Europa não é o único problema a tirar o sono dos investidores. Do lado externo, o provável aperto monetário na China e a situação ainda frágil da economia norte-americana, e do lado interno, o início do ciclo de alta de juro, estimulam uma posição defensiva na Bovespa. "A saída de recursos estrangeiros não é só de estrangeiros, mas também de
investidores locais diante de um cenário tão conturbado", afirma o economista-chefe da Legan Asset Management, Fausto Gouveia.
O gestor de recursos da InvestCapital, Giovanni Di Pasquale, vê na deflação da Espanha anunciada hoje um motivo a mais de preocupação. Pela primeira vez desde 1986, o núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI) registrou taxa negativa de 0,1% em abril ante mesmo mês do ano. Para Di Pasquale, há o risco dessa deflação se espalhar pelo restante
da Europa, provocando efeito cascata nas economias e com consequências para o Brasil.
Outro motivo para manter os investidores avessos a riscos é a investigação que está sendo feita nos EUA para averiguar se oito instituições financeiras enganaram agências de rating com relação a atividades com hipoteca.
Em relação à Petrobras, a ANP acenou com uma notícia promissora. A diretora da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard, disse pela manhã que o poço Libra, que a agência começou a perfurar na Bacia de Santos, pode ter reservas semelhantes às encontradas no poço Franco, onde foram detectados 4,5 bilhões de barris de petróleo.
Magda disse que as duas estruturas geológicas têm tamanho parecido, mas ainda há dúvidas se área de Libra é um reservatório único ou se está dividida em dois reservatórios.
O mercado demonstra com mais intensidade, hoje, o desconforto que mantém em relação à situação fiscal e econômica dos países que compõem a zona do euro. A moeda única caiu a níveis de US$ 1,23 e arrastou outras divisas, abrindo espaço para uma valorização do dólar, que só realimentou a busca generalizada pela moeda dos EUA e outros ativos considerados de menor risco, numa reação em cadeia.
No começo da tarde (13h22) essa espiral colocava o euro em US$ 1,2375, depois de ter batido mínima de US$ 1,2358, um pouco antes. Ante o real, o dólar valia R$ 1,806 (+1,63%) no mercado à vista de balcão e R$ 1,807 (+1,72%) na BM&F. O dólar para junho estava em R$ 1,8110, com valorização de 1,57%.
O temor demonstrado pelos investidores de que as medidas fiscais impeçam a Europa de engatar a recuperação econômica, que se esboçava antes dos problemas gregos virem à tona, é alimentado a cada dia por fatos e declarações. Hoje, os investidores reuniram vários deles para deflagrar um dia de aversão ao risco.
Na Espanha, saíram dados de inflação, sinalizando que a fragilidade mostrada no último dado de PIB - alta de 0,1% no primeiro trimestre, na comparação com o último trimestre de 2009 e queda de 1,3% em relação ao mesmo período do ano passado - continua. O núcleo do índice de preços ao consumidor do país, que exclui os preços voláteis dos alimentos
frescos e da energia, caiu 0,1% em abril, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), a deflação é resultado de efeitos sazonais e da recessão profunda enfrentada pelo país e ocorreu pela primeira vês desde agosto de 1986, quando o órgão começou a acompanhar os preços. Em março, o núcleo do CPI registrou alta de 0,2%, em bases anuais. Já o índice geral de preços ao consumidor subiu 1,5% em abril, em comparação com a alta de 1,4% em março, puxado
pelo aumento dos preços do combustível.
Também na Espanha foi divulgada uma informação, pelo jornal El País, segundo a qual o presidente da França, Nicolas Sarkozy, teria ameaçado deixar a zona do euro, durante negociações recentes no âmbito da União Europeia. A notícia foi desmentida por uma fonte do governo de Paris, mas o mercado ficou incomodado.
Do Japão, chegou a informação de que os ministros das Finanças do G-7, a exemplo do que já tinha ocorrido na semana passada, fizeram uma teleconferência para discutir as condições do euro. O encontro foi organizado a pedido do ministro das Finanças japonês, Naoto Kan, e ele disse a jornalistas que ouviu notícias sobre a "realidade" na Europa e sobre os esforços da região para enfrentar a crise das dívidas soberanas. Ele descartou especulações de que os países do G-7 podem anunciar uma nova medida para intervir nos mercados de câmbio e tentar evitar que o euro caia mais.
Paralelamente a tudo isso continuam os comentários de economistas e analistas, ressaltando a possibilidade de que a Europa volte à recessão antes mesmo de consolidar a retomada do crescimento após a crise do subprime. Em uma coluna distribuída pela Agência Dow Jones, nesta sexta-feira, o gerente da divisão de investimentos da Perella Weinberg
Partners, empresa de serviços financeiros com sede em Nova York, disse que "a crise financeira nunca foi embora de fato". Para ele, "a montanha de dívidas que derrubou alguns dos maiores bancos do mundo e arrastou o sistema financeiro internacional para a beira do desastre, simplesmente, mudou para os governos". E acrescentou: "agora, está ameaçando
países ao redor do globo e, se deixada incontrolada, pode rasgar todo o tecido do sistema econômico da Europa e arruinar as recuperações econômicas nos EUA, China e América Latina".
No BNP Paribas, a avaliação é de que as medidas fiscais da Espanha e Portugal devem ter impacto negativo entre três e cinco pontos porcentuais no PIB desses países. E outros bancos, como Goldman Sachs e Danske Bank soltaram relatórios com comentários sobre o iminente encolhimento da atividade econômica europeia, em alguns casos, revisando as projeções de PIB dos países da região para baixo.
Em meio a isso, as captações de empresas brasileiras no exterior continuam suspensas e o noticiário nacional, não faz preço no câmbio.
sábado, 15 de maio de 2010
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