quinta-feira, 6 de maio de 2010

Por que a Grécia assusta

A crise que começou na Grécia, país que responde por apenas 2,5% do PIB da União Europeia, ganhou relevância no noticiário porque ela denuncia uma situação comum a outras economias muito maiores. Espanha, Portugal e Irlanda também têm elevados déficits fiscais e alto nível de endividamento, tanto junto ao mercado local quanto ao internacional. Além disso, todos esses países têm perspectiva de pouco crescimento, o que significa que a receita nos próximos anos não deverá cobrir o rombo no orçamento.
"Quando há uma situação como essa, há dois caminhos: calote ou desvalorização cambial", explica o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. "Como esses países não têm como mexer no câmbio, porque adotam o euro, o medo do calote fica mais forte."
A ajuda de € 110 bilhões oferecida à Grécia tem o objetivo de evitar esse calote. Mas ainda não há certeza de que esse dinheiro será suficiente. E, mais grave do que isso, não se sabe se, caso outros países da comunidade europeia vierem a pedir ajuda, haverá dinheiro.
Agrava ainda mais o quadro dos países em situação fiscal já frágil o fato de boa parte dos títulos soberanos desses países estarem justamente nas mãos dos bancos europeus. Com o medo de calote, esses papéis "viram pó", o que, no jargão do mercado, significa uma perda dramática de valor, por causa do risco de seus emissores não honrarem seus compromissos. Os bancos espanhóis, gregos, portugueses e irlandeses sofrem ainda mais com essa perda, o que constitui um efeito em cadeia.
Mas parte dos títulos também está distribuída entre vários bancos em diferentes partes do mundo. Assim, a crise se dissemina e as perdas são ampliadas. Zeina Latif, economista-chefe do ING Bank, observa que os investidores globais que registram perdas com papéis da dívida de países europeus vendem ativos em outros mercados para cobrir prejuízos. Isso explica a depreciação cambial em alguns mercados - inclusive no Brasil -, a queda das bolsas e a desvalorização de títulos soberanos de países que não estão envolvidos na crise. "Mas esse efeito tende a ser transitório", explica. Assim que o ajuste for concluído, os ativos tendem a se valorizar."

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