quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Alerta sobre o euro

"A zona do euro joga a sua sobrevivência." Quem profetizava assim? Um jornalista embriagado? Um inglês "eurocético"? Absolutamente: era Herman Van Rompuy, o presidente da União Europeia (UE). Ele precisou: "Se os problemas orçamentários de alguns países não forem resolvidos, a zona do euro e a União Europeia não sobreviverão." É um alarme forte. Desde a noite de ontem, os ministros das finanças europeus estão reunidos em Bruxelas. No cardápio, e num ambiente um tanto dramático, como impedir que os sobressaltos orçamentários de alguns países se transmitam para outros países e os abalem mortalmente? Em outras palavras: como bloquear a doença da Europa antes que o contágio se propague? É essa, desde sempre, a angústia do Velho Continente. Ele teme que a doença de um dos países da UE, ou um país do euro, infecte os países vizinhos. Ora, é exatamente essa ameaça que hoje paira sobre o Velho Continente como uma violenta tempestade.
Três países estão na mira. Há seis meses, a Grécia foi salva da bancarrota pela União Europeia, mas com atraso em razão da desconfiança dos alemães ante um país desdenhosamente tratado como "país do Club Med". Hoje, a tempestade se desloca para a Irlanda, cujo déficit ultrapassará 30% do seu Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.
E um terceiro país já corre o risco de se juntar a esses dois feridos na vasta enfermaria da UE: Portugal, cujo ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, lançou um grito de aflição: Portugal corre um "risco elevado" de ser colocado sob monitoramento financeiro da UE.
Assim, três países se encontram juntos no olho do furacão, sobretudo quando se sabe que o primeiro dos países feridos, a Grécia, após uma melhoria devida ao plano de socorro da UE e da coragem do premiê socialista Papandreou que impôs um plano econômico drástico a seus concidadãos, está novamente apanhada na espiral infernal dos déficits.
O déficit grego para 2009, que havia sido avaliado em 13,6% do PIB, será, na verdade de 15,4%. Para melhor compreender a enormidade desse déficit, lembremos que o plano de saneamento de Atenas prevê passar de agora a 2014 para menos de 3% de déficit - objetivo nobre, objetivo razoável, mas objetivo claramente surrealista, impossível de alcançar - a menos que a Grécia seja um país morto de agora a 2014.
A crise se enquista, o que é ainda mais bizarro porque a UE criou, após a crise grega há seis meses, um mecanismo de salvaguarda, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FESF), dotado de 440 bilhões.
O Banco Central Europeu (BCE), apavorado com a ideia de um "efeito dominó", desejava que o FESF saísse imediatamente em socorro da Irlanda. Mas, curiosamente, a Irlanda não quis, até agora, fazer o pedido. Outra estranheza: Angela Merkel, que há seis meses teve de ser compelida a salvar a Grécia meio afogada, mudou de política. Agora ela faz pressão para que uma ajuda seja imediatamente desbloqueada em favor da Irlanda.
É imaginável que a reunião de 16 e 17 de novembro em Bruxelas permita o acionamento da ajuda do FESF. Mas, em piores condições. Há seis meses, foi preciso salvar apenas a Grécia. Na semana passada, era possível se contentar em sustentar a Irlanda. Hoje são três países europeus que teriam necessidade de uma grande transfusão de sangue: Grécia, Irlanda e Portugal. E amanhã, por que não a Espanha? Por que não a Itália? Herman Van Rompuy, o presidente da UE, está seguramente um pouco pessimista. É preciso reconhecer, contudo, que o euro e a UE não estão bonitos de se ver nesta temporada.

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