A bolsa local deixou de ser barganha. Mas a atual conjuntura internacional, de juros baixíssimos nos países ricos e liquidez abundante, abre espaço para se pagar preços mais altos. Isso vale especialmente para o investidor estrangeiro, que precisa colocar o dinheiro para trabalhar e, por isso, acaba correndo para os pujantes mercados emergentes.
Para esse investidor, a questão principal é custo de oportunidade, avalia o diretor de investimentos da Fundação Cesp, Jorge Simino. Pelos cálculos do especialista, o índice P/L (relação entre preço e lucro, que dá ideia se uma ação está cara ou barata) justo para o Ibovespa, levando em conta aumento de 15% nos lucros das empresas em 2011, gira entre 12 e 12,5 vezes. Isso significa uma bolsa a 79.000 pontos, ou seja, ganho potencial de 11%, próximo do CDI.
É aí que entra o custo de oportunidade do gringo. Com juro real negativo, ele aceita pagar mais. Do ponto de vista qualitativo, o argumento é perfeito, diz Simino. Mas quanto mais? Essa é uma conta difícil de ser feita, avalia o executivo. "E é por isso que o mercado fica 'nervoso' quando chega perto dos 72 mil pontos e qualquer notícia ruim, mesmo que já conhecida, provoca correção", diz.
Com dinheiro em caixa, gringo segue de olho no Brasil
Segundo Simino, há quem acredite que a bolsa possa pagar um P/L de 14 até 16 vezes (quanto maior, mais caro o investimento), o que, nesse último caso, jogaria o valor justo do Ibovespa para 92 mil pontos. "Isso assusta."
Porém, mais que um P/L médio de 16 vezes para o Ibovespa, o executivo alerta para a distorção de preços dentro do próprio índice. Há um grupo de empresas muito caras e outro relativamente barato. "Talvez o estrangeiro já tenho feito essa reavaliação de preços para as companhias de varejo, relacionadas ao mercado interno", pondera Simino.
Levantamento da Itaú Corretora mostra o setor de consumo e varejo entre os mais caros do Ibovespa. Para 2011, enquanto estima um P/L de 12,9 vezes para o índice, para as varejistas e empresas de consumo projeta mais de 20 vezes. No grupo de commodities, o P/L estimado para a Vale, por exemplo, é de 9,3 vezes.
O custo de oportunidade nos países desenvolvidos deve seguir baixo por mais três a quatro anos, o que, aliado à liquidez forte, pode alimentar uma "bolha" em emergentes como o Brasil. Como a bolsa opera ora exagerando para um lado, ora para outro, e se o investidor acordar achando que está pagando muito caro por ações de consumo, por exemplo?
Para o gringo, o risco de bolha é muito pequeno no curto e médio prazo. "Emergentes como o Brasil têm crescimento econômico e consumo em alta dada a expansão da renda, processo que está longe do fim", diz Scott P. Leiberton, diretor da Principal Global Investors, que tem US$ 1,2 bilhão em empresas brasileiras, com foco no consumo doméstico.
Mas há quem aposte em crescimento generoso de lucro para as empresas no ano que vem, de 20% a 30%. Aí, sim, o Ibovespa estaria relativamente barato.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
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