quarta-feira, 24 de novembro de 2010

DADOS DOS EUA ANIMAM MERCADOS; JUROS DE OLHO EM TOMBINI

Indicadores melhores do que as previsões nos EUA levaram os mercados globais a buscarem a reposição de perdas da véspera e o brasileiro não foi uma exceção. As bolsas norte-americanas subiam mais de 1% no começo da tarde, enquanto a Bovespa avançava em torno de 2% e o dólar caía 0,75% ante o real. Os dados norte-americanos de auxílio-desemprego, mostrando queda nos pedidos ao menor nível desde julho de 2008, e o sentimento do consumidor acima das expectativas animaram os investidores para uma saída
tranquila para o feriado de Ação de Graças, amanhã nos EUA. Aqui, o mercado de juros eleva as taxas curtas - acreditando que o futuro presidente do BC, ao que tudo indica, Alexandre Tombini, atuará com alta da Selic no começo de 2011 para frear a inflação. A "leitura" do mercado sobre Tombini, um dos formuladores da política de metas de inflação,
resume seu perfil como técnico ortodoxo, porém aliado à Fazenda, pasta que deve continuar com o atual titular, Guido Mantega. Não há hostilidade em relação a Tombini, mas é certo que o novo presidente do BC terá todos os holofotes do mercado voltados para ele, principalmente no que diz respeito à sua firmeza no combate à inflação.
Os mercados internacionais engataram uma recuperação nesta véspera do principal feriado norte-americano, de Ação de Graças, com investidores em Nova York preparando-se para abandonar Wall Street em direção aos ae roportos ou às compras. Em vários mercados, a liquidez já está reduzida nesta quarta-feira. O feriado também antecipou a divulgação de
indicadores econômicos, os quais apenas contribuíram para assegurar uma manhã tranquila.
Os investidores apegaram-se especialmente ao número sobre novos pedidos de
auxílio-desemprego, que caiu ao menor nível desde julho de 2008 na semana passada, para 407 mil. Ao mesmo tempo, da Europa, os mercados não viram nenhuma notícia ruim que já não tivesse sido embutida no depressivo dia de ontem. A Irlanda divulgou seu orçamento para os próximos quatro anos com diretrizes muito próximas às já comentadas recentemente nas mesas de negociação. Em Portugal, uma greve geral programada, para protestar contra
redução dos salários dos funcionários públicos e elevação dos impostos, fechou portos, fábricas e o sistema de metrô de Lisboa. A notíci a boa do bloco veio de novo da Alemanha, onde o índice IFO de sentimento do empresariado saltou para 109,3 em novembro, o nível mais elevado desde a reunificação do país, há duas décadas.
O ambiente positivo foi, no entanto, sendo construído ao longo da manhã. Nas primeiras horas do dia, a cautela ainda predominava, com o custo de proteção contra eventual calote da Espanha, Portugal e Bélgica atingindo nível recorde de alta. O euro respondia em baixa e a preocupação era tanta que nem mesmo o índice IFO evitou que a moeda caísse para a mínima de US$ 1,3284, nível visto anteriormente em 22 de setembro. As ações do Bank of Ireland despencaram mais de 20% com informações de que o governo irlandês poderia ter participação majoritária na instituição.
A notícia de que a Standard & Poor's havia cortado o rating da Irlanda de AA- para A renovou o nervosismo dos investidores para esta quarta-feira. Tanto que o leilão de bônus da Alemanha (bunds) de 10 anos teve uma demanda menor do que a oferta, espelhando a atual turbulência no mercado de dívidas soberanas da zona do euro.
Mas foi na Europa mesmo que a nuvem negra começou a se dissipar, com investidores olhando para o índice IFO alemão, e o movimento de alta se firmou com os indicadores norte-americanos. Além dos pedidos de auxílio-desemprego, o dado final de sentimento do consumidor animou. Segundo a pesquisa Reuters/Universidade de Michigan, o índice subiu para 71,6, em relação à leitura preliminar de 69,3 e acima do nível de 67,7 registrado em
outubro. Economistas esperavam que o índice subisse menos, para 69,8.
Outros indicadores divulgados hoje nos EUA foram de vendas de imóveis residenciais novos, que recuaram 8,1% em outubro (previsão +2,3%); de encomendas de bens duráveis, que caíram 3,3% em outubro (+0,1%); e de gastos e renda dos norte-americanos, que subiram 0,4% e 0,5%, respectivamente (previsão +0,5% e +0,4%, na mesma ordem).
Às 14h06 (de Brasília), o índice Dow Jones subia 1,23% e o índice S&P 500 operava em alta de 1,31%; o índice Nasdaq avançava 1,87%. Londres operava em alta de 1,48%, Frankfurt subia 1,77% e Paris ganhava 0,74%.
O euro operava a US$ 1,3381, acima do fim do dia de ontem em Nova York a US$ 1,3369, também influenciado positivamente pelos indicadores norte-americanos e pelo apetite ao risco gerado pelos números.
O anúncio do governo da Irlanda de seu plano de orçamento para quatro anos, que é anterior à visita do FMI e da União Europeia, previu corte de gastos de 10 bilhões de euros (US$ 13,3 bilhões) e receitas extraordinárias de 5 bilhões de euros para reduzir o déficit a menos de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2014. Este ano, o déficit orçamentário está em cerca de 32% do PIB.
O governo não cedeu à pressão internacional e manteve o imposto corporativo em 12,5%, mas vai elevar o IVA para 22% a partir de 2013, dos atuais 21%. Serão também cortados quase 25 mil empregos públicos em relação ao quadro de 2008 e os que ficarem terão seus salários reduzidos; o salário mínimo também cai.
De acordo com o plano, o governo irlandês pretende cortar o déficit orçamentário para 9,1% do PIB em 2011. A dívida do governo deve atingir o pico de 102% do PIB em 2013 e deve cair a 100% do PIB em 2014. Essas contas estimam que o país irá crescer à média de 2,75% ao ano até 2014.
Analistas do banco Brown Brothers consideram que as projeções de crescimento embutidas no orçamento de quatro anos são otimistas diante do aperto fiscal planejado não somente na Irlanda, mas no resto da periferia da zona do euro.
Entre as commodities, o apetite por risco sustentou as metálicas, enquanto o petróleo ganhou na esteira de anúncio de alta nos estoques de petróleo na semana passada.
Embora o esperado fosse queda, os investidores disseram que o aumento foi modesto no cenário recente de queda nos estoques totais, que incluem derivados. Às 14h31 (de Brasília), o contrato do cobre para dezembro subia 1,67% para US$ 3,7645 por libra peso. O contrato do petróleo WTI avançava 2,26% para US$ 83,10 o barril.

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