segunda-feira, 8 de novembro de 2010

JUROS

O mercado futuro de juros continuou hoje deixando no passado a complacência com o risco político de uma mudança de governo. A informação de que a presidente eleita, Dilma Rousseff, pretenderia forçar uma redução nas taxas de juros logo na primeira reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) e que não manteria Henrique Meirelles no comando
do Banco Central provocou uma reação clássica nos DIs. Os investidores prontamente retiraram prêmios dos contratos futuros de juros mais curtos e transferiram esse prêmio para os mais longos, refletindo que um eventual "relaxamento" monetário no início de 2011 pode vicejar uma inflação desregrada no futuro que levaria a um aperto monetário mais potente.
Até o início da tarde, os negócios eram pautados por essa notícia trazida na edição de domingo do jornal O Estado de S.Paulo, com base em um importante colaborador da futura presidente, que não teve sua identidade revelada.
Às 13h19, o contrato futuro para março de 2011 projetava taxa de 10,64%, de 10,69% no ajuste de sexta-feira, em meio a um volume de 49.485 negócios, ante magros 405 negócios nesse vencimento na sessão anterior. O DI julho de 2011 recuava para 10,69%, de 10,74% no ajuste, com volume de 134.490 contratos. A taxa do DI janeiro de 2012 11,42%, de 11,47%, com volume de 134.490 contratos. Enquanto extraía prêmios nos vencimentos mais
curtos, os longos subiram. A taxa do janeiro de 2014 deslocou-se de 11,82% para 11,93%, enquanto do DI janeiro de 2017 foi para 11,89%, de 11,72%, com giros de 24.835 e 25.615 contratos, respectivamente.
"Se Meirelles for substituído, acreditamos que isso seria considerado muito negativo pelos mercados. Lula, corretamente, manteve suas mãos longe de abordagens à política monetária durante sua administração, mas os mercados precisam da confirmação de Dilma de que fará o mesmo", observou o chefe de pesquisa de estratégia para mercados emergentes do Brown Brothers Harriman, um banco de investimentos norte-americano. "A imprensa brasileira tem publicado que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, seria um potencial substituto de Meirelles, o que poderia ser bastante problemático, uma vez que a política monetária se tornaria mais politizada", completou.
Segundo a matéria, com a centralização pretendida por Dilma e a pressão explícita para que os juros baixem - o que Lula nunca exerceu em relação ao Banco Central -, Meirelles ficaria numa posição desconfortável, pois sua política de combate à inflação tem sido sempre a de, por absoluta prevenção, manter os juros altos. No discurso dessa fonte, a redução dos juros serviria para "contaminar o setor privado” e incentivá-lo a investir cada vez mais. Como opção, Meirelles ficaria com a embaixada de Washington. Até o início da tarde, não houve desmentidos da notícia.
Dilma deu hoje a largada aos trabalhos do governo de transição na primeira reunião com a equipe, no Centro Cultural Banco do Brasil, mesmo prédio que abrigou, em 2002, a passagem do governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso para o de Luiz Inácio Lula da Silva. O peso do risco político falou mais alto do que o IPC-S, que teria potencial de sustentar
prêmios nos contratos curtos de juros. O índice foi de 0,67% na quadrissemana encerrada em 7 de novembro, acelerando ante a quadrissemana finalizada em 31 de outubro, quando subiu 0,59%. Das sete classes de despesa usadas para cálculo do IPC-S, cinco apresentaram variações mais elevadas. Além do grupo alimentação, que saiu de uma alta de 1,38% para 1,54%, habitação, vestuário, educação, leitura e recreação e transportes
também apontaram elevações mais significativas. "O IPC-S teria gás para puxar a curva, já que a dinâmica dos grupos não foi favorável", comentou Luciano Rostagno, da CM Capital Marktes, para quem o aumento dos setor de transportes, por causa da alta da gasolina, deve ter efeito no IPCA de novembro. No entanto, esse analista observa com atenção o comportamento do grupo alimentos para ver se as medições de meados no mês poderão trazer um alívio para o IPCA em novembro. Por ora, não há sinal de piora das expectativas de inflação, segundo a pesquisa Focus, divulgada logo cedo pelo Banco Central. A pesquisa Focus trouxe alterações sutis nas
medianas de IPCA. Para 2011, a projeção seguiu em 4,99%, enquanto para 2010, subiu de 5,29% para 5,31%. Na projeção suavizada para os 12 meses à frente, a mediana recuou de 5,16% para 5,14%. No que diz respeito à Selic, as expectativas permaneceram em 10,75% em 2010 e 11,75% em 2011. As trajetórias esperadas para os IGPs em 2011 ficaram mais salgadas. Para o IGP-DI, a estimativa saiu de 5,17% para 5,18%, enquanto para o IGP-M
passou de 5,24% para 5,30%, ambas no ano que vem.
Não fez preço hoje o dado do setor automobilístico. A produção apresentou uma alta de 5,5% em outubro, ante setembro, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). No mês passado, as vendas de veículos no mercado brasileiro caíram 1,3% na margem, enquanto as vendas de veículos no exterior aumentaram 6,8%. Para 2011, a projeção da Anfavea é de vendas melhores que em 2010, com crescimento alinhado com o PIB. No exterior, o café e o algodão mantinham-se em alta, repercutindo impactos climáticos em safras e demanda robusta. Os futuros de açúcar, trigo, soja e derivados recuavam com o comportamento mais forte do dólar emprestando razões para queda nos preços dessas commodities, como informa com mais detalhes o AE Agronegócios, serviço especializado em assuntos de agribusiness da Agência Estado. Nos negócios com Treasuries, as taxas de
juros projetadas cediam. No papel de 10 anos, a taxa projetada estava em 2,51910%, de 2,539%.
O BC fez duas atuações hoje para calibrar a liquidez do sistema financeiro. Tomou R$ 945 milhões para 9/12/2010, à taxa de 10,72%, integral e mais R$ 63,691 bilhões no over, à taxa de 10,68%, com corte de 30%

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