quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Fed ameaça demanda dos emergentes

Veja quão irônico é o momento atual. A política do Federal Reserve (Fed), banco central americano, para salvar os Estados Unidos, pode acabar matando a única fonte de demanda no mundo atual.
Vamos ao raciocínio. O Fed toma medidas para estimular seu crescimento. Juros zero a perder de vista e dinheiro jogado de helicóptero na economia. Assim, o dólar perde força, estimulando as exportações. Outro resultado da estratégia é uma corrida para commodities. Os preços dos ativos explodem e, com isso, o Fed minimiza o risco de deflação, garante alta nas bolsas e sustenta a confiança do consumidor.
No entanto, essa estratégia já leva os emergentes a repensar suas políticas monetárias. A alta das commodities traz consigo o aumento da inflação. Inflação em alta tem um elevado custo político e social nessas economias e será combatida com elevação nas taxas de juros. Austrália e Coreia do Sul já se mexeram e a China indica que pode tomar o mesmo caminho. O Brasil, por enquanto, está em modo de espera.
Mantega fala e dólar cai pela primeira vez em oito pregões
Acontece que essa alta de juros pode conter a demanda nas economias emergentes, justamente o pedaço do mundo que ainda não apodreceu com a crise de 2008. São os emergentes que apresentam o excedente de consumo, que os EUA querem capturar para sair do buraco.
Mas parece que já entrou areia nessa engrenagem. Desde a confirmação do plano de US$ 600 bilhões para a compra de títulos nos EUA, as commodities perderam ímpeto de alta e o dólar, que vinha sendo surrado no mundo todo, tomou um pouco de fôlego. O que ficou latente, ainda, é a inflação dentro dos emergentes, que pode se mostrar persistente ou geradora de "efeitos de segunda ordem."
Fica a dúvida, agora, sobre qual será a próxima estratégia adotada pelos EUA e quais reflexos poderá ter sobre a formação de preço dos ativos ao redor do mundo. Parece que o modelo atual, de fazer todo o necessário, caiu em descrédito.
Barack Obama está enfraquecido politicamente, então pacotes fiscais não estão na agenda. Já o Fed foi criticado no mundo todo após o plano de US$ 600 bilhões e colocou a China em modo de ataque. Vale lembrar que o país asiático rebaixou a nota soberana dos EUA, instituiu controles mais rígidos ao capital externo e deu a entender que está vendendo títulos americanos. Imagine qual a reação se o Fed jogar ainda mais dólares no mercado.
Nesse vazio de ações, uma das possibilidades em pauta é, justamente, um enfraquecimento das commodities - o que pode ajudar os emergentes no quesito inflação - e uma alta do dólar. O porém desse cenário é que fica reforçada a percepção de que a economia americana continuará se arrastando. Junto de tudo isso há o efeito liquidez global, que parece já ter se retraído um pouco e/ou estar mais seletiva, pois voltou a faltar dinheiro disposto a financiar as endividadas economias europeias.
No mercado local, com uma ajudinha do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o dólar marcou o primeiro dia de baixa ante o real em oito pregões. O dólar comercial encerrou a jornada 0,80% mais barato, valendo R$ 1,726 na venda.
As vendas ganharam fôlego após Mantega dizer que, por ora, o governo não vê necessidade de novas medidas na área cambial.
Nos juros, o dia foi de leve ajuste de baixa após o salto da terça-feira. No entanto, segue a preocupação com a inflação e a ansiedade sobre a composição da nova equipe econômica.

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