terça-feira, 30 de novembro de 2010

Bovespa deixou de ser pechincha, diz executivo da Baring

Marino Valensise, da Baring Asset: "Brasil já não está tão barato ante outras bolsas, mas ainda há boas histórias"
O mercado acionário brasileiro deixou de ser a estrela dos emergentes, mas ainda traz boas oportunidades para os investidores estrangeiros. A avaliação é de Marino Valensise, diretor global de investimentos da britânica Baring Asset Management, com US$ 50 bilhões sob gestão. "O Brasil já não está tão barato em comparação a outras bolsas, mas ainda há histórias muito boas em algumas ações", disse o executivo, que adiantou ao Valor a apresentação que fará hoje a investidores locais.
Valensise lista três motivos que deixam a Bovespa menos atraente que, por exemplo, as bolsas chinesa e russa. Primeiro, o indicador Preço/Lucro (P/L, que dá uma ideia do tempo de retorno do investimento) do Índice Bovespa. Estimado em cerca de 9 vezes, o P/L já está em nível historicamente alto. Segundo, o real, que já se apreciou "muito", o que torna os ativos brasileiros "caros" em dólares. Por fim, há uma ameaça de alta da inflação. O Banco Central (BC) brasileiro, diz ele, deve ter um papel decisivo no início do governo Dilma Rousseff. "Gostamos do Brasil, mas vendemos alguns papéis por causa disso", explica o executivo, que mantém uma posição "neutra" (igual a média do mercado) em papéis brasileiros.
Embora o Ibovespa já não esteja barato, é possível garimpar papéis com bom potencial de ganhos, avalia o executivo. É o caso dos bancos, especialmente Banco do Brasil e Bradesco, dada a perspectiva de continuidade da expansão do crédito. Pelos padrões internacionais, ressalta ele, o consumidor brasileiro ainda apresenta um nível de endividamento baixo. "O Brasil tem uma classe média crescente, pronta para consumir", ressalta Valensise.
Ele também aponta o setor de saúde como atraente. Muito pulverizado no Brasil, esse segmento, diz o executivo, deve passar por um processo de consolidação. A Dasa, uma das poucas empresas de saúde na bolsa, pode liderar esse movimento. Há também potencial de ganhos para os papéis da concessionária de rodovias CCR e para a petroleira OGX, do bilionário Eike Batista. Há pouca atratividade, na opinião do executivo, em papéis de empresas de energia elétrica, saneamento e siderúrgicas.
Entre os mercados emergentes, a preferência de Valensise recai sobre as bolsas asiáticas, o que inclui escolhas óbvias, como a China, e mercados pouco explorados, caso de Filipinas e Indonésia. Esses países, ressalta ele, têm uma dinâmica de crescimento baseada no consumo interno e, por isso, são pouco afetados pelos humores da economia global. "São históricas que não estão ligadas ao consumo americano, por exemplo", diz.
Já a China ainda se beneficiará do enorme contingente de pessoas que ainda deve migrar do campo para as cidades. Isso significa um potencial enorme de ganhos de produtividade - ou seja, crescimento acelerado sem pressões inflacionárias consistentes. Mais de 50% das exportações do gigante asiático, ressalta Valensise, vão hoje para os mercados emergentes, o que torna o crescimento do país menos atrelado às economias americana e europeia. "Estamos com uma posição 'overweight' (acima da média do mercado) na China", diz.
Embora seja mais otimista com a Ásia, Valensise vê um enorme potencial de ganhos nos mercados emergentes em geral nos próximos dez anos. A razão é simples: o eixo do crescimento mundial está claramente migrando das nações desenvolvidas para os países em desenvolvimento. "Devemos ficar muitos felizes se os Estados Unidos crescerem algo como 2% e a Europa, 1,5%", diz o executivo.
Os mercados emergentes devem ocupar cada vez mais espaço nos índices globais de ações, como o MSCI World. Isso significa que um grande grupo de investidores globais, que seguem esses índices, vão ter de comprar papéis de emergentes. Os fundos de pensão americanos, por exemplo, têm menos de 1% de suas reservas em ações de emergentes. E eles são, ressalta Valensise, os grandes detentores de recursos no mundo. "A questão não é se as pessoas vão comprar ações dos mercados emergentes, mas quando elas vão comprar", afirma ele. "Não há bolha nesses mercados hoje, mas vai haver daqui a 10 anos, quando todos estiverem neles."
Os episódios de aversão ao risco suscitados pela crise da dívida na Europa devem ser vistos como boas oportunidades de compra de ações de emergentes. E a volatilidade deve se manter nos próximos meses, já que há dúvidas sobre a solvência de Portugal e Espanha. Valensise, aliás, acredita que os pacote para salvar Grécia e Irlanda apenas adiam a solução dos problema das dívida soberanas. "Esses países não vão ter receita suficiente para pagar as dívidas", diz ele. "Em algum momento, os credores vão ter de aceitar um desconto no principal da dívida, como aconteceu no caso da Argentina", afirma.

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