O mês de março intensificou o processo de deterioração das contas externas, com recorde de déficit em conta corrente de US$ 12,145 bilhões nos primeiros três meses do ano, o pior resultado nominal da série história iniciada em 1947 para esse período. O reajuste no preço do minério de ferro, no entanto, trouxe um alento para a balança comercial e levou os analistas a uma revisão para baixo de suas projeções para as transações correntes para o fim do ano.
"Com a incorporação do reajuste do preço do minério de ferro, o saldo projetado para a balança comercial de bens passou de US$ 12,1 bilhões para US$ 19,1 bilhões. Com isso, nossa projeção para o déficit em conta corrente foi revista de US$ 48,7 bilhões para US$ 40,1 bilhões", diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores. Ele lembra que o mineral tem um peso de quase 10% das exportações brasileiras.
O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco vai na mesma direção e prevê déficit de US$ 47,2 bilhões (contra US$ 55,4 bilhões na análise do mês passado). "Esperamos intensificação do déficit na conta de serviços e rendas, o que deverá compensar em grande parte a recuperação esperada do saldo comercial, impulsionada, em grande medida, pela maior entrada de recursos por conta do aumento do preço do minério de ferro, que deverá ser contabilizado a partir de maio", diz em relatório.
Em março, o déficit em conta corrente foi de US$ 5,1 bilhões, acima da expectativa do mercado. A surpresa negativa veio de um déficit maior do que o esperado na conta de serviços, que pulou de US$ 2,1 bilhões, em fevereiro, para US$ 3 bilhões em março. Parte dessa alta foi puxada pelo aluguel de equipamentos (US$ 1,26 bilhão).
O Banco Central (que não revisou suas projeções e espera US$ 49 bilhões de déficit em conta corrente), não vê motivos para preocupação com a piora desse indicador. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, esse comportamento "já era esperado" por conta do nível de atividade da economia brasileira mais aquecida do que outros países, o que reduz o saldo da balança comercial.
Além disso, diz, as projeções para os investimentos estrangeiros diretos (US$ 45 bilhões) e em portfólio (US$ 35 bilhões) mais do que cobrem a previsão de déficit, com expectativa de fortes ingressos de recursos a partir de maio e também para os próximos anos. "Houve uma mudança estrutural nas contas externas", diz, já que antes o país tinha de pagar juros de uma dívida externa maior, enquanto agora o déficit é financiado por investimentos.
Essa nova dinâmica, no médio prazo, completa Lopes, leva a uma tendência de melhora do quadro externo, dado que parte importante desse investimento estrangeiro vem sendo feito no setor produtivo exportador, como mineração e agronegócio. A autoridade monetária espera que a partir de 2012 a situação comece a se reverter.
Nem todos no mercado estão assim tão otimistas. "Caminha-se rapidamente para um quadro de crescente deterioração das contas externas onde estaremos mais dependentes da entrada de capitais externos e, na eventual escassez desses, o Bacen será obrigado a utilizar partes das reservas cambiais para prover o mercado em quotas adicionais de divisas", diz relatório da Edgard Pereira & Associados.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário