Com o resultado das contas externas do primeiro trimestre pronto para ser divulgado pelo Banco Central nesta semana, vale registrar algumas observações feitas sobre o tema por Maurício Molan, do Banco Santander. Para começar, ele diz que o entusiasmo em relação ao desempenho da economia brasileira nos últimos anos se manifestou, algumas vezes, por meio da crença de que o país saiu mais forte da crise do que entrou. "Em um aspecto pelo menos isso não é verdade: a dependência de poupança externa ficou maior, resultado, em grande parte, do aumento da despoupança do setor público, reflexo de aumento do déficit total com base predominante em gastos em vez de investimentos", frisa.
Segundo ele, enquanto no fim de 2008 a taxa de investimentos do país estava em 18,7% do Produto Interno Bruto (PIB) e o déficit em transações correntes era de 1,7% do PIB, no fim deste ano veremos essa relação em, respectivamente, 17,7% (1 ponto percentual menor) e 2,3% (0,8 ponto acima). "Ou seja, mais poupança externa para menos investimentos."
Molan ressalta ainda que o contraste existente entre o ritmo de recuperação da economia global, ainda incerto, e o do Brasil, com suspeitas de superaquecimento, já são perceptíveis na piora das contas externas. "Mas o principal fator a introduzir ruído nessa dinâmica, no curto prazo, tende a ser o aumento recente de preços de commodities, particularmente o reajuste do minério de ferro, item mais importante da pauta de exportações", ressalta.
Tal fato, no entender do economista, tende a proporcionar força adicional para os termos de troca (preços de exportações / preços de importações) nos próximos meses, impedindo uma queda mais rápida do saldo da balança comercial, que seria conseqüência de expansão proporcionalmente mais rápida das importações do que dos volumes exportados.
"Considerando que o total exportado em minério de ferro em um ano se aproxima de US$ 14 bilhões, sem contar os cerca de US$ 3 bilhões em produtos relacionados, o impacto do reajuste proposto recentemente (de até 100%) sobre a balança comercial de 2010 deve se aproximar de US$ 12 bilhões, segundo nossas estimativas", afirma. Ou seja, segundo ele, incorporando esse número e atualizando as projeções relacionadas às quantidades, que, por sua vez, também são impactadas pelos preços, a variação esperada para as exportações entre 2009 e 2010 sobe de 6% para 33%.
Por outro lado, destaca Molan, a recente revisão de crescimento do PIB também afeta a dinâmica esperada para as importações, que devem pelas suas contas, crescer aproximadamente 44% neste ano. "Assim, o impacto do aumento dos preços de commodities será, em parte mitigado pela revisão das quantidades importadas decorrente da expansão da demanda doméstica. O resultado final será um saldo projetado de US$ 18,6 bilhões, ante o número anterior de US$ 10,8 bilhões", acrescenta.
O economista vai além: "Além do efeito sobre as importações, o crescimento econômico brasileiro também afeta a demanda por serviços internacionais, não apenas fretes, seguros ou viagens, mas também, e principalmente, o pagamento de dividendos às empresas no exterior, que se beneficiam de maiores lucros e câmbio forte. Portanto, a revisão da projeção para a conta de serviços contribui para compensar o impacto favorável do aumento de commodities".
Sendo assim, Molan afirma que manteve inalterada a sua projeção para o déficit em transações correntes deste ano em US$ 48,7 bilhões, o correspondente a 2,3% do PIB.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
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