Quando Jim O'Neill inventou os Brics, no início da década, ele tinha em vista orientar os futuros investimentos dos clientes da Goldman Sachs e muitos lhe disseram que a inclusão do Brasil, ao lado da China, da Índia e da Rússia, só se justificava porque dava sonoridade à sigla.
Nos anos 80, alguns os chamavam de países "baleia", por seu território, população e complexidade dos problemas internos, cada qual uma categoria à parte, em busca de um modelo próprio. Nos anos 90, quando era moda falar em blocos, discutia-se a possibilidade, para esses países, de integrar um bloco regional ou de seguir seu próprio caminho. O governo Clinton chegou a cunhar a sigla BEM (Big Emerging Markets), que também nos incluía.
Nenhum desses chapéus teve o sucesso da invenção de O'Neill, nem afetou significativamente a imagem desses países ou contribuiu para alterar positivamente sua influência no cenário econômico e financeiro, o que refletia tanto a pouca convergência de interesses mútuos entre os países neles incluídos como a pouca probabilidade de que eles viessem a atuar de forma efetivamente coordenada.
Desse ponto de vista, pouca coisa mudou: a probabilidade de os quatro países atuarem de forma convergente na OMC, no Conselho de Segurança da ONU ou em áreas de conflito como o Oriente Médio ou o Zimbábue é próxima de zero.
No caso da relação bilateral Brasil-China, de um lado o Brasil é crescentemente dependente do mercado chinês e, de outro, começa a depender cada vez mais de seus investimentos, ambos receitas para mais conflito e menos cooperação. Quanto à participação no sistema de poder militar, e do que isso representa em termos de questões vitais ligadas à segurança global, os interesses nacionais dificilmente poderiam convergir com os de três potências nucleares, uma delas a segunda maior em estoques de armas de destruição em massa.
E, no entanto, move-se. A sigla pegou, é hoje uma referência para os ensaios de governança financeira global, como o G20 e, em certo sentido, o FMI (Fundo Monetário Internacional). Além disso, os próprios países estão começando a vestir a carapuça. Isso se deve, a meu ver, a duas razões, entre outras. A primeira é o desempenho inesperado dos Brics durante a crise, especialmente o Brasil, e de países como a Índia e a China, e até mesmo o Brasil, na saída da crise, o que obrigou o G7 a convidá-los à dança.
A segunda é o ganho de credibilidade que o Brasil empresta ao grupo, por nossa trajetória virtuosa nas últimas duas décadas, consolidando a democracia e o Estado de Direito, equilibrando a economia, abrindo o comércio, modernizando as instituições e esforçando-nos para reduzir as desigualdades.
Em suma, o Brasil ganha associando sua imagem à de mercados cada vez mais atraentes, e os Brics associam sua imagem a um país finalmente sério.
Quanto mais os Brics forem apenas uma sigla de vitoriosos e quanto menos quiserem precipitar a disputa por um lugar de proeminência que fatalmente virá a ser o seu, melhor para o Brasil.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
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