quinta-feira, 29 de abril de 2010

Os otimistas estão chegando, pra ficar?

Em uma alusão à música de Jorge Ben Jor "Os alquimistas estão chegando", é possível dizer que os otimistas estão chegando, estão chegando os otimistas. A despeito de toda a deterioração do cenário externo nos últimos dias, há quem acredite que a desvalorização do mercado na realidade não passa de um bom ponto de compra de ações.
A safra de informações negativas continuou ontem. Depois de rebaixar a Grécia e Portugal, ontem foi a vez da Standard & Poor's (S&P) fazer o mesmo com a Espanha. É o terceiro país da Europa a ser rebaixado em 48 horas. Novamente os mercados acusaram o golpe e no Brasil o Índice Bovespa flertou com os 65 mil pontos, entrando numa zona bastante preocupante.
Já a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de manter a taxa de juros entre zero e 0,25% ao ano amainou o pessimismo. Isso porque a autoridade monetária disse que, apesar dos indicadores mostrarem recuperação da economia, manterá os juros baixos por um tempo mais prolongado. Os mercados voltaram a subir e o Ibovespa teve forças para fechar em leve alta de 0,22%, aos 66.655 pontos.
O gestor da Schroders Brasil Marcos De Callis é um dos que acreditam que este pode ser um momento de ir às compras no pregão. "Eu pelo menos estou comprando para colocar na carteira dos fundos", diz ele. Quem acredita que é hora de entrar na bolsa imagina que os problemas com os países europeus não serão suficientes para deflagrar uma nova crise mundial, assim como ocorreu com o setor hipotecário americano de alto risco.
Na visão de De Callis, o rebaixamento desses países não deveria ser surpresa, já que para manter as economias aquecidas durante a última crise os governos tiveram que pisar no acelerador dos gastos, aumentando seus déficits e endividamentos, que em alguns casos já eram bem salgados. "Já não era surpresa para ninguém a fragilidade das contas da Grécia, Portugal, Espanha, além de outros países como Itália e Irlanda; portanto, outros rebaixamentos por parte das agências de classificação de risco podem estar por vir", afirma o gestor.
O otimismo dele com o mercado se baseia na tese de que o crescimento mundial não será afetado enquanto os grandes problemas estiverem concentrados em países considerados "periféricos" como os três que foram rebaixados pela Standard & Poor's. "Se países mais relevantes no cenário mundial como os EUA ou a Alemanha, por exemplo, mostrarem muita fragilidade em suas contas podemos começar a nos preocupar, mas essa não é a situação que temos até agora", explica De Callis. Com esse cenário mundial em recuperação, ele vem comprando para colocar nos fundos principalmente ações de commodities.
E os fundamentos brasileiros endossam ou contradizem o otimismo externo? Endossam, acredita o gestor da Schroders. A expectativa de que o Banco Central será mais leniente com a inflação, subindo mais devagar e menos do que deveria a taxa básica de juros, significa que o crescimento econômico será menos abalado. "O Banco Central deveria ter subido os juros já em janeiro para sinalizar que estava de olho na inflação; ele (o BC) está atrasado qualquer que seja a sua postura com relação aos juros daqui por diante", completa ele.
As ações de bancos estiveram entre as maiores altas do Ibovespa ontem, na expectativa de que os balanços venham bons. O primeiro foi o Bradesco, que reportou ontem um lucro líquido ajustado de R$ 2,147 bilhões no primeiro trimestre, um crescimento de 9,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

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